O amor familiar corre perigo quando a família é atropelada por um ritmo frenético que não permite o convívio, afirma o casal conferencista brasileiro que trabalhou a temática das fragilidades no matrimônio
Ronnaldh Oliveira
Da redação
Foto: Joyce Mesquita
Na terceira conferência desta quinta-feira, 23, a temática abordada girou em torno do amor familiar diante das dificuldades cotidianas dos casais. Entre os conferencistas, encontram-se os brasileiros André e Karina Parreira, que representaram o Brasil dentro da programação do X Encontro Mundial das Famílias.
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Cristina Elena Riccardi e Paolo Pellini provenientes da Itália, abordando diretamente a temática central proposta, afirmaram de forma enfática a necessidade contínua do acompanhamento sistematizado da igreja por meio das Pastorais e Movimentos Familiares em relação aos casais que se prepararam para contrair o sacramento do matrimônio, bem como os novos casais pós matrimônio.
“É de extrema importância este acompanhamento da Igreja, por meio de sacerdotes e casais que testemunhem com maturidade essa vocação. Somos certos de que temos que estar junto desde o início de suas vidas a dois, evitando assim que haja rupturas relacionais”, afirma Cristina.
O casal apresentou três experiências de jovens casais que responderam à necessidade constante e cotidiana de anunciar de forma concreta o Evangelho dentro e pelas próprias famílias que assumiram como projeto de vida o cristianismo.
Amor e família: Maravilhoso e frágil
Os brasileiros André e Karina Parreira assumiram a temática seguinte, levando os presentes a compreenderem inicialmente o lugar do amor familiar na história da salvação. “Esse projeto vindo de Deus não poderia ser outro senão a santidade! Deus não nos uniu em matrimônio somente para vivermos bem e desfrutar melhor desta vida. Ele nos uniu para juntos chegarmos à Ele! O amor conjugal não leva somente ao encontro do cônjuge, mas encontramos o cônjuge para encontrar a Deus”, apontou Karina.
A contemplação do matrimônio é o primeiro passo para o resgate de tantos relacionamentos que andam cansados e frágeis, assume o casal.
André apresentou a pandemia como um fator expositor de grande fragilidade dos relacionamentos, por meio das dificuldades de convivências para muitos, apontando assim deficiências das convicções sobre a vida familiar. “Se constata o crescimento do número de divórcios durante o tempo de quarentena. Faltou diálogo? Perdão? Paciência? Humildade? Atitude de Serviço?”.
Muitas outras fragilidades poderiam ser citadas em uma lista quase interminável como turbulências de relacionamento, falta de diálogo, consumismo, hedonismo, pornografia, adultério, o desafio do perdão, infertilidade, toxicodependência, avanço da homossexualidade no seio familiar, divórcio, abandono e muitas outras.
Karina ainda exortou o cuidado que todo casal precisa ter para não fazer do matrimônio um convívio técnico e, como pastoral familiar, não viver em função de uma fábrica de cursos que a poucos assistem. “Deus é família, logo a família deve ser imagem de Deus e não o resultado de estruturas e técnicas. O amor familiar corre perigo quando a família é atropelada por um ritmo frenético que não permite o convívio”.
Karina reconhece a missão materna como a sua excelência na vida. “Nenhum sucesso profissional cobre o valor de me dedicar integralmente ao jardim que Deus me concedeu, principalmente na infância e adolescência, que é seu tempo de maior fertilidade para o desenvolvimento do caráter, das virtudes e da base religiosa. Assim como Maria esteve do lado de Jesus”, finalizou.
Finalizando a participação do casal, André aludiu à necessidade de cuidar também do tempo para o relacionamento do casal. “Um jantar a dois, caminhada, cinema… Isto faz muito bem e é possível até mesmo em uma família simples e com sete filhos! Durante nossos 23 anos de matrimônio, cuidamos de criar momentos assim e sempre celebrar até mesmo as pequenas conquistas do cotidiano. O amor também é criativo. É necessário rever hábitos e projetos familiares, é necessário ser família muito além de apenas morar sob o mesmo teto,” finalizou.
Não se vive junto para ser infeliz
Na terceira parte do painel, o casal proveniente da África do Sul, Stephen e Sandra Conway, abordaram a temática “Traição e perdão”. Partilhando da história pessoal do relacionamento matrimonial, afirmaram que ninguém deve viver junto para ser infeliz, mas ao lado do outro, procurar ser mais feliz.
O casal que acompanha diversos relacionamentos conturbados em seu país aponta que, quando se para de olhar para as necessidades pessoais de forma egoísta dentro dos relacionamentos, qualificando para um olhar das necessidades conjuntas da vida conjugal, os dois passam mais tempos juntos e as coisas ficam mais fáceis.
“Quando olhei apenas para mim e minhas próprias necessidades, eu traí a minha esposa”, confessou Stephen.
“Caminhei muito para ouvir Stephen saber pedir perdão, tendo eu para perdoar de verdade, deixar de lado a dor. Jesus mostrou compaixão pelos fracos. Somos sua imagem. Optei por seguir o projeto de vida que abracei. No inicio, tinha raiva e quando meu marido mostrava seus sentimentos, colocava os meus em primeiro lugar. Até meu trabalho estava na frente dele”, disse Sandra.
Stephen afirmou a importância do acompanhamento dos casais. “Quando começamos a ser acompanhados, nossa relação mudou. Chegamos na fase da alegria e não mais nos concentramos como indivíduos, mas como um casal de fato”.
A experiência do Abandono
O Rev. Erick Kagy apresentou, olhando para sua trajetória, as dificuldades que encontrou em seu casamento, até o surgimento da separação.
“Quando me separei, encontrei um grupo de divorciados que entenderam o real valor do matrimônio e começaram a viver a fidelidade na solidão. Me juntei a eles. Me entreguei a isso na radicalidade. Quando minha esposa faleceu, fui conversar com o Bispo e me tornei sacerdote diocesano, mesmo sendo pai e avô de três lindas netas”, conta.
Erick afirma ter consciência de que no casamento há amor, há alegria, mas também muitas dificuldades a serem superadas. Mesmo diante disso acredita que o Sacramento do Matrimônio é indissolúvel pois trata-se de uma aliança feita entre os dois esposos e Cristo. “Cristo nunca quebra a sua aliança.”