EDUCAÇÃO

Brasil tem 8,7% da população, acima de 15 anos, analfabeta

Brasil registra 13 milhões de pessoas analfabetas, sendo 8,7% da população acima de 15 anos; professora relata experiência de ensinar pessoas a ler e escrever

Monique Coutinho
Da redação

Com o objetivo de estimular a educação no mundo todo, a ONU instituiu o dia 8 de setembro como o dia internacional da alfabetização. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), aprender a ler e a escrever é um direito humano e é fundamental para que os objetivos individuais de cada pessoa sejam alcançados, podendo gerar benefícios humanos,  sociais e econômicos.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constou que no Brasil existem cerca de 13 milhões de pessoas analfabetas, sendo 8,7% da população acima de 15 anos.

EJA

Existem cerca de 13 milhões de pessoas analfabetas, sendo 8,7% da população acima de 15 anos / Fonte: Reprodução EJA (Educação para jovens e adultos)

Ensinar crianças a ler e escrever já é um desafio, mas educar os adultos se torna ainda mais complicado, explica a professora do Projeto de Alfabetização de Jovens e Adultos (PRAJÁ), de Niterói (RJ), Renata Lauria. Segunda ela, uma das coisas que bloqueiam os adultos de aprender é a grande bagagem que eles já trazem.

“As crianças têm mais facilidade em aprender do que os adultos. Porque o adulto já vem com muita bagagem negativa e vem com quase uma certeza de que não terão a capacidade de aprender. A criança não tem nada disso, ela já entra na escola e vai com a turminha dela”, diz.

Para a professora, os adultos analfabetos enfrentam diversas dificuldades quando se matriculam em uma escola, mas duas delas se destacam: o medo e o excesso de trabalho. “A principal dificuldade é o medo. Eles são muito apreensivos na hora de aprender e ficam achando que não vão conseguir alcançar o que nós estamos ensinando para eles. E também, como eles trabalham o dia inteiro, ficam sem tempo para praticar o que aprendem a cada aula”.

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A educação é uma das áreas mais atingidas com as complexidades que o Brasil enfrenta. Para Renata, o país precisa investir também nos professores, pois muitos não se interessam pelo setor por causa da desvalorização da profissão.

“As vezes as pessoas nem procuram tanto trabalhar nessa área, pois quanto mais informações a pessoa tem, mais ela vai se distanciando e perdendo o interesse em trabalhar com a alfabetização. Não só em questão salarial, mas as escolas públicas estão muito abandonadas, não temos muitos materiais para trabalhar. O governo deveria investir mais na educação. As vezes os alunos nem merenda escolar têm”, afirma.

Apesar de toda essa realidade, a professora afirma que é muito bom trabalhar e ter esse contato com os alunos, mas triste ver que muitos deles não levam adiante essa necessidade de aprender. “É muito bom, gostoso o contato com eles, mas triste ver que muitos não levam adiante o processo, porque eles realmente tem que privilegiar o trabalho. É isso que é mais complicado, mas como professora é muito gratificante”.

Superação

dona maria e seu esposo

Maria Izabel Miranda e seu esposo, Realtino Fancisco / Fonte: arquivo pessoal

Um exemplo de superação é da dona de casa Maria Izabel Miranda, de 62 anos. Analfabeta até os 58 anos, dona Maria relata que não pôde estudar durante a infância porque precisava trabalhar.

“Eu morava na roça e lá era muito difícil pra gente estudar. Quando eu tinha oportunidade, meu pai levava a gente para fazer a plantação. Trocava o estudo pelo trabalho”.

Ela conta ainda que sofreu muito por não saber ler e escrever e que tinha vergonha quando precisava ir a algum lugar, mas dependia de informações das pessoas para pegar ônibus. “Eu tinha vergonha. Às vezes as pessoas não gostavam de dar informações e outras me ensinavam errado. Tinha uma grande dificuldade de querer ir em um lugar, pegar ônibus, não saber qual era e ter que ficar perguntando”.

A iniciativa para que Maria Izabel começasse a estudar partiu das duas filhas, Dalila Miranda e Idalina Miranda. “As minhas filhas Dalila e a Idalina colocaram na minha mente para estudar. Porque a minha filha mais velha faleceu e eu fiquei muito preocupada, chorando e nervosa e elas falaram pra eu procurar alguma coisa para fazer, pra eu me ocupar e não ficar dentro de casa. Foi onde me levou a estudar”, confirma Maria.

Ao concluir, dona Maria pede para que as pessoas não sintam vergonha de aprender a ler e escrever, porque a escola é própria para esses. “Tem o EJA que é a alfabetização de jovem e adulto. Lá tem a professora que da atenção, tem jovem e adulto na escola onde estudo. Não tenham vergonha, porque já é uma escola para aqueles que não teve escolaridade na infância.”

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