Em um diálogo on-line com jovens universitários africanos, Papa respondeu perguntas sobre vários temas e sinalizou a esperança de visitar a África no início de 2023
Da Redação, com Vatican News
O Papa Francisco se reuniu, de forma on-line, com jovens estudantes de universidades africanas em uma conferência dedicada ao tema “Construir Pontes através da África”. No diálogo, o Pontífice respondeu as perguntas dos jovens sobre temas variados e expressou a esperança de realizar, no início de 2023, a visita que ele precisou adiar.
O encontro realizado nesta terça-feira, 1º, foi um novo exercício de sinodalidade, seguindo os passos daquele realizado em fevereiro passado com universitários da América. A proposta é construir pontes entre o Norte e o Sul e entre diferentes periferias, com a colaboração da Secretaria do Sínodo.
Francisco encorajou os jovens, exortando-os a viverem o presente, não como “alienados”, mas cultivando sonhos, com a consciência também nas raízes. O Santo Padre considerou que o dia em que um jovem não sonha, o país está acabado e o mundo está acabado, pois os jovens nasceram para sonhar, para profetizar o futuro.
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A importância da história
O Papa convidou os jovens a aprenderem a respeitar a história e fazê-la andar. Lembrou que nem sempre a história é um conto de fadas, pelo contrário, às vezes é difícil; há povos que fizeram-na com sangue. “Nenhum de nós nasceu como cogumelo, viemos de uma história”.
O passo para a maturidade, indicou o Santo Padre, é assumir o controle da história, tanto daquela boa quanto daquela não tão boa. “Vocês sabem o que é história dura, vocês sabem o que é exploração, vocês sabem o que é escravidão, vocês sabem o que é dizer que a África é para ser espremida e não para ser permitida a crescer”. Com suas palavras, o Papa quis apreciar a cultura e a história desses jovens.
Papa responde: pentecostalismo
Os estudantes fizeram perguntas ao Papa Francisco. Depois de escutar atentamente, ele respondeu com calma, com palavras que vêm do coração de um homem idoso que guia os jovens. Esta é uma atitude muito presente na vida e na cultura do povo africano.
Uma das perguntas foi sobre a presença do pentecostalismo e grupos de cura. O Papa advertiu contra o que ele chamou de “supermercado da salvação”, explicando que o caminho é algo que os jovens encontram em seus corações – “o coração se faz sentir sem tradutores ou intermediários”. Nesse sentido, alertou os jovens para que eles não se deixem “aprisionar pela sindicalização religiosa” e frisou a importância do discernimento para descobrir qual grupo religioso está os ajudando a crescer.
Migrações econômicas e consequências da guerra
Em relação às migrações econômicas e às consequências da guerra, o Papa advertiu que “às vezes, a guerra é movida por interesses espúrios e o problema da venda de armas nos escraviza”. De lá, ele denunciou que a fome leva à migração e que muitos morrem no Mediterrâneo, que se tornou o maior cemitério da Europa.
Francisco também falou contra a exploração da África, sobre sua independência incompleta, convidando os jovens a lutar com um senso de construção. O convite é para que os jovens se unam e continuem com “este sonho de pôr fim à guerra, à fome, à pobreza e à semi-permanência dos refugiados”.
Desmatamento e participação política
O desmatamento, uma realidade presente na África, à qual o Papa Francisco acrescentou que também está acontecendo na Amazônia brasileira, é visto como algo que “leva à perda da convivência entre a pessoa humana e a natureza”. Neste sentido, ele enfatizou que “o desmatamento neste momento é um crime contra a humanidade”, algo que deixará uma dívida ecológica a ser paga pelas gerações futuras. Francisco reiterou que a conversão ecológica é uma responsabilidade hoje.
Daí ele denunciou o desequilíbrio criado pelas multinacionais exploradoras, dizendo que “é selvagem violar a Terra como é selvagem violar uma mulher”. Pediu que os jovens se comprometam na luta contra esses violadores da Terra.
Sobre a participação dos jovens nas decisões políticas, o Papa insistiu que “a não-participação dos jovens é a morte de um país”. Francisco exortou os jovens a participarem em todas as áreas da vida, sem se deixarem dominar pela inferioridade. Falando dos mártires sociais, dos jovens da América Latina que perderam suas vidas para lutar por seu país, ele disse que “eles se tornaram sementes de inspiração”.
Alguns países africanos são vítimas de ataques contra cristãos por fundamentalistas muçulmanos. Diante desta realidade, o Santo Padre afirmou que “quando o terrorismo fundamentalista cresce, é um suicídio social, a sobrevivência do país está em jogo”. Por esta razão, convidou os jovens a resistir, organizar e desenvolver uma doutrina política real e concreta, definindo a política como “uma alta forma de caridade, pois ela é dirigida ao bem comum”.
O trabalho da Igreja na educação
Em um continente com grande falta de emprego e poucas oportunidades para os jovens, o que os torna vulneráveis, o Papa Francisco apontou o perigo dos jovens se sentirem desesperançados. Daí ele vê a necessidade de a Igreja fazer mais na promoção humana nas escolas, nas universidades, numa linha libertadora e não de colaboração com os poderes de repressão. Isso para fazer crescer a mente, amadurecer o coração e ensinar com suas mãos. Além disso, ele insistiu que a Igreja deveria ter escolas para todos, não apenas para os setores mais sofisticados ou mais ricos da sociedade.
Quando perguntado sobre o que significa ser um jovem católico africano e seu papel na Igreja, ele apelou para que os jovens “assumissem o controle de suas raízes como condição para amadurecer, para cuidar de suas raízes a fim de seguir em frente”. O Pontífice espera que os jovens não sejam líderes revolucionários, mas sim aqueles que levam adiante a riqueza que receberam e lutam juntos para que lhes seja permitido fazê-lo.
“Estou muito feliz por ter me comunicado com vocês, estou impressionado com o testemunho que vocês deram”, avaliou o Papa sobre o encontro.