Processo no Brasil reuniu 54 depoimentos sobre a vida de santidade do bispo. Nova fase será iniciada na Congregação para a Causas dos Santos, no Vaticano
Da Redação, com Vatican News
Dom Hélder Câmara, nascido em 1909, faleceu aos 90 anos no dia 27 de agosto de 1999. Há vinte anos de sua morte sua fama de santidade se mantém viva no Brasil e está perto do reconhecimento definitivo pela Santa Sé. O processo de beatificação entrará em nova etapa no início de setembro, com a abertura da fase romana das investigações sobre a vida do sacerdote.
“Quem, seja rico ou seja pobre, sente-se desesperado, terá um lugar especial no coração do bispo. Mas não venho para ajudar ninguém a se enganar, a crer que seja suficiente um pouco de generosidade e assistência social. Há misérias que gritam, diante das quais não temos o direito de ficar indiferentes”.
São palavras de Dom Helder Câmara pronunciadas no dia da sua posse na diocese de Olinda e Recife em 11 de abril de 1964. Segundo o religioso capuchinho e postulador da causa de beatificação do sacerdote, frei Jociel Gomes, Dom Hélder nos exorta a não esquecermos dos pobres, dos indefesos, dos marginalizados. “Nós cristãos devemos lutar pelo direito dos que não têm voz, pelos oprimidos e os que sofrem. Temos que nos engajar em prol da paz e da justiça”, destaca.
Nova etapa do processo de beatificação
O processo de reconhecimento de sua vida de santidade, após ter reunido no Brasil cerca de 54 depoimentos, entrará em sua segunda etapa no início de setembro ao ser levado para a Congregação para a Causa dos Santos, no Vaticano. “O próximo passo será o Papa reconhecer, em nome da Igreja, que dom Hélder praticou em grau heroico as virtudes cristãs. Aí ele será declarado venerável”, disse Jociel Gomes.
A santidade de Dom Hélder, de acordo com o postulador, é incômoda, como a de São Óscar Romero. “Ambos tinham uma profunda intimidade com Deus. Ambos eram pioneiros das palavras que hoje Papa Francisco prega com tanta veemência: uma Igreja em saída, capaz de alcançar as periferias geográficas e existenciais”, explica.
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Ainda segundo frei Jociel, é uma feliz coincidência que a sua causa chegue ao Vaticano pouco tempo depois da proclamação de São Romero. E de São Paulo VI, com o qual dom Hélder – como o mártir salvadorenho – cultivou uma preciosa amizade espiritual. Além de compartilhar incompreensões e críticas pela fidelidade ao Concílio, ao qual ambos tinham participado e ficaram profundamente marcados. Foi Paulo VI quem apoiou o “bispinho” – como era chamado por causa de sua altura – durante os difíceis anos da ditadura militar.
Os generais, que Dom Hélder denunciava com coragem profética os abusos, tentavam desacreditá-lo de todos os modos. O “bispo vermelho”, zombavam por causa do seu compromisso evangélico em defesa dos direitos humanos e dos pobres que, até hoje, lotam a igreja das Fronteiras de Olinda, onde está a sua sepultura. Mas Paulo VI não deu crédito às falsas acusações. “Tinha saudades e vontade de revê-lo”, disse no último encontro em 15 de junho de 1978. “Irmão dos pobres e meu irmão”, foi a saudação de João Paulo II, oito anos depois durante a sua viagem ao Brasil. Mais uma prova do Hélder gostava de repetir: “a perseguição é normalíssima na vida cristã, mas Deus está conosco”.