Papa Francisco celebrou a Santa Missa deste domingo na Praça Knyaz Alexandar I, em Sófia, na Bulgária
Denise Claro
Da redação
O Papa Francisco celebrou, na tarde deste domingo, 5, a Santa Missa na Praça Knyaz Alexandar I, em Sófia, na Bulgária. A celebração teve início às 16h30 (10h30 em Brasília).
Logo no início da homilia, Francisco saudou os presentes, citando a ‘maravilhosa saudação’ feita pelos cristãos no país, que trocam entre si a alegria do Ressuscitado, no tempo pascal.
O Pontífice lembrou que o Evangelho do dia fala deste ‘contágio’ que deve acontecer, da alegria, que lembra aos cristãos as três realidades que marcam suas vidas: “Deus chama, Deus surpreende, Deus ama.”
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Deus chama
Jesus chamou Pedro, convidando-o a deixar a profissão de pescador de peixes para se tornar pescador de homens. Após a morte de seu mestre, Pedro volta à vida antiga: ‘vou pescar’, influenciando os outros discípulos.
“Parece que dão um passo atrás; Pedro retoma as redes a que renunciara por Jesus. O peso do sofrimento, da decepção e até da traição tornara-se uma pedra difícil de remover no coração dos discípulos; sentiam-se ainda feridos sob o peso da amargura e da culpa, e a boa nova da Ressurreição não ganhara raízes no seu coração. O Senhor sabe como é forte em nós a tentação de voltar às coisas do passado. Na Bíblia, as redes de Pedro – como as cebolas do Egito – são símbolo da tentação da nostalgia do passado, de pretender de volta algo daquilo que se quisera deixar. Perante as experiências de fracasso, de amargura e até do fato de as coisas não resultarem como se esperava, aparece sempre uma sutil e perigosa tentação que convida ao desânimo, a desistir. É a psicologia do sepulcro que tinge tudo de resignação, fazendo-nos apegar a uma tristeza adocicada que corrói, como a traça, toda a esperança. Assim se consolida a maior ameaça que se pode enraizar numa comunidade: o pragmatismo cinzento da vida, na qual aparentemente tudo procede dentro da normalidade, mas na realidade a fé vai-se apagando e degenerando na mesquinhez.”
Francisco ressalta que é precisamente neste momento de fracasso, que chega Jesus.
“Recomeça do princípio, com paciência sai ao seu encontro e diz-lhe: «Simão…» (Jo 21, 15). Era o nome da primeira chamada. O Senhor não espera situações ou estados de ânimo ideais, cria-os. Não espera encontrar-Se com pessoas sem problemas, sem decepções, pecados ou limitações. Ele mesmo enfrentou o pecado e a decepção, para ir ao encontro de cada vivente e convidá-lo a caminhar.”
O Papa lembrou que Deus não Se cansa de chamar. É a força do Amor que subverte todas as previsões e sabe recomeçar. Em Jesus, Deus sempre procura dar uma possibilidade. E assim procede também com seu povo. O chama a cada dia para reviver a história de amor com Ele, para voltar a fundar na novidade que é Ele.
“Todas as manhãs, procura-nos lá onde estamos e convida ‘para nos levantarmos, ressuscitarmos à sua Palavra, olharmos para o alto e crermos que somos feitos para o Céu, não para a terra; para as alturas da vida, não para as torpezas da morte’ e convida-nos a não buscar ‘o Vivente entre os mortos’ (Francisco, Homilia na Vigília Pascal, 20 de abril de 2019).”
Deus surpreende
Deus surpreende. É o Senhor das surpresas que convida não só a surpreender-se, mas também a realizar coisas surpreendentes. O Senhor chama e, encontrando os discípulos com as redes vazias, propõe-lhes algo de insólito: pescar de dia, o que é bastante estranho naquele lago. Devolve-lhes confiança, colocando-os em movimento e impelindo-os de novo a arriscar, a não dar nada e, especialmente, ninguém por perdido. É o Senhor da surpresa que rompe os fechamentos paralisadores, restituindo a audácia capaz de superar a suspeita, a desconfiança e o medo que se esconde por trás do ‘sempre se fez assim’.
“Deus surpreende, quando chama e convida a lançarmos, já não as redes, mas a nós mesmos ao largo na história e a olhar a vida, a olhar os outros e também a nós mesmos com os seus próprios olhos que, ‘no pecado, vê filhos carecidos de ser levantados; na morte, irmãos carecidos de ressuscitar; na desolação, corações carecidos de consolação. Por isso, não temas! O Senhor ama esta tua vida, mesmo quando tens medo de a olhar de frente e tomar a sério’, disse o Papa
Deus ama
O Papa reforçou que a terceira certeza do evangelho é esta: Deus ama. O Deus que chama, que surpreende, o faz porque ama. O amor é a sua linguagem.
Por isso, pede a Pedro – e a todos – para sintonizar-se com a mesma linguagem: ‘Tu me amas?’ Pedro acolhe o convite e, depois de tanto tempo passado com Jesus, compreende que amar significa deixar de estar no centro. Agora já não começa de si mesmo, mas de Jesus: ‘Tu sabes tudo…’ (Jo 21, 17) – responde ele. Reconhece-se frágil, compreende que, só com as suas forças, não pode prosseguir. E baseia-se no Senhor, na força do seu amor, até ao fim.
“Esta é a nossa força, que somos convidados a renovar todos os dias: o Senhor ama-nos. Ser cristão é uma chamada a ter confiança que o Amor de Deus é maior do que qualquer limite ou pecado. Um dos grandes desgostos e obstáculos, que hoje sentimos, situa-se não tanto ao nível da compreensão de que Deus é amor, mas no fato de termos chegado a anunciá-Lo e testemunhá-Lo duma maneira tal, que, para muitos, este não é o seu nome. Mas Deus é amor, que ama, dá-Se, chama e surpreende.”
Terra de Santos
Francisco afirmou que Deus é capaz de fazer da vida de cada filho, uma obra de arte. Lembrou que a Bulgária é uma terra abençoada, de homens que, oferecendo a vida, foram sinais vivos do Senhor, superando corajosamente a apatia e dando uma resposta cristã às preocupações que se lhes apresentavam.
“Hoje somos convidados a contemplar e descobrir aquilo que o Senhor fez no passado, para nos lançarmos com Ele rumo ao futuro, sabendo que sempre, tanto nos êxitos como nos fracassos, voltará a chamar-nos convidando-nos a lançar as redes. (…) Enamorados por Cristo, sede testemunhas vivas do Evangelho em todos os cantos desta cidade. Não tenhais medo de ser os santos de que esta terra precisa; uma santidade, que não vos tirará forças, nem vida nem alegria; muito pelo contrário, porque chegareis a ser, vós e os filhos desta terra, aquilo que o Pai sonhou quando vos criou.”, finalizou o Pontífice.