Francisco concedeu tradicional entrevista coletiva durante voo de retorno a Roma e falou, entre outros temas, do desafio de acolher, especialmente os jovens
Da Redação, com Vatican News
Após participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa, o Papa Francisco concedeu uma entrevista coletiva aos jornalistas durante seu retorno a Roma. No voo deste domingo, 6, foram abordados diversos temas, entre os quais o estado de saúde de Francisco e a abertura da Igreja ao acolhimento de todos.
A primeira pergunta foi sobre a visita do Pontífice a Fátima e sua oração silenciosa, em oposição à “grande expectativa (…) de uma renovação da parte do Santo Padre” do pedido feito por Nossa Senhora pelo fim da guerra. O Papa limitou-se a dizer que rezou à Virgem Maria pela paz, mas “sem fazer propaganda”.
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Depois, ele foi questionado sobre um relatório sobre abusos infantis cometidos por membros do clero em Portugal. Francisco os chamou de “peste terrível” e admitiu que a Igreja costumava encobrir estes atos, seguindo a mesma conduta das famílias e de vizinhanças, dentro das quais acontecem 42% dos casos.
“Desde o escândalo de Boston, a Igreja se conscientizou que não podia seguir caminhos aleatórios, mas se deveria segurar o “touro pelo chifre”. Dois anos e meio atrás, houve uma reunião dos presidentes das Conferências Episcopais, onde foram fornecidas também estatísticas oficiais sobre os abusos. E é grave, a situação é muito grave. Na Igreja, há uma frase que estamos usando continuamente: tolerância zero, tolerância zero. E os pastores, que de alguma maneira não assumiram sua responsabilidade, devem arcar com esta irresponsabilidade.”
Em relação a Portugal, o Santo Padre falou que “o processo está andando bem, estou informado de como estão as coisas”. Ele ainda denunciou outras formas de abuso, como a pornografia infantil comercializada na internet, o abuso no trabalho e de mulheres.
Foco na comunicação
A pergunta seguinte foi sobre a saúde do Papa, sendo relacionada aos discursos feitos durante a JMJ. O jornalista citou que o Pontífice leu apenas partes ou não leu os textos preparados, e questionou sobre seu estado físico. Ele também citou a viagem apostólica para Marselha, perguntando se Francisco tem algo “contra a França” para visitar apenas algumas cidades e não o país.
O Santo Padre garantiu que está bem, e explicou que cortou o discurso feito às associações caritativas porque “havia uma luz na frente e não conseguia ler”. Em relação às outras falas, ele afirmou que, quando fala, busca fazer isso de uma maneira clara, tendo em vista a comunicação. “Com os jovens, os discursos longos tinham o essencial da mensagem, o essencial da mensagem, e eu agia ali segundo sentia a comunicação”, disse.
Na segunda parte da resposta, o Papa reafirmou sua política de visitar primeiro os “pequenos” países da Europa, para depois passar para os “grandes”. Ele relembrou sua primeira viagem apostólica internacional na Europa, quando foi à Albânia, e também citou que vai a Marselha movido pela sua preocupação com os migrantes no Mediterrâneo. “É criminoso a exploração dos migrantes”, alertou.
Igreja, Mãe e guia
Na sequência, uma jornalista questionou sobre a inacessibilidade de mulheres e homossexuais a alguns sacramentos, referindo-se a este aspecto como uma “incoerência entre uma Igreja aberta e uma Igreja que não é igual para todos”. Francisco iniciou sua resposta frisando que “a Igreja é aberta a todos, depois existem leis que regulam a vida dentro da Igreja”.
Segundo ele, isso não significa que a Igreja seja fechada. Na verdade, esta “é mãe e guia cada um pelo seu caminho”. O Pontífice reforçou que todos devem ser acolhidos, para que cada um na oração, no diálogo interior e no diálogo pastoral possa procurar uma forma de seguir em frente.
Por fim, foi perguntado ao Santo Padre o que dizer a uma família caso algum membro cometa suicídio, diante do pensamento de que este tenha ido ao inferno. O Papa reconheceu a relevância do tema, especialmente do suicídio juvenil. “Não digo que seja uma coisa de todos os dias, mas é um problema, um problema atual, uma coisa que acontece”, resumiu.
“Os jovens são uma surpresa”
Francisco também teceu um comentário sobre a JMJ realizada em Lisboa nesta última semana. Ele disse que impressionou-se com a quantidade de peregrinos reunidos e com a preparação da cidade para acolher o evento.
Voltando-se aos jovens, declarou que eles “são uma surpresa, (…) são religiosos, eles buscam fé, não artificial”, e reafirmou a necessidade de acompanhá-los. “Os jovens são jovens. Aprontam, a vida é assim. (…) Cada um de nós tem as próprias quedas na própria história. Mas o Senhor sempre nos espera porque é misericordioso, é Pai. E a misericórdia supera tudo”, concluiu o Papa.
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