Encontro de Francisco com aproximadamente 500 pobres em Assis aconteceu nesta sexta-feira, 12; Neste domingo, 14, é celebrado o Dia Mundial dos Pobres
Julia Beck
Da redação
Seis pessoas pobres (dois franceses, um polonês, um espanhol, dois italianos) deram testemunho de suas vidas ao Papa Francisco na manhã desta sexta-feira, 12. O encontro, que contou com a presença de aproximadamente 500 pessoas em situação de vulnerabilidade de diferentes partes da Europa, aconteceu na Basílica de Santa Maria dos Anjos, em Assis.
O Santo Padre agradeceu as aproximadamente 500 pessoas que estavam presentes por aceitarem seu convite para este momento. O encontro foi de preparação para a quinta edição do Dia Mundial dos Pobres. A data foi instituída por Francisco e programada para domingo, 14. Em seu discurso, o Santo Padre frisou que a ideia de dedicar um dia aos menos favorecidos surgiu dos pobres e cresceu.
O momento, escolhido para ser vivido em Assis, tem uma explicação. Segundo o Papa, a cidade não é como qualquer outra, ela tem impressa o rosto de São Francisco. “Nessas ruas, este santo viveu sua juventude inquieta, o chamado a viver o Evangelho. Sua santidade nos faz estremecer, parece impossível imitá-lo. Sentimo-nos atraídos por essa simplicidade de coração e vida, é a própria atração de Cristo no Evangelho”, disse.
Providência de Deus
O Pontífice recordou então uma história que expressa a personalidade de São Francisco. “Ele e um frei partiram para a França, mas não haviam levado provisões. Em certo momento tiveram que pedir caridade. Francisco seguiu um caminho e o frei outro. Francisco era pequeno em estatura e aqueles que não o conheciam o consideravam um vagabundo. Enquanto que o outro frei era um homem grande e bonito”, relatou.
De acordo com o Santo Padre, São Francisco mal conseguiu recolher uns pedaços de pão duro e estragado. O outro frei recolheu uns bons pedaços de pão. Quando os dois se encontraram, o Papa afirmou que ambos sentaram no chão e colocaram o que haviam recolhido em uma pedra.
“Ao ver os pedaços de pão recolhidos pelo frade, Francisco disse: ‘Frei, nós não somos dignos desse grande tesouro’. O frade espantado disse: ‘Padre, como podemos falar de tesouro quando há tanta pobreza e até as coisas necessárias estão em falta’. Francisco respondeu: ‘É precisamente isso que considero um grande tesouro. Não é nada, mas o que temos nos foi dado pela providência, que nos deu esse pão’”.
O ensinamento que São Francisco deseja passar para a humanidade, apontou o Pontífice, é de saber se contentar com o pouco.
Restaurar pessoas
Ao falar sobre a Igreja em que acontecia seu encontro com os pobres, a Porciúncula, o Santo Padre sublinhou que São Francisco pensou em restaurar o local depois que Jesus pediu a ele para “restaurar a Sua casa”. “Ele nunca teria pensado que o Senhor pediu para renovar não uma Igreja de pedra, mas de pessoas, de homens e mulheres que são as pedras vivas da Igreja”, frisou.
O Papa afirmou que é preciso aprender a partir do que São Francisco fez. O santo gostava de passar um tempo naquela Igreja rezando. Ele também ia até o local para ficar em silêncio e escutar a voz do Senhor, o que Deus queria dele. Segundo o Pontífice, também hoje é preciso viver isso. “Queremos que o Senhora ouça o nosso grito e venha ao nosso auxílio”.
Na Porciúncula, o Santo Padre lembrou que São Francisco acolheu Santa Clara, os primeiros frades e os pobres. O santo os recebia como irmãos e partilhava tudo com eles. Tal atitude, destacou o Papa, é evangélica e todos precisam tomar nota: a acolhida.
Acolhida
Acolher, explicou o Papa, é as portas da casa e do coração para aqueles que batem à porta, para que possam se sentir à vontade e sem medo. Francisco criticou a rejeição e a indiferença, além de citar Madre Teresa de Calcutá que também fez da sua vida um serviço.
O Pontífice sublinhou que é tempo de abrir os olhos para o estado de desigualdade que vivem tantas famílias. “É tempo de arregaçar as mangas para restituir a dignidade através da formação de empregos. É tempo de se escandalizar diante da realidade de crianças famintas, escravizadas (…). É tempo de cessar a violência contra as mulheres, para que sejam valorizadas e não tratadas como mercadoria. É tempo de se romper o círculo da indiferença para redescobrir o encontro e o diálogo”, alertou.
O tempo também é de encontro, avaliou Francisco. “Se homens e mulheres não aprenderem a se encontrar, iremos na direção de um fim muito triste”.
Testemunhos
O Santo Padre agradeceu os testemunhos que ouviu e afirmou que os pobres demonstraram coragem e sinceridade. “Mostraram-nos como são”, destacou. O Papa citou a doença e solidão que afligem muitos, além de frisar que mesmo faltando tanto, estes homens e mulheres permaneceram olhando a vida com gratidão pelas pequenas coisas.
Resistir. Esta foi outra palavra que Francisco destacou. De acordo com ele, resistir é não desistir das dificuldades, encontrar a serenidade e alegria, aprender com São Francisco a alegria de olhar para quem está próximo.
“Que esse encontro abra o coração de todos nós para nos colocarmos a disposição dos outros. (…) Para fazer da nossa fraqueza a nossa força, para transformar pobreza em riqueza para ser partilhada e melhorar o mundo”, desejou.
Os pobres que abrem o coração, dão a riqueza deles para curar corações feridos, explicou o Pontífice. “Rezem por mim, tenho muitas pobrezas”, concluiu