Em Curitiba, projeto SOS Família prepara agentes pastorais para auxiliar em problemas de relacionamento que afetam as famílias
Kelen Galvan
Da redação, com colaboração de Jéssica Marçal
Ajudar as famílias que precisam de apoio, emprestar os ouvidos para escutar seus problemas e dedicar um tempo para acompanhar e reerguer aquelas que necessitam. Esse tem sido o empenho de muitos casais que fazem parte da Pastoral Familiar, nas dioceses espalhadas por todo o país.
Em Curitiba (PR), esses “cuidadores” recebem há muitos anos um auxílio extra no preparo desta missão, com formações do projeto SOS Família. A iniciativa nasceu dentro da pastoral familiar e há quatro anos, depois que foi assumido pela psicóloga Mara Lúcia Veríssimo Avelino, passou por uma reestruturação, no intuito de responder aos pedidos do Papa Francisco. O curso é baseado em vários documentos da Igreja, mas a Exortação Apostólica Amoris Laetitia deu grande impulso à reestruturação.
A partir de então, o SOS Família iniciou a formação “Cuidando dos Cuidadores”, direcionada a todos os agentes pastorais, seminaristas, religiosos, jovens e todos os que se interessam em se preparar mais para o diálogo.
“Todas as pastorais da Igreja, catequese, tudo envolve família e relacionamento. Então os temas trabalhados são muito diversos”, explica Mara. Ela exemplifica que os temas variam desde segurança até construção emocional, das patologias da família às dificuldades de educação.
As formações acontecem semestralmente, com oito encontros mensais. Em cada temporada, participam 90 pessoas, que é a capacidade máxima da sala onde acontece o encontro, na Cúria Metropolitana de Curitiba. Este ano, as formações terão início no próximo domingo, 16.
Diálogo e escuta
Mara explica que um dos aspectos mais importantes do trabalho do SOS é o treino para o diálogo e para a escuta. “O que não significa somente aconselhamento, mas uma forma de ouvir que é capaz de acolher profundamente. E também é preciso treino e conhecimento para fazer este trabalho. E isso é feito na formação”.
Ela aponta que a maior dificuldade é o conhecimento de si, logo este é um ponto trabalhado de forma integral nas formações. “Por isso aprofundar as questões emocionais, conhecer o outro, entender as fragilidades, as vulnerabilidades”.
“Os maiores problemas dos relacionamentos, em geral, são as questões emocionais. As dificuldades de conversar, de dialogar”, destaca a psicóloga.
Frutos deste projeto
Mara lembra que são muitos os testemunhos das pessoas que são formadas pelo SOS Família, mas o que mais a impressiona é ver o primeiro dia em que os participantes chegam para a formação, quando é trabalhada a dimensão sobre “ser amado” e redescobrir o relacionamento com Deus.
“Antes de falar de relacionamentos externos, o SOS trabalha em cada formação esse relacionamento com Deus, que depois se estende ao irmão”, explica. Ela considera esse um dos maiores frutos deste tempo de formação do projeto SOS. “Todas as pessoas logo se sentem acolhidas e partilham isso no grupo ‘ nos sentimos amados por Deus'”.
Milton Kloster Júnior trabalha há três anos, juntamente com sua esposa Rita, na Pastoral Familiar na Paróquia do Santíssimo Sacramento em Curitiba. Este ano, ele irá participar da formação do SOS Família pela terceira vez.
Ele conta que sempre foi engajado na Igreja, em outras pastorais, mas após passar por problemas no casamento, quando sentiram-se perdidos e sem apoio, encontraram a ajuda que precisavam na comunidade paroquial. A partir disso, nasceu a vontade de participar da Pastoral Familiar.
“Hoje em dia, a família enfrenta muitos problemas graves, e cada dia os relacionamentos estão ficando mais difíceis. Então, sentimos de fazer esse trabalho para ajudar os casais. E decidimos, eu e minha esposa, nos preparar para dar o melhor atendimento para essas pessoas que precisam”, conta Milton.
Aprender a escutar
Após fazer duas formações do SOS Família, Milton afirma que já não consegue imaginar o trabalho de atendimento às famílias sem o aprendizado do curso. “Por mais que tenhamos passado pelos nossos problemas, cada casal tem suas dificuldades particulares, e a Pastoral Familiar nos prepara para atender todos os tipos de problemas. Para cada situação é preciso estar preparado, e eu procuro fazer o curso todos os anos, porque ele é muito dinâmico, a gente pratica essas ações dentro do curso. Pratica a escuta e vai adquirindo novos conhecimentos”, explica.
Ele lembra que já atendeu casais com crises matrimoniais muito fortes, e antes de fazer o curso, pensava que para ajudar precisava falar, mas o curso ensina que o mais importante é saber ouvir. “Escutar os casais em crise, e essa escuta tem que ser treinada, para que você não acabe passando alguma verdade sua. E muitas vezes com essa escuta, o casal consegue ele mesmo perceber a situação que está vivendo e consegue mudar. É fazer o papel de Jesus, Ele não fazia sermão para a pessoa, mas ouvia (…). Parece simples, mas é complicado”.
Dificuldade de pedir ajuda
Milton conta que as pessoas, em geral, demoram para procurar ajuda quando estão com problemas de relacionamento, por terem dificuldade de se abrir. E os casais acabam procurando esse apoio quando estão em uma realidade já muito complicada, estão muito “machucados”.
Ele explica que a Pastoral Familiar está sempre disponível para atender aos casais e para ajudar nos problemas familiares, e as paróquias têm o telefone dos agentes para marcar os atendimentos.
Projeto SobreViver
Este ano, em vista do projeto SobreViver lançado em 2019, na Arquidiocese de Curitiba, o SOS Família vai aprofundar sobre a questão do suicídio. “Já falávamos anteriormente na questão de psicopatologia, mas este ano vamos trabalhar um pouco mais”.
Dentro do projeto SobreViver existem três frentes de trabalho, um programa de televisão direcionado aos jovens (que será lançado depois da Quaresma), e para as famílias será trabalhado um programa de formação no site da Cúria Metropolitana, focando em questões que envolvem a falta de sentido na vida.