Padre que é camiliano comenta a missão da ordem religiosa católica fundada em 1590 por São Camilo de Lellis e voltada à assistência espiritual e corporal dos doentes
Mauriceia Silva
Da Redação
Neste sábado, 11, quando a Igreja celebra Nossa Senhora de Lourdes, padroeira dos doentes, é celebrado o Dia Mundial do Enfermo. Para este dia, o Papa Francisco faz um convite à reflexão “sobre a experiência da doença”. Segundo o Pontífice, isto é ainda mais oportuno hoje, aliás necessário, porque, muitas vezes, a cultura da eficiência e do descarte impele a negá-la.
Francisco intitulou a sua mensagem para o XXXI Dia Mundial do Doente como: “Trata bem dele!” A compaixão como exercício sinodal de cura”. No texto, recorda-se a parábola do Bom Samaritano, aquele que, segundo o relato bíblico, não desviou o olhar, mas se aproximou do ferido com compaixão e cuidou daquela pessoa que os outros tinham ignorado.
Acesse
.: Texto completo da mensagem do Papa para o Dia Mundial do Doente 2023
O carisma dos camilianos
A ordem dos Clérigos Regulares Ministros dos Enfermos, também chamados Camilianos, é uma ordem religiosa católica fundada, em 1590, pelo religioso italiano São Camilo de Lellis. O trabalho é voltado à assistência espiritual e corporal dos doentes.
O padre José Wilson Correia da Silva, MI, diretor do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde (ICAPS), afirma que a ordem vive a camilianidade buscando ver na pessoa do doente o próprio Cristo, o que é a primeira dimensão do carisma. “Porém, não basta ver o Cristo no doente, precisamos ser também um Cristo para o doente – segunda dimensão do carisma- e, finalmente, temos que cuidar, assistir o doente com o Cristo que há em mim, terceira dimensão do carisma camiliano.”
“Concretamente, exercemos o nosso carisma nas instituições de saúde e sócio-sanitárias próprias e em domicílio; nos movimentos e associações de doentes; nos organismos nacionais, regionais, diocesanos dedicados à Pastoral da Saúde, em suas dimensões solidária, comunitária e político-institucional; nos espaços de saúde próprios ou de outros de formação dos profissionais da saúde, sócio-sanitários e pastorais.”
Segundo o sacerdote, a parábola do Bom Samaritano indica uma linha precisa de comportamento. Trata-se de um relato que mostra as iniciativas com que se pode refazer uma comunidade a partir de homens e mulheres que assumem como própria a fragilidade dos outros. “Não deixam constituir-se uma sociedade de exclusão, mas fazem-se próximos, levantam e reabilitam o caído, para que o bem seja comum”.
Veja também: Religiosos Camilianos celebram 100 anos de Brasil
Cuidado físico e espiritual dos doentes
No servir e assumir os doentes na globalidade do seu ser, o padre José Wilson afirma que os Camilianos estão prontos para assumir qualquer serviço no mundo da saúde, da enfermidade, do sofrimento e da finitude para a edificação do Reino de Deus e a promoção do homem.
Na missão da ordem, além do cuidado físico com os doentes, há o cuidado espiritual, um diferencial que potencializa a recuperação. “Cuidamos da pessoa enferma, adoecida tendo em vista a sua totalidade. Estamos a serviço da vida e da saúde em todas as suas dimensões (física, biológica, psíquica, social e espiritual). O camiliano ou a comunidade terapêutica camiliana integra no prontuário, no plano terapêutico do paciente, o atendimento espiritual, ou seja, leva em consideração os “gemidos” espirituais e corporais dos doentes.”
Acompanhar o doente sempre: proximidade
Na mensagem deste ano para o Dia Mundial dos Doentes, o Papa Francisco diz que a doença faz parte da experiência humana, mas “pode tornar-se desumana se for vivida no isolamento e no abandono.”
As palavras do Santo Padre vão ao encontro do carisma e espiritualidade Camilianos, diz padre Wilson. O sacerdote recorda que São Camilo recomendava que seus religiosos se fizessem presentes em todas as fases, em todos os momentos vivenciados pelos doentes na travessia de sua enfermidade e finitude.
“Uma de suas ordens e orientações era que assistíssemos os doentes, principalmente aqueles que estivessem no fim ou perto da morte, tomando todo o cuidado para que um sacerdote, ou mesmo um leigo, os assistissem ininterruptamente e lhes falassem de coisas espirituais para o bem de sua alma, deixando-os apenas em caso de necessidade.”
A pandemia foi um período desafiador para toda a área da saúde, o que também revelou um grande e novo potencial em meio à missão dos camilianos. “A pandemia gerada pela Covid-19 revelou muito bem não somente a nossa fragilidade, vulnerabilidade e o nosso potencial de solidariedade, como também nos revelou necessitados da presença terapêutica, empática e consoladora do outro (família, filhos, amigos, etc).”
Cuidado dos doentes, um chamado a todos
Francisco também escreveu em sua mensagem que o Dia Mundial do Doente não convida apenas à oração e à proximidade com os que sofrem. Busca-se, ao mesmo tempo, sensibilizar para uma nova forma de avançar juntos. Com base no que o Papa fala, os Camilianos acreditam que todos têm que estar atentos a Jesus que está no enfermo.
“A parábola do Bom Samaritano sugere a prática dos cuidados organizados para opor-se ao mal, ou seja, às situações de morte, de enfermidade, de injustiça, de extrema pobreza, dentre outras. Precisamos criar “redes de cuidados”, envolver a todos na arte de cuidar uns dos outros, de servir, assistir bem as pessoas em situações de vulnerabilidade e fragilidade.”