Em seu segundo dia reunidos para a Assembleia Geral, os bispos apresentaram os pontos de vista relacionados ao trabalho social da Igreja no Brasil
Thiago Coutinho
Da redação
Nesta terça-feira, 13, os bispos se reuniram em caráter virtual para o segundo dia da 58ª edição da Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (AG CNBB). O tema apresentado pelo episcopado brasileiro foi o trabalho social que a Igreja vem realizando pelo país — especialmente nestes dias de pandemia que assolam o Brasil.
A reunião virtual foi mais uma vez comandada por Joaquim Mol, bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB. Dom Francisco Lima Soares, bispo de Carolina, no Maranhão, e presidente da Comissão de Análise de Conjuntura Social; dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo, no Maranhão, e presidente da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora e, por fim, Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo de Itacoatiara, no Amazonas, e membro da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora.
Uma economia inclusiva
Dom Francisco Lima Soares fez severas críticas ao atual momento econômico vivido pelo país. Para Dom Francisco, a crise econômica está deixando a população que vive à margem da sociedade à mercê da pobreza e de necessidades básicas.
“Países como o Brasil, que poderiam estar melhores, sofrem com a inflação”, advertiu o bispo. “Ainda temos o problema político. Mesmo o Reino Unido, com a saída da União Europeia, mantém-se mais unido que o Brasil. E isso é preocupante, a população está morrendo. E ainda não temos uma alternativa como saída. Não apontamos isso tudo como medo, mas é uma realidade. Colocamos que estes são problemas que nós, enquanto Igreja, devemos tomar posição”, acrescentou.
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Dom José Valdeci Santos Mendes refletiu acerca do trabalho social e político no país. O bispo ressaltou a realização da 6ª Semana Social Brasileira, que pretende ser uma ferramenta de mobilização aos mais necessitados.
“A democracia que queremos refletir é participativa, em que a pessoa tem voz e vez”, refletiu Dom José. “Em que a economia aplica experiências que estão dando certo. Neste sentido, trazemos como objetivo articular Igreja e pessoas de boa vontade que se envolvam nos processos sociopolíticos do país. Que se alarga por toda a sociedade e que traga caminhos concretos. Organizaremos mutirões em âmbitos nacionais e locais. Não é um evento, mas um grande acontecimento que se desdobra em processos. É um objetivo reconhecer e valorizar a luta do povo e grupos organizados, uma parceria com movimentos sociais que lutam por uma sociedade mais justa”, ponderou.
Amazônia: um terra em perigo
Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo de Itacoatiara, no Amazonas, e também membro da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora, deu início à sua fala citando o Papa Francisco, que no livro “Terra Futura, Diálogos com o Papa Francisco sobre ecologia integral” criticou o modelo econômico contemporâneo sobre o qual o mundo se baseia.
“A humanidade é pisoteada por esse vírus e por tantos outros vírus que nós ajudamos a crescer. Esses vírus injustos: uma economia de mercado selvagem, uma injustiça social violenta onde as pessoas morrem como animais e vivem, também, por muitas vezes, como animais”, disse o Santo Padre.
Dom José apontou que a atual crise sanitária vivida no Brasil é um reflexo deste pensamento do Sucessor de Pedro. “Nós, enquanto Igreja, temos feito o que pudemos. A caridade agora é o verbo e a ação principal. Não podemos deixar nossa consciência anestesiada e indiferente ao que o nosso povo está vivendo e passando”, ponderou.
O religioso pediu atenção especial aos sofrimentos vividos pelos povos indígenas.
“Os povos indígenas, na Amazônia e em outros lugares do Brasil, sofreram uma pressão grande pra que tivessem suas terras invadidas. A pandemia, infelizmente, não freou estas ações maléficas que prejudicam nossa Casa Comum. Precisamos falar sobre isso, divulgar o máximo possível.”
A 58ª AG CNBB será realizada até sexta-feira, 16. O episcopado brasileiro ainda preparou uma carta que será entregue ao Papa — ato realizado em outras edições da AG CNBB.