Arcebispo de São Paulo e o cantor católico Dunga recordam frases e expressões de Francisco que se tornaram populares ao longo destes 10 anos
Julia Beck
Da redação
“Santos da porta ao lado”, “pastores com o cheiro das ovelhas”, “espiritualidade da maquiagem”, “terrorismo das fofocas” e “juventude de sofá” são algumas das muitas expressões e frases do Papa Francisco que se tornaram populares ao longo dos seus 10 anos de pontificado.
O arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, conta que, entre as frases e expressões de destaque do Santo Padre, a que mais gosta é o título que o Pontífice atribuiu à sua primeira exortação apostólica, datada de 2013, Evangelii Gaudium: “a alegria do Evangelho”.
“Destaca que a vida cristã é marcada pela alegria. Muitas vezes, talvez, nós temos uma impressão diversa, de que a vida cristã é marcada pela dor, pela tristeza, pelo peso, pelo sacrifício, pela cruz. Embora tudo isso também tenha o seu lugar na vida cristã. No entanto, a vida cristã é marcada profundamente pela alegria”, sublinha.
O purpurado destaca ainda que a fé e a esperança são marcadas pela alegria, na perspectiva da plenitude, daquilo que se busca, a felicidade, as aspirações maiores e mais profundas. “Isso tudo nos enche de alegria e serenidade. Por isso, esse título me marcou muito”, complementa.
Bom Pastor
Depois, Dom Odilo cita a frase que Francisco usou no encontro com o clero de Roma, quando disse que os sacerdotes precisam ser “pastores com o cheiro das ovelhas”. Segundo o cardeal, esta é uma expressão tão interessante que diz a verdade daquilo que são as qualidades do Bom Pastor.
“Ele está perto das ovelhas, está junto delas, elas estão junto dele, gostam dele, estão tanto tempo juntos que a roupa do pastor fica impregnada do cheiro das ovelhas. É uma frase interessante, que, de maneira pitoresca, diz as qualidades daqueles que são pastores e devemos ser bons pastores à semelhança de Jesus”, argumenta.
Hospital de campanha e Igreja em saída
Outra expressão que ficou bem marcada na vida do purpurado é a ideia de que a Igreja deve ser como um “hospital de campanha” em meio às batalhas, às lutas. Segundo o Papa, recorda o arcebispo de São Paulo, a Igreja deve estar perto do povo, sentir as suas necessidades, sofrimentos e estar junto para confortar, consolar, socorrer, ajudar de todas as maneiras.
Dom Odilo cita ainda outra expressão, usada para dizer que a Igreja deve ser missionária e não pode ficar voltada para dentro: “Igreja em saída”. “Significa a Igreja que vai ao encontro das situações humanas, das pessoas e das realidades onde deve levar a luz, o sal e o fermento bom do Evangelho”.
Simplicidade
O cantor católico Dunga salienta, entre as qualidades do Papa Francisco, a simplicidade. Ele comenta que teve a oportunidade de viajar até a Argentina e constatar o quanto os argentinos o amavam.
“Ele [Santo Padre] tem uma frase maravilhosa que diz que não precisamos esperar estarmos prontos, perfeitos para dar testemunho. Pelo contrário, devemos fazer pela evangelização o que hoje somos capacitados pela vida e por Deus”, disse.
Francisco pede aos leigos que deem ao próximo aquilo que proporcionalmente recebem de Deus, lembra o cantor. “O Papa Francisco é um homem de muita misericórdia e trabalho. É um santo dos dias de hoje”.
Linguagem de Francisco
Para o cardeal brasileiro, o fato do Santo Padre usar uma linguagem cheia de imagens, comparações e figuras, às vezes, até com senso de ironia ou senso de humor, faz com que as pessoas guardem e compreendam o ensinamento.
“Quantas expressões o Papa já usou que ficam marcadas na memória (…). De fato, o Santo Padre tem uma linguagem coloquial, não uma linguagem de um intelectual que reflete para intelectuais, mas fala para as pessoas compreenderem. Sua reflexão, sua homilia, mesmo seus escritos, são sempre fáceis de compreender porque têm uma linguagem cheia de imagens, de comparações, à semelhança do ensinamento de Jesus, que tinha muitas comparações e parábolas”, reflete.
Preocupação missionária e renovação da Igreja
Ao longo desta primeira década do magistério de Francisco, Dom Odilo recorda que o Pontífice está imprimindo na Igreja a preocupação missionária. “É uma mudança que vai acontecendo aos poucos, que pode levar décadas para se concretizar. Porém, como o próprio Papa diz, devemos nos preocupar em desencadear processos que, ao longo do tempo, produzirão seus efeitos”, frisa.
No campo das reformas, o cardeal sublinha a renovação da Igreja. Segundo o purpurado, Francisco está menos preocupado em fazer a renovação de estruturas do que fazer a renovação por dentro da Igreja, ou seja, a cultura eclesial, o espírito, o jeito da Igreja.
De acordo com o arcebispo de São Paulo, quando o Santo Padre fala muito do clericalismo e, agora, fala da sinodalilidade, ele está tocando fortemente em uma cultura eclesiástica que tem de mudar com o passar do tempo, para a Igreja ser aquilo que ela deve ser e o que Jesus desejou: povo dos batizados, como uma família, um corpo, imagens que aparecem no Novo Testamento.