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Bispo indica como colocar "ponto final" no tráfico humano

Dom Antônio Augusto traz dados sobre o tráfico humano e indica algumas atitudes necessárias para acabar com esse crime

Dom Antônio Augusto Dias Duarte
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

dom antonioO futebol tem seus momentos de glória, de festa com muita alegria e de premiação pela vitória conquistada com a dedicação e o esforço dos atletas.

A Copa do Mundo, em realização no Brasil, também tem momentos gozosos e gloriosos, mas levanta uma questão social bastante dolorosa e que preocupa não só as autoridades públicas, mas a Igreja Católica.

É a questão social do tráfico humano, que foi o tema da Campanha da Fraternidade 2014 da CNBB e do encontro promovido pela Pontifícia Academia de Ciências Sociais, entre os dias 2 e 3 de novembro de 2013, em Roma.

A cobertura jornalística internacional da Copa do Mundo de Futebol proporciona mais uma oportunidade para refletir sobre essa tão dolorosa situação, e que requer uma urgente solução. Concretamente, o que cabe fazer com o tráfico de crianças e de mulheres; com o problema de jovens, que são atraídos para a prática do futebol em outros países, e lá são prostituídos e escravizados. Também é uma grande injustiça social ver tantos imigrantes obrigados a trabalhar em regime de escravidão, para ter, assim, o mínimo de recursos para sobreviver. Estamos diante do triste tráfico de um semelhante, de uma pessoa que, merecedora de respeito e amor, é vista apenas como um meio de lucro.

Há o tráfico humano no Brasil e no mundo, existem traficantes, que não levam só drogas químicas, mas são piores dos que vendem crack, maconha e cocaína. Eles compram e vendem crianças, mulheres, famílias e, com tanto empenho nessa desonrosa atividade, que os números mostram uma realidade assustadora desse crime horrendo.

Estimativas feitas sobre essa indigna e condenável atividade indicam que há de 20 a 27 milhões de pessoas gerando cerca de 32 bilhões de dólares por ano. Dessa estimativa sobre as pessoas extrai-se ainda os seguintes dados: 27% são crianças e adolescentes abaixo dos 18 anos, 59% são mulheres e 14% são homens. Entre 3 vítimas menores de idade, 2 são meninas. Entre os anos 2007 e 2010, foi constatado que as vítimas procediam de 136 nacionalidades diferentes.

A exploração sexual e os trabalhos forçados são os objetivos desses criminosos, que vão transformando seres humanos em mercadorias rentáveis. Infelizmente, essa realidade está presente em países europeus, africanos, asiáticos e latino-americanos, e a pergunta, que fica suspensa no ar diante dessa calamidade mundial, reclama de todos nós uma resposta mais concreta.

O que eu posso fazer diante do tráfico humano?

Uma resposta inicial nos é dada pelos participantes do encontro realizado, em Roma, no segundo semestre de 2013. Ela é uma resposta séria para todos os homens e mulheres comprometidos com um mundo melhor, mais justo e humano.

“Existe, hoje, uma necessidade contundente e inegável de colocar um ponto final ao tráfico de pessoas e a todas as formas de exploração, em particular a prostituição, o trabalho forçado, e extração ilegal de órgãos humanos, a utilização de crianças para a venda de drogas e a produção de material pornográfico, sobretudo na internet”.

O ponto final só será colocado se cada Governo, comprometido com o bem comum, tiver uma política de direitos humanos baseada realmente na dignidade sublime da pessoa humana, que nos exorta ao respeito pela vida humana, desde sua concepção até seu término natural.

O ponto final só será colocado se legisladores, juízes e magistrados, médicos e jornalistas, advogados e publicitários, escritores e formadores de opinião pública, forem homens de personalidade mais forte e digam não a todas as ações profissionais que tenham como objetivo direto o descarte e o desprezo de seres humanos.

O ponto final só será colocado se cada um de nós, cristãos, católicos, muçulmanos, judeus, budistas, afrodescendentes, hinduístas etc., formos pessoas corajosas para denunciar qualquer tipo de tráfico humano; sobretudo, se formos pessoas que sabem acolher o irmão que sofre, a irmã que é tratada como uma coisa, as crianças que são consideradas só como um grupo de células para pesquisas biomédicas.

O ponto final só será colocado se vozes clamarem no deserto, como fez João Batista, para anunciar que Jesus é o irmão primogênito, que veio ao mundo para resgatar os homens e as mulheres criados à imagem e semelhança de Deus. Sejamos vozes de irmãos e de irmãs que, em uníssono, clamam e rezam: “Pai Nosso, que estás no céus, não nos deixeis cair na tentação” de considerar nosso próximo, nosso irmão, como uma coisa vendável, que vai nos trazer uma vantagem econômica.

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