Discurso ao Moneyval

Repensar a relação do ser humano com o dinheiro, pede Papa

Em audiência com membros do Moneyval no Vaticano, Papa falou do trabalho de combate à lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo

Da Redação, com Boletim da Santa Sé

Repensar a relação do ser humano com o dinheiro. Esse foi um dos pontos do discurso do Papa Francisco a um grupo de especialistas do Conselho da Europa, conhecido como Moneyval, que foi recebido em audiência pelo Pontífice nesta quinta-feira, 8. Eles trabalham com avaliação das medidas contra a lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo.

O Papa disse que esse trabalho desenvolvido pelo Moneyval em relação a este duplo objetivo está particularmente em seu coração. “Isso está estreitamente conectado com a defesa da vida, com a pacífica convivência do gênero humano sobre a terra e com uma finança que não oprima os mais frágeis e necessitados”.

Citando a exortação apostólica Evangelii gaudium, Francisco enfatizou a necessidade de repensar a relação do ser humano homem com o dinheiro. Em certos casos, ponderou o Pontífice, parece que se aceitou o predomínio do dinheiro sobre o homem e, para acumular riqueza, às vezes não se presta atenção na origem do dinheiro, se é decorrente de atividade lícita ou não.

“Assim, acontece que em alguns âmbitos se toca em dinheiro e se suja as mãos de sangue, do sangue dos irmãos. Ou, ainda, pode acontecer que recursos financeiros sejam destinados a semear o terror, para afirmar a hegemonia do mais forte, do mais prepotente, de quem sem escrúpulos sacrifica a vida do irmão para afirmar o próprio poder.”

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O dinheiro a serviço dos mais necessitados

O Santo Padre mencionou ainda em seu discurso São Paulo VI: na encíclica Populorum progressio, o então Papa, hoje santo da Igreja, propôs que o dinheiro usado nas armas e outras despesas militares fosse utilizado para criar um Fundo Mundial de ajuda aos mais necessitados. Esta é uma proposta que o próprio Francisco retoma agora com a encíclica Fratelli Tutti: em vez de investir no medo e nas ameaças nucleares, químicas ou biológicas, que esses recursos sejam usados para eliminar a fome e para o desenvolvimento dos países mais pobres.

Papa Francisco destacou ainda que o Magistério social da Igreja ressaltou o erro do “dogma” neoliberalista, “segundo o qual a ordem econômica e a ordem moral seriam tão díspares e estranhas uma da outra que a primeira não dependeria de forma alguma da segunda”.

De acordo com Francisco, uma leitura atual desta afirmação leva a constatar que “a adoração do antigo bezerro de ouro encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e sem uma finalidade verdadeiramente humana. De fato, a especulação financeira com o lucro fácil como finalidade fundamental continua fazendo destruição”.

Economia com rosto humano

As políticas de combate à lavagem de dinheiro e ao terrorismo são, segundo o Papa, um instrumento para monitorar os fluxos financeiros, permitindo intervir lá onde surgem as atividades irregulares ou até mesmo criminosas.

O Santo Padre recordou o ensinamento de Jesus de que “não se pode servir a Deus e a riqueza. “Quando a economia perde o seu rosto humano, não se serve do dinheiro, mas se serve ao dinheiro. Esta é uma forma de idolatria contra a qual somos chamados a reagir, repropondo a ordem racional das coisas que reconduz ao bem comum, segundo o qual “o dinheiro deve servir e não governar!”.

Ações da administração vaticana

Nesse sentido, o Papa mencionou algumas medidas recentes adotadas pela administração, medidas de transparência na gestão do dinheiro e para combater a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo.

No último dia 1º de junho, o Motu Proprio para uma gestão mais eficaz dos recursos e para favorecer a transparência, o controle e a concorrência nos procedimentos de licitação de contratos públicos. E no dia 19 de agosto, uma ordem do presidente do Governatorato submeteu as Organizações de voluntariado e as Pessoas Jurídicas do Estado da Cidade do Vaticano à obrigação de relatar atividades suspeitas à Autoridade de Informação Financeira.

“Queridos amigos, renovo a minha gratidão pelo serviço que vocês desenvolvem. As realidades sobre as quais vocês são vigilantes, de fato, se colocam para a proteção de uma ‘finança limpa’, no âmbito da qual é impedido aos “mercadores” especular naquele templo sagrado que é a humanidade, segundo o desígnio de amor do Criador”.

 

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