Primeira sessão da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos começa nesta quarta-feira, 4, com uma missa presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro
Julia Beck
Da redação
O arcebispo de Brasília (DF), Cardeal Paulo Cezar Costa, e o bispo de Camaçari (BA), Dom Dirceu de Oliveira Medeiros, fazem parte do grupo de brasileiros que já estão em Roma aguardando para participar do início da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que tem como tema a sinodalidade.
A primeira sessão deste Sínodo – que terá duas sessões (a que acontece agora e a outra que será realizada no próximo ano) – começa nesta quarta-feira, 4, com uma missa presidida pelo Papa Francisco, na Basílica de São Pedro, às 9h (hora local, 4h em Brasília). A conclusão desta primeira reunião será no dia 29 deste mês.
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Ao comentar sobre sua participação no evento, Cardeal Paulo Cezar afirma ser uma grande responsabilidade. “Estamos representando a Igreja no Brasil”, aponta. Dom Dirceu reforça a “inegável riqueza da Igreja no Brasil”:
“Além de sermos um grande país católico, temos uma rica tradição pastoral. Minha primeira disposição, juntamente com os demais delegados do Brasil, bispos, padres e leigas, é procurar ser fiel ao que marcou o processo até aqui, no entanto, sem desconsiderar que o nosso parâmetro é o Instrumentum Laboris, fruto maduro deste processo”.
Em segundo lugar, o bispo de Camaçari manifesta seu desejo de escutar e perceber a pluralidade que marca a vida da Igreja espalhada pelo mundo inteiro, além das angústias e alegrias que marcam as realidades locais e continentais. O arcebispo de Brasília acrescenta: “Espero que seja um momento de profunda comunhão, discernimento e escuta do Espírito Santo”.
O que é um Sínodo?
Dom Dirceu recorda que o Sínodo dos Bispos é uma instituição permanente, desejada pelo Papa Paulo VI em 15 de setembro de 1965, em resposta ao desejo dos padres do Concílio Vaticano II de manter vivo o espírito positivo gerado pela experiência.
Em outras palavras, o bispo sublinha que é correto dizer que o Sínodo é uma espécie de Conselho de Bispos para a Igreja, obviamente sob a autoridade do Papa e para auxiliá-lo em sua solicitude na missão de governar a Igreja. Ele reforça, então, a importância de também compreender a raiz da palavra sínodo: “caminhar juntos”.
Caminho Sinodal
Na abertura do Sínodo sobre a sinodalidade, que aconteceu em outubro de 2021, o Papa Francisco citou três palavras-chave para definir este evento: comunhão, participação e missão. Sobre elas, Dom Dirceu frisa que estão relacionadas e remetem à experiência eclesial.
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“O Sínodo é sobre a Igreja, sua identidade e missão no mundo. A Igreja é chamada a viver a comunhão que brota da Santíssima Trindade em vista da missão, afinal, parafraseando o mês missionário de 2022, a Igreja é missão. Comunhão e Missão, termos mais densos teologicamente, se relacionam profundamente, se comunicam e se alimentam mutuamente”, ressalta.
O bispo de Camaçari cita então o Instrumentum Laboris, que afirma que “a comunhão e a missão correm o risco de permanecer termos meio abstratos, se não se cultiva uma práxis eclesial que exprima em ações concretas a Sinodalidade”. A participação, prossegue ele, se coloca em relação aos outros dois termos teológicos como uma realidade que “acrescenta uma densidade antropológica” ao processo sinodal.
Sínodo em três fases
Pela primeira vez, o Sínodo foi descentralizado e articulado em três fases: diocesana, continental e universal. A fase diocesana foi marcada pela consulta ao Povo de Deus. A Secretaria Geral do Sínodo enviou às igrejas particulares, instituições e organismos um documento preparatório, acompanhado por um Questionário e por um Vademecum.
O documento foi disponibilizado de forma on-line para que os fiéis respondessem aos questionamentos. A partir da consulta, uma reunião pré-sinodal foi realizada em cada diocese e arquidiocese. Elas enviaram, então, suas contribuições à Conferências Episcopais, que produziram uma síntese encaminhada à Secretaria Geral do Sínodo.
Na fase continental, houve um diálogo sobre o texto do primeiro Instrumentum Laboris, um ato de discernimento à luz das culturas específicas de cada continente. Um documento final foi redigido e entregue à Secretaria Geral do Sínodo.
A Secretaria Geral do Sínodo fez, então, um segundo Instrumentum Laboris (Documento de Trabalho), que foi encaminhado aos participantes da 16º Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. É então que acontece a fase universal, agora em Roma.
Escuta e discernimento
O Cardeal Paulo Cezar explica que este é um momento importante e fundamental, em que o Papa quer refletir sobre a sinodalidade na vida da Igreja, sobre o “caminhar juntos” para a evangelização, para a missão. “O Papa Francisco aponta na direção de uma Igreja evangelizadora e missionária. E o Sínodo quer isso. O Pontífice quer que caminhemos juntos para a evangelização e missão”, complementa.
O purpurado recorda que esta primeira sessão terá a participação de bispos e fiéis convidados pelo Papa. Esta é uma novidade que está prevista na constituição do Sínodo, ou seja, o Santo Padre pode convidar outras pessoas. “Ele quer que a sinodalidade se expresse aí também. A sinodalidade implica no ouvir, discernir”, pontua.
“O Papa quer que ouçamos, que é o que já fizemos, e agora é o momento do discernimento”, acrescenta. Cardeal Paulo Cezar afirma que o discernimento implica em ouvir o que o Espírito Santo quer para a Igreja.
O desejo de escuta do Papa é confirmado por Dom Dirceu. Porém, ele esclarece que o Santo Padre deseja uma escuta qualificada, que não se confunda com o simples ouvir, que é um ato meramente físico. “Escutar é tentar compreender o que se passa no coração do outro. Desse modo, primeiro é preciso escutar o Espírito, o que ele diz ‘às Igrejas’, mas também escutar as Escrituras”.
Por fim, o bispo de Camaçari frisa que o pedido do Pontífice é para que a Igreja escute a todos. “Em um mundo fragmentado e polarizado, a atitude da escuta é o primeiro passo, e é capaz de curar e construir comunhão”. Nesse sentido, ele sublinha que a escuta ampla acrescentou uma nova dimensão ao Sínodo, gerando uma nova consciência de corresponsabilidade.
Primeira sessão
Uma Vigília Ecumênica de Oração e um retiro espiritual de três dias com os participantes do Sínodo foram eventos que antecederam esta primeira sessão – reforçando o caráter espiritual do evento, comenta Dom Dirceu.
Nesta etapa universal, o bispo de Camaçari conta que o processo terá cinco módulos, sendo o último deles de caráter conclusivo. “Em cada módulo alternaremos os chamados círculos menores, para aprofundamento das questões, com as congregações gerais, ou seja, as plenárias”.
Neste caminho sinodal, Dom Dirceu destaca a riqueza do método de trabalho já utilizado na etapa continental e no encontro no Celam (Conselho Latino Americano), realizado em Bogotá, na Colômbia, no final de agosto. “Chamado de Diálogo no Espírito ou Conversação Espiritual, revelou-se uma ajuda preciosa no caminho sinodal”, acrescenta.