#NOTALONE

Papa: a fraternidade é centelha para a luz que pode deter os conflitos

Francisco envia mensagem a participantes do primeiro Encontro Mundial da Fraternidade Humana e pede que “nunca nos cansemos de gritar ‘não à guerra’”

Da Redação, com Vatican News

Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, após assinar “Declaração sobre a fraternidade humana” / Foto: Alessia Giuliani/IPA via Reuters Connect

Neste sábado, 10, aconteceu o primeiro Encontro Mundial da Fraternidade Humana. Promovido pela Fundação Fratelli Tutti com o título #notalone, o evento não pôde contar com a presença do Papa Francisco, que foi submetido a uma cirurgia na quarta-feira, 7. Ainda assim, o Pontífice enviou sua mensagem aos participantes.

O vigário-geral para a Cidade do Vaticano, presidente da Fábrica de São Pedro e arcipreste da Basílica, Cardeal Mauro Gambetti, foi o responsável por proferir as palavras preparadas pelo Santo Padre. Juntos, artistas e vencedores de Prêmios Nobel, famílias, associações e os que vivem à margem da sociedade, desde os mais pobres e sem-teto aos migrantes e vítimas da violência e do tráfico de pessoas, ouviram atentos ao que era dito.

No início da mensagem, Gambetti expressou a alegria de Francisco pela realização do encontro, sinônimo de desejo de fraternidade e paz em prol da vida do mundo. Para o Santo Padre, conforme escrito na Carta Encíclica Fratelli Tutti, a fraternidade contribui diretamente com a liberdade e a igualdade (n. 103), porque leva a ver, no irmão, um rosto, e não um número.

“É sempre ‘alguém’ que tem dignidade e merece respeito, não ‘algo’ a ser usado, explorado ou descartado. No nosso mundo dilacerado pela violência e a guerra, não bastam meros retoques e ajustamentos; só uma grande aliança espiritual e social, que nasça dos corações e se mova ao redor da fraternidade, pode fazer voltar ao centro das relações a sacralidade e a inviolabilidade da dignidade humana”, explicou o Papa.

Gestos concretos

Neste contexto, Francisco afirmou que a fraternidade se faz por meio de gestos concretos, que a tornem cultura de paz. Não se deve focar naquilo que o mundo dá, mas no que se pode fazer pelos irmãos e irmãs. Deve partir de cada indivíduo a ação, o afeto para com o próximo.

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Prosseguindo, o Pontífice pediu que a humanidade nunca se canse de gritar “não” à guerra. “A fraternidade é um bem frágil e precioso. Os irmãos são a âncora da verdade, no mar tempestuoso dos conflitos que semeiam mentira. Evocar os irmãos é lembrar a quem combate, e a todos nós, que o sentimento de fraternidade que nos une é mais forte que o ódio e a violência; mais, associa a todos na mesma dor. Aqui está o ponto de onde partir sempre de novo: a consciência de se ‘sentir unido’, centelha que pode reacender a luz para deter a noite dos conflitos”, escreveu.

As necessidades do irmão em primeiro lugar

Entender e tratar o outro como irmão é um gesto concreto de fraternidade, que rompe a crença de que se é filho único no mundo, e a lógica dos sócios, unidos por algum interesse. Francisco relembrou, na mensagem, a parábola do bom samaritano, que apesar das diferenças entre ele e a pessoa encontrada no caminho, soube colocar as necessidades do outro em primeiro lugar.

“Quando os homens e as sociedades escolhem a fraternidade, muda também a política: a pessoa volta a prevalecer sobre o lucro, a casa onde todos moramos sobre o meio ambiente explorado em benefício próprio, o trabalho é pago com o justo salário, o acolhimento torna-se riqueza, a vida esperança, a justiça abre à reparação e a memória do mal feito é curada no encontro entre vítimas e malfeitores”, indicou o Santo Padre.

Encerrando a leitura do discurso do Papa, Gambetti agradeceu a todos pela organização do encontro. De forma particular, manifestou sua gratidão aos vencedores de Prêmios Nobel pela “Declaração sobre a fraternidade humana”, elaborada por eles alguns momentos antes. Para finalizar, Francisco citou, no texto, a imagem do abraço, e detalhou:

“Com efeito, a paz precisa de fraternidade, e a fraternidade precisa de encontro. Que o abraço dado e recebido hoje (…) se torne compromisso de vida e profecia de esperança. E abraço-vos eu próprio enquanto vos renovo o meu agradecimento e de coração vos digo: estou convosco!”

Declaração sobre a fraternidade humana

Ao final do evento, foi assinada a “Declaração sobre a fraternidade humana”. O documento tem como objetivo reiterar ao mundo o “não à guerra” da Igreja e o compromisso com o diálogo e a construção da paz. Os vencedores de Prêmios Nobel Muhammad Yunus e Nadia Murad fizeram a leitura do texto, que foi assinado pelo cardeal secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin.

Em seu início, a declaração cita o Papa Francisco, que afirma: “Somos diversos, somos diferentes, temos diferentes culturas e religiões, mas somos irmãos e queremos viver em paz”. Entre os diversos pontos abordados no documento, destaca-se o trecho:

“Queremos gritar ao mundo em nome da fraternidade: Não mais a guerra! É a paz, a justiça, a igualdade a guiar o destino de toda a humanidade. Não ao medo, não à violência sexual e doméstica! Cessem os conflitos armados. Digamos basta às armas nucleares e às minas terrestres. Basta de migrações forçadas, limpeza étnica, ditaduras, corrupção e escravidão. Paremos com a manipulação da tecnologia e da Inteligência Artificial, vamos antepor e permear de fraternidade o desenvolvimento tecnológico”.

Ao final do texto, os signatários assumem, com liberdade, “querer a fraternidade e construí-la juntos”. E exortam: “Junte-se a nós para assinar este apelo para abraçar este sonho e transformá-lo em práticas diárias, para que chegue à mente e ao coração de todos os governantes e daqueles que, em todos os níveis, têm uma pequena ou grande responsabilidade cívica”.

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