PREGAÇÃO DA QUARESMA

Cantalamessa: ao ressuscitar, Cristo abriu a fonte da esperança

Na quarta pregação da Quaresma deste ano, pregador da Casa Pontifícia refletiu sobre passagem em que Jesus afirma: “eu sou a ressurreição e a vida”

Da Redação, com Vatican News

Cardeal Raniero Cantalamessa faz a quarta pregação da Quaresma deste ano / Foto: Reprodução Vatican Media

O pregador da Casa Pontifícia, Cardeal Raniero Cantalamessa, fez a sua quarta pregação da Quaresma nesta sexta-feira, 15. Na Sala Paulo VI, ele seguiu com as reflexões sobre cinco das autoproclamações feitas por Jesus e desta vez falou sobre a passagem do Evangelho em que Cristo afirma “eu sou a ressurreição e a vida”.

O cardeal inicia a pregação recordando a ressurreição de Lázaro. Após chegar em Betânia, Jesus afirma para Marta, irmã do defunto, que Lázaro vai ressuscitar. Pensando que Cristo estava consolando-a, a mulher expressa sua certeza na “ressurreição do último dia”. Diante disso, Jesus afirma: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá” (cf. 11,23-26).

Após citar esta passagem, Cantalamessa destaca que, embora Jesus não negue a “ressurreição do último dia” citada por Marta, ele anuncia que “que a ressurreição começa já, desde agora, para quem crê n’Ele”. Trata-se de uma ressurreição real e corporal de Jesus, descrita por São João em seu Evangelho.

“A ressurreição atual não substitui aquela final do corpo”, observa o pregador da Casa Pontifícia, “mas é a sua garantia. Ela não anula e não torna inútil a ressurreição de Cristo do túmulo, mas antes se funda justamente sobre ela. Jesus pode dizer ‘Eu sou a ressurreição’, porque ele é o Ressuscitado”.

Evidências da Ressurreição

São Paulo também escreve sobre a ressurreição de Cristo. Ele indica que, se Jesus não ressuscitou, a fé e a pregação dos cristãos são vãs, o que também tornaria os fiéis falsas testemunhas de Deus (cf. 1Cor 15,14-17).

O próprio Cristo já havia sinalizado a sua ressurreição como sinal por excelência da autenticidade da sua missão. Quando pediram por um sinal, ele relembra a história do profeta Jonas, afirmando que “como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também o Filho do Homem estará três dias e três noites no seio da terra” (cf. Mt 12,39-40).

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Entre outros argumentos, o cardeal cita ainda Santo Agostinho, que escreveu: “A fé dos cristãos é a ressurreição de Cristo. Todos acreditam que Jesus esteja morto, também os malvados o creem, mas nem todos creem que tenha ressuscitado, e não somos cristãos se não cremos nisso”.

A Ressurreição de Jesus inaugurou a esperança

Em relação ao sentido existencial da ressurreição de Jesus, Cantalamessa relembrou São Leão Magno, que afirma haver dois tipos de ressurreição: uma ressurreição do corpo, que acontecerá no último dia, e uma ressurreição do coração, que deve acontecer a cada dia.

Essa “ressurreição do coração”, apontou o pregador da Casa Pontifícia, é o renascimento da esperança. Ele sinalizou que a palavra “esperança” está ausente na pregação de Jesus, mas comentou que a explicação da ausência de frases sobre a esperança no Evangelho é simples: “Cristo devia antes morrer e ressurgir. Ressurgindo, abriu a fonte da esperança; inaugurou o próprio objeto da esperança, que é uma vida com Deus além da morte”.

O cardeal destacou ainda os efeitos produzidos pelo renascimento da esperança na vida espiritual. Como exemplo, citou o episódio em que Pedro e João encontram um coxo pedindo esmolas diante da porta do templo em Jerusalém. Ao olhá-lo, Pedro ordena que ele se levante e ande, e o coxo é curado. Pondo-se de pé, ele adentra o templo louvando o Senhor (cf. At 3,1-9).

“O que é extraordinário na esperança é que a sua presença muda tudo, mesmo quando exteriormente não muda nada”, expressou Cantalamessa. Ele lembrou a comparação da esperança, na carta de São Paulo aos Hebreus, a “uma âncora da alma, segura e firme”. “Segura e firme”, prosseguiu, “porque lançada não à terra, mas no céu, não no tempo, mas na eternidade”.

A esperança faz o homem avançar

Contudo, o pregador da Casa Pontifícia também sugeriu outro símbolo para a esperança: a vela. “Se a âncora é o que dá segurança ao barco e o mantém firme em meio às ondas do mar”, explicou, “a vela é o que o faz mover e avançar. (…) Como a vela, nas mãos de um bom marinheiro, tem condições de aproveitar qualquer vento, de onde quer que sopre, favorável ou desfavorável, para mover o barco na direção desejada, assim faz a esperança”.

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Ele frisou que a esperança auxilia no caminho pessoal de santificação, tornando-se o próprio princípio do progresso espiritual. Ela não se permite acomodar na tibieza, mas propõe tarefas a cumprir. “A esperança descobre sempre que há algo que pode ser feito para melhorar a situação: trabalhar mais, ser mais obedientes, mais humildes, mais mortificados”, complementou.

Esperança em meio à tribulação

A esperança sempre propõe ao homem resistir até o fim e não perder a paciência – o que não é possível pelo esforço humano, indicou o cardeal, mas apenas pela graça de Deus, “que nos vem em auxílio e não nos deixa sós”. Ele observou que a Sagrada Escritura evidencia que a tribulação não tira a esperança, mas, ao contrário, aumenta-a.

“A esperança necessita da tribulação como a chama necessita do vento para se reforçar. As razões de esperança terrenas devem morrer, uma após a outra, para que venha à tona a verdadeira razão inabalável, que é Deus”, declarou Cantalamessa.

A tribulação tira toda “amarra” dos homens, levando-os a esperar só em Deus, reforçou. Desta forma, o indivíduo é conduzido a um estado de perfeição que consiste em esperar quando parece não haver esperança. Exemplo disso, pontuou, é a Virgem Maria, que mesmo diante da cruz não perdeu a esperança.

Por fim, o pregador da Casa Pontifícia concluiu sua fala com a invocação feita por São Paulo em favor dos fiéis de Roma: “o Deus da esperança vos encha de toda alegria e paz em vossa fé. Assim, vossa esperança abundará, pelo poder do Espírito Santo” (cf. Rm 15,13).

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