Desde o início do conflito em 24 de fevereiro de 2022, Francisco atuou incansavelmente para levar proximidade e solidariedade e promover a paz
Gabriel Fontana
Da Redação, com Vatican News
Há dois anos, a atenção do mundo todo voltava-se para o Leste Europeu. No dia 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu por terra sua vizinha, a Ucrânia, dando início a um conflito armado que se estende até os dias atuais.
A operação militar em terras ucranianas foi anunciada pelo presidente russo, Vladimir Putin. Desde então, se passaram 730 dias desde a invasão e o início da guerra entre os países que há anos mantêm uma relação conturbada. A terça-feira, 20, marcou o aniversário de 10 anos de outra invasão russa à Ucrânia. Em 2014, tropas da Rússia ocuparam a região da Crimeia e de outros lugares do leste ucraniano.
Segundo estimativas não oficiais, o conflito, neste dois anos, causou a morte de cerca de 500 mil militares e aproximadamente 22 mil civis. Somente em janeiro deste ano, de acordo com a Missão de Monitorização dos Direitos Humanos das Nações Unidas na Ucrânia (HRMMU), pelo menos 641 civis foram mortos ou feridos, continuando uma tendência de aumento desde dezembro de 2023.
Além disso, cerca de 17,6 milhões de ucranianos precisam de assistência humanitária e mais de 11 milhões de pessoas foram deslocadas devido ao conflito – 6,2 milhões fugiram da Ucrânia e 5 milhões se deslocaram internamente.
Em coletiva de imprensa recente, o líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana, arcebispo-mor Sviatoslav Shevchuk, citou que mais de 500 crianças morreram e outras cerca de 1.200 ficaram feridas desde o início da guerra. Além disso, recordou as crianças que foram deportadas para a Rússia e separadas de suas famílias.
Palavras do Papa pela paz
Diante deste cenário, o Papa Francisco segue apelando para que a paz seja estabelecida na região. Seguindo seu próprio pedido para que a humanidade não se acostume com a guerra, feito durante o Angelus de 21 de maio de 2023, o Pontífice aborda continuamente o tema em seus discursos, e chegou a expressar que o conflito corre o risco de ser esquecido.
“É nosso dever, ao contrário, não permitir que o silêncio caia sobre ela; não simplesmente manter vivo o horror diante de fatos tão trágicos, mas, acima de tudo, comprometer todos aqueles que têm responsabilidade e a comunidade internacional na busca de soluções pacíficas”, escreveu em uma carta a Shevchuk publicada em janeiro deste ano.
Desde 24 de fevereiro de 2022, o Santo Padre promoveu várias ações para parar a guerra. Logo no dia seguinte ao início do conflito, ele foi pessoalmente à embaixada russa no Vaticano para expressar sua preocupação com a invasão. Pouco tempo depois, em 25 de março daquele mesmo ano, presidiu uma celebração penitencial na Basílica de São Pedro e realizou o ato de consagração da humanidade, em especial dos dois países, ao Imaculado Coração de Maria.
No Angelus de 2 de outubro de 2022, Francisco se dirigiu diretamente aos presidentes russo e ucraniano. Ele pediu a Putin que parasse “também pelo amor do seu povo, este espiral de violência e morte”. Da mesma forma, exortou o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, a estar aberto a propostas de paz.
Choro de dor pelas vítimas
Um dos momentos mais marcantes aconteceu na tradicional oração feita pelo Pontífice à Virgem Maria diante da imagem da Imaculada Conceição em 8 de dezembro de 2022, dia em que a Igreja celebra esse dogma mariano. Na ocasião, Francisco chorou enquanto fazia sua prece pela Ucrânia, tendo que interromper sua fala por algum tempo.
Já no Angelus de 30 de julho de 2023, em meio à crise do transporte de grãos no Mar Negro, Francisco lembrou ao mundo que “a guerra destrói tudo, até mesmo o trigo”, representando “uma grave ofensa a Deus”. Ele enfatizou o agravamento da situação humanitária na Ucrânia, chamando todos a ouvir “o grito dos milhões de irmãos que passam fome”.
Representantes do Papa em missão
Além dos frequentes pedidos de oração pelo fim da guerra, o Santo Padre também enviou representantes à Rússia e à Ucrânia em missão. O presidente da Conferência Episcopal Italiana e arcebispo de Bolonha, Cardeal Matteo Zuppi, se encontrou com autoridades russas em Moscou, e também esteve nos Estados Unidos e na China para debater possíveis caminhos para a paz.
Já o “esmoleiro do Papa”, Cardeal Konrad Krajewski, e o prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, Cardeal Michael Czerny, foram enviados pelo Papa à Ucrânia para levar solidariedade e proximidade aos refugiados e vítimas da guerra, além de doações e recursos. O secretário para Relações com Estados e Organizações Internacionais, Dom Paul Richard Gallagher, também visitou o país, em maio de 2023, onde rezou em frente à cova coletiva perto da igreja ortodoxa de Santo André.