21 de junho

Após JPII, Papa Francisco visita Suíça em peregrinação ecumênica

Francisco repete gesto de João Paulo II, que em 1984 visitou o Conselho Ecumênico para as Igrejas na Suíça

Julia Beck
Da redação

Papa São João Paulo II e Papa Francisco / Montagem sobre fotos de: Arquivo CN

“É uma visita ecumênica, então para nós é muito educativa a postura do Papa Francisco de vir a Genebra e fazer parte desta celebração dos 70 anos do Conselho Ecumênico para as Igrejas. Então isso para nós é motivo de alegria, pois nos ensina como devemos nos comportar diante de outras realidades religiosas”. A frase é do missionário Rafael de Araujo Moura, que é o responsável pela casa de missão da Comunidade Shalom em Lugano, na Suíça, há cinco anos. O Pontífice irá visitar a Suiça nesta quinta-feira, 21.

Segundo Moura, a Suíça já se mostra preparada e organizada para receber o Papa desde a sua chegada no aeroporto até a condução aos compromissos marcados no país. “Estamos esperando para ouvirmos, como filhos e também para vivermos este momento histórico”, afirma.

Para o missionário, além da participação no Conselho Ecumênico para as Igrejas, outro ponto central da visita de Francisco será a Santa Missa com os fiéis suíços, celebração solicitada pela Conferência Nacional dos Bispos da Suíça e atendida com prontidão pelo Vaticano.

A Suíça não recebe um Papa há 14 anos. Com três visitas ao país durante o seu papado, São João Paulo II é o único líder da Igreja Católica a ter realizado, até o momento, viagens apostólicas a Suíça. Datadas de 1982, 1984 e 2004, as viagens tiveram motivações distintas, mas apenas uma delas une João Paulo II a Francisco, o ecumenismo. Em 1984, João Paulo II foi convidado para participar do Conselho Ecumênico das Igrejas, assim como Francisco, em 2018.

Busca pela unidade

Durante sua participação em 1984, do Conselho Ecumênico das Igrejas, João Paulo II declarou sua gratidão ao encontro e manifestou que a busca pela unidade era uma das marcas de seu papado. “Desde o início do meu ministério de Bispo de Roma, insisti que o compromisso da Igreja Católica no movimento ecumênico era irreversível e que a busca da unidade é uma de minhas prioridades pastorais”, afirmou naquele ano.

O evento foi uma oportunidade do Papa expor que, mesmo diante de um passado de memórias dolorosas, separações dramáticas e muitas polêmicas, no curso da história, as religiões permaneceram com pontos em comum, motivo que as levou a uma redescoberta da comunhão. O Decreto sobre o Ecumenismo do Concílio Vaticano II permeou as falas de João Paulo II que recordou seu antecessor, Paulo VI, como importante influenciador da unidade das Igrejas do Oriente e do Ocidente.

“O desejo de ‘seguir a Cristo’ em seu amor pelos necessitados nos leva a uma ação comum. Esta comunhão ao serviço do Evangelho, por mais temporário que seja, nos permite vislumbrar o que será, a nossa total e perfeita comunhão na fé, na caridade e na Eucaristia. Não é, portanto, um encontro meramente acidental, inspirado apenas por piedade diante da miséria ou reação à injustiça, mas, ao invés disso, pertence à nossa jornada rumo à unidade”, comentou João Paulo em seu discurso no dia 12 de junho de 1984 ao Conselho Ecumênico das Igrejas.

Papa Francisco, assim como São João Paulo II, traz em seu pontificado a marca do ecumenismo. Em constante diálogo, o Pontífice já participou de encontros inter-religiosos, dedicou reflexões em várias Audiências Gerais sobre o tema, além de discursar sobre o assunto durante viagens apostólicas.

“Não cansamos de pedir juntos e insistentemente ao Senhor o dom da unidade”, “Que nos sintamos, todos os dias, chamados a dar ao mundo, como Jesus pediu, o testemunho do amor e da unidade entre nós”, são algumas das frases de Francisco sobre o ecumenismo.

Responsável pela casa de missão da Comunidade Shalom em Lugano, na Suíça, Rafael Moura/ Foto: Arquivo Pessoal – Rafael Moura

No ano passado, com a proximidade da comemoração dos 500 anos da Reforma Protestante, o Santo Padre agradeceu aos luteranos pelo progresso no diálogo ecumênico. “Agradeçamos ao Senhor pelo grande dom de conseguirmos viver este ano como verdadeiros irmãos, não mais como rivais, depois de demasiados séculos de desconfiança e conflito. (…) No espírito do Evangelho, prossigamos agora no caminho da caridade e humilde que leva à superação das divisões e à cura das feridas”, suscitou o Pontífice em outubro de 2017.

Para Moura, as postura do Santo Padre diante das questões religiosas já são inspirações para a missão da comunidade estabelecida na Suíça. Diante dos desafios enfrentados pelos missionários no diálogo inter-religioso, Moura afirma: “A visita do Papa Francisco na Suíça, tendo como premissa esse cunho ecumênico, nos reforça e nos anima na busca para ter ainda mais este diálogo com o diferente, para que possamos crescer juntos e construir unidade em meio à diferença”.

As outras visitas apostólicas a Suíça

Na primeira visita oficial do Papa João Paulo II a Suíça, o Pontífice participou de eventos ligados a classe laboral, falando aos participantes da 68ª Sessão da Conferência Internacional do Trabalho, delegados dos trabalhadores, representantes dos empresários, delegados dos Governos e funcionários da Organização Internacional do Trabalho.

A visita em 1982 foi também uma oportunidade de São João Paulo II encontrar-se com representantes das Organizações Internacionais Católicas (OIC) e ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Aos membros da OIC, o Pontífice suscitou na época: “Sei tudo o que fazem os responsáveis desta organização para dar a parte justa ao acolhimento, ao culto e à educação da fé. Sei que muitas pessoas de meios internacionais se encontram aqui à vontade para alcançar o conforto espiritual que procuram”.

Na última vez que retornou a Suíça, João Paulo II encontrou-se com o Presidente da Confederação Helvética no Aeroporto Militar de Payerne, com a Associação dos ex-Guardas Suíços na Residência Viktoriaheim e com os jovens católicos da Suíça no “Palácio de Gelo”. Conhecido como o “Papa da Juventude”, São João Paulo II exortou, em 2004, os jovens suíços: “A Igreja tem necessidade das vossas energias, do vosso entusiasmo, dos vossos ideais juvenis, para fazer com que o Evangelho permeie o tecido da sociedade e suscite uma civilização de justiça autêntica e de amor sem discriminações. Hoje, mais do que nunca, num mundo muitas vezes desprovido de luz e sem a coragem dos ideais nobres, não é a hora de te envergonhares do Evangelho. Pelo contrário, chegou o momento de o anunciares”.

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