Em entrevista, Dom Zanoni destaca porque Igreja Católica se empenha no diálogo ecumênico e o significado da visita do Papa a Genebra, na Suíça
Kelen Galvan
Da redação
“Ser cristão é ser ecumênico”, afirma o membro da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso da CNBB, Dom Zanoni Demettino Castro. O arcebispo de Feira de Santana (BA) explica que esse é o principal motivo que leva a Igreja Católica a se empenhar no diálogo ecumênico.
Segundo ele, a viagem do Papa Francisco a Genebra, na Suíça, nesta quinta-feira, 21, é um gesto concreto de reconhecimento e abertura ao diálogo ecumênico.
Essa é uma marca do Pontificado de Francisco, que em diversas oportunidades mostrou seu desejo de promover a unidade entre os cristãos. Dentre os encontros marcantes, estão a retomada do diálogo com a Igreja ortodoxa russa, após 962 anos do cisma entre as duas igrejas. O evento histórico com o patriarca Kirill ocorreu durante a viagem de Francisco a Cuba, em fevereiro de 2016.
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Em outros encontros marcantes com líderes ortodoxos, o Papa Francisco assinou declarações conjuntas, uma em 2016, com o Papa copto ortodoxo Tawadros II, e, antes disso, em 2014, com o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I.
O Pontífice também mantém um diálogo crescente com os protestantes. Um exemplo foi sua viagem à Suécia, por ocasião dos 500 anos da Reforma, culminando na declaração conjunta com a Igreja Luterana. Outro exemplo é a declaração comum com a Igreja Anglicana.
Para Dom Zanoni, a viagem do Papa a Genebra é um passo significativo na caminhada ecumênica. Em entrevista ao noticias.cancaonova.com, o bispo fala sobre o significado desta viagem do Santo Padre e o empenho da Igreja Católica nesta questão.
Leia, abaixo, na íntegra:
noticias.cancaonova: Papa irá a Genebra, na Suíça, por ocasião do aniversário de 70 anos do Conselho Ecumênico de Igrejas. Qual o significado da presença do Santo Padre, como católico, nesta celebração?
Dom Zanoni: O Papa Francisco dá um passo significativo na caminhada ecumênica. Sem afastar-se da sua identidade católica, com seriedade e respeito, trata os membros do Conselho Ecumênico de Igrejas como irmãos, cristãos, membros da verdadeira Igreja. Essa postura é um gesto concreto de reconhecimento e abertura ao diálogo.
noticias.cancaonova: O que leva a igreja a se empenhar no diálogo ecumênico ao longo de todos esses anos?
Dom Zanoni: É a sua identidade. Ser cristão é ser ecumênico. A Igreja compreende que para um melhor serviço ao mundo, tendo presentes os problemas da fé dos crentes, as tarefas missionárias da Igreja, não deve se afastar desse diálogo, nem tão pouco negligenciar as questões fundamentais da humanidade, como a justiça, a paz e a liberdade, realidades só possíveis num clima de diálogo e abertura.
noticias.cancaonova: Há muitos anos a Igreja investe no diálogo ecumênico, quais os avanços já conquistados? Qual a meta, onde se pretende chegar, neste diálogo?
Dom Zanoni: Depois de cinco séculos de conflitos, de troca de acusações, de excomunhões, de guerras e divisões, somos chamados a um novo momento. Há mais de cinquenta anos o entendimento entre católicos e Igrejas Protestantes vêm crescendo, num constante e frutuoso diálogo ecumênico. Diferenças são superadas, entendimentos aprofundados e a confiança cada vez mais fortalecida.
Pequenas experiências vão se tornando realidade. São ações comuns em defesa dos pobres e necessitados. Lutas travadas juntas são realidades cada dia mais constantes. Já não somos os mesmos de antes. Não somos indiferentes uns aos outros. Nos conhecemos bastante.
Não buscamos a uniformidade, mas reconhecendo a riqueza das culturas e a beleza da pluralidade, buscamos a unidade. “Que todos sejam um.”
noticias.cancaonova: como a Igreja no Brasil vê esse encontro ecumênico em Genebra?
Dom Zanoni: É, sem dúvida, um acontecimento histórico, um verdadeiro Kairós, um ponto alto nesta longa caminhada, capaz de mudar a história do ecumenismo no mundo, tão sonhado pelo Papa Bom, o Santo São João XXIII, que dizia que era necessário buscar primeiro o que nos une e não aquilo que nos separa.