Dom Cláudio Hummes, Dom Roque Paloschi e cerca de 100 indígenas brasileiros estarão no encontro do Papa com os povos da Amazônia
Julia Beck
Da redação
Acompanhados de representantes indígenas do estado de Rondônia e da capital Porto Velho, o presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Cardeal Cláudio Hummes, e o arcebispo de Porto Velho (RO) e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Dom Roque Paloschi, participarão nesta sexta-feira, 19, do encontro do Papa Francisco com o Povos da Amazônia em Puerto Maldonado, no Peru.
Em viagem apostólica pelo país, o Santo Padre dedicará parte da programação para estar na presença dos povos indígenas locais e de países do continente sul-americano. “Ele [Papa] quer se encontrar com os indígenas para garantir que está ao lado deles, que os defende, para que eles se sintam muito certos desta proximidade, porque o Papa quer também que a Igreja esteja muito próxima”, comentou Dom Cláudio.
A atitude do Papa, de ir ao encontro dos povos indígenas, é para o cardeal um ato de quem reconhece a dignidade dos índios. “Ele virá até os índios, ele não apenas esperou que os índios fossem até ele, ele virá até a Amazônia (…). Isso é um reconhecimento muito grande da dignidade dos índios, dos seus direitos, dos seus sonhos, tudo aquilo que os índios esperam que seja respeitado – seus direitos à terra, seus direitos a ter a sua história, ter a sua identidade reconhecida, enfim tantos outros direitos fundamentais que são muito pouco respeitados e promovidos”.
Segundo Dom Hummes, o encontro de Francisco com os indígenas tem como propósito trazer uma esperança maior de que os responsáveis dos oito países que compõe a região amazônica estarão mais atentos aos direitos desses povos. “Quando o Papa vem, ele não vem para ser apenas uma manchete no jornal, mas vem com propósitos muito claros de que isso produza frutos no futuro”, comentou.
De acordo com Dom Roque, assim como o Peru, o Brasil traz a marca do preconceito e discriminação contra estes povos, omissão que na opinião do arcebispo de Porto Velho deve ser urgentemente revista. “O Governo não pode se omitir diante do grito de Deus por meio destes povos, (…) e o Papa vem não para dar lições, mas para ouvir de modo especial os povos originários e dar uma palavra de esperança”.
Além dos desdobramentos sociais que trará a visita de Francisco a Puerto Maldonado, no Peru, a iniciativa do Pontífice quer primeiramente, segundo Dom Roque, estabelecer uma conexão, um canal de diálogo entre a Igreja e os povos indígenas. Para o arcebispo, o Santo Padre, com seus atos, pede que a Igreja na Amazônia seja capaz de acolher os sonhos, as esperanças, as lágrimas e os sofrimentos destes habitantes. “A vinda do Papa vem para nos apelar, fazer este apelo para que a Igreja, as Dioceses, as Conferências Episcopais tenham a capacidade de ouvir o grito e a voz dos índios”, concluiu.
Ouvir e acolher: preparação para o Sínodo 2019
O encontro do Papa com o Povos da Amazônia, além de seu valor local, será uma preparação para o Sínodo Pan-amazônia, informou Dom Cláudio. De acordo com o cardeal, o compromisso de Francisco com os povos originários no Peru será uma oportunidade do Santo Padre ouvir os indígenas e se encontrar com os bispos da região amazônica, seja do Brasil ou dos oito países que a compõem.
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Nesta quinta-feira, 18, os bispos e indígenas nativos do Peru, Brasil, Bolívia e Colômbia se reúnem em preparação ao encontro desta sexta-feira, 19, com o Papa. Amanhã, após esse encontro, haverá uma reunião de preparação para o Sínodo para a região Pan-amazônia, contando com a presença do secretário-geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Lorenzo Baldisseri. “Nós temos esperança de que esse será o ponta pé inicial, mais significativo, desta preparação para o Sínodo”, contou.
Um Papa dedicado ao meio ambiente
“É a primeira vez que um Papa tão amplamente e profundamente (…) se ocupou da questão ecológica e climática do mundo”, afirmou Dom Cláudio sobre os esforços do Papa em reverter a crise do clima mundial. Segundo o cardeal, o Papa reconhece o papel fundamental da Amazônia na manutenção, preservação e equilíbrio da natureza e da biodiversidade.
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A postura de Francisco ficou visível, de acordo com o cardeal, após o Pontífice elaborar a Encíclica Laudato Sí. “Foi algo histórico, porque logo depois se celebrou a COP 21 [Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas realizada em 2015] em Paris, onde se falou exatamente sobre a crise climática, e onde saiu o acordo . O Papa já tinha se antecipado por alguns meses sobre esta questão”, contou.
Os povos indígenas da Amazônia
“No Brasil, na chegada dos colonizadores em 1500, segundo os estudiosos, eram mais de cinco milhões de pessoas que compunham a população indígena, hoje chegamos a um milhão. Isso significa que ao longo dos 500 anos, milhões de indígenas foram dizimados, eliminados e desrespeitados”, contou Dom Roque, que prosseguiu: “O Papa na ‘Laudato Sí’ diz que quando desaparece uma espécie é uma perda, uma tristeza muito grande para o reino animal (…). Imagina quando desaparece um povo, uma etnia”.
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A preocupação e o olhar do Papa e da Igreja aos povos indígenas é, para o arcebispo de Porto Velho, uma oportunidade de conscientização de que cada povo tem sua história, espiritualidade e sua riqueza linguística. “Estas pessoas viviam aqui há milhares de anos e ninguém, ninguém mesmo, em nome de nada, tem direito de eliminá-los. E quando digo eliminar, não digo só eliminação física, mas eliminação cultural, espiritual de uma mentalidade mentirosa e preconceituosa que muitas vezes vivemos. (…) O Sínodo caminha de acordo com as opções da Igreja, e a Igreja fez esta opção: os mais pobres entre os pobres. Por isso, a causa que se defende é a vida, dignidade e sonhos destes povos”.