Coronavírus

Ações de solidariedade contagiam em meio à quarentena

Pelas redes sociais, cidadãos e empresas têm se colocado à disposição para ajudar quem precisa

Denise Claro
Da redação

A pandemia pelo coronavírus têm assustado a muitos. O Brasil completou, na última semana, um mês do primeiro caso de covid-19 no país. Os meios de comunicação informam, quase que 24h por dia, sobre os números da pandemia, os cuidados e as orientações para que as pessoas fiquem em casa, como única forma de desacelerar o contágio e achatar a curva, evitando a sobrecarga do sistema de saúde.

Em isolamento social, muitos se sentem ociosos, e estão em busca de atividades para este período. E em meio a esta situação, difícil para todos, iniciativas de solidariedade surgem, como forma de ajudar quem precisa.

O jovem Lucas Ulisses, de 25 anos, mora com os pais e está trabalhando em home office neste período de isolamento social. Ele conta que, a partir de postagens que viu nas redes sociais, teve a ideia de se colocar à disposição de pessoas idosas para ajudar com compras e idas necessárias à rua, visando protegê-las:

Lucas Ulisses se dispôs, pelas redes sociais, a ajudar os idosos em suas necessidades./ Foto: Reprodução Facebook

“Achei legal o gesto de solidariedade, então decidi contribuir também. Acredito que não apenas neste tempo de quarentena, mas em qualquer momento, os idosos merecem uma atenção maior. Agora, especificamente, eles são o grupo de maior risco, mas, pela idade e pelas limitações, não conseguem mais também realizar coisas que antes conseguiam. Temos que cuidar deles, pois a covid-19 para eles pode ser fatal.”

“Uma pessoa entrou em contato comigo perguntando se poderia mesmo contar com minha ajuda, e eu confirmei. Estou à disposição, para ajudar no meu horário livre. Até mesmo essa ajuda tem um fator emocional: as pessoas se sentem protegidas e, ao mesmo tempo, pode ser esta uma oportunidade de criar laços, fazer amizades.”

Hoje, você vai receber uma pizza

Pizzaria em Cachoeira Paulista teve iniciativa solidária./ Foto: Reprodução Facebook

Em Cachoeira Paulista, uma pizzaria teve uma ideia criativa. Também pelas redes sociais, lançou uma proposta diferente, de entregar, por dia, uma pizza e um refrigerante a uma família que, neste tempo, estiver passando por dificuldades financeiras. O proprietário, Pedro Quintanilha, explica de onde surgiu a iniciativa:

“A gente teve a ideia da campanha pensando naqueles que têm menos, tentando ajudar um pouco em meio a essa crise que todos vão passar. A gente está ajudando uma família por noite. Isso é o mínimo que podemos fazer.”

A pizzaria funciona há 15 anos, e Quintanilha se sente grato por poder estar trabalhando, em um momento em que muitos profissionais estão incapacitados de fazer o mesmo:

“Muitos não estão tendo como levar o sustento para casa. Nossos clientes nos passam os endereços das famílias, e nós ligamos avisando que, naquela noite, elas não precisam se preocupar com o jantar, pois vão receber uma pizza em casa.”

O proprietário ressalta que as pessoas estão reagindo bem, e já houve até cliente pagando por pizzas a mais para serem entregues:

“É uma corrente do bem. Acho que quem pode deve ajudar. Estamos fazendo a nossa parte. Nosso objetivo é ajudar uma família por noite, e vamos continuar com essa campanha até o fim, até tudo se normalizar. Ações como essa ajudam a tornar as coisas menos difíceis.”

Egoísmo x Solidariedade

A psicóloga Elaine Ribeiro lembra que, em um primeiro momento, a pandemia pode ter despertado em muitos aspectos mais egoístas.

“As pessoas se preocuparam em cuidar de si e dos seus próximos: abastecer a casa de comida, remédio, água. Por um momento, esqueceram do mundo, do coletivo. A solidariedade nos conduz a um sentido maior: se eu estou com restrições diversas em minha vida, posso observar ao meu redor e perceber que as pessoas possuem necessidades maiores que as minhas, e com isso podem receber minha ajuda das mais variadas formas. Ao sentir-me colaborando, com ações direcionadas, sinto-me participante do meio e saio apenas das minhas necessidades.”

Elaine avalia que a solidariedade coloca em ação um elemento muito importante, que é a empatia, a capacidade de colocar-se no lugar do outro, de perceber necessidades alheias e sair da condição individual para ajudar as pessoas. Para ela, ações de ajuda podem contribuir para uma melhora efetiva nos estados de humor, no equilíbrio emocional, no favorecimento de emoções positivas, de otimismo e de autoconfiança, de quem ajuda e de quem é ajudado:

“Fazer o bem essencialmente faz bem. Gera um sentimento de coletividade, de colaboração, de agradecimento por termos mais recursos ou possibilidades físicas ou emocionais do que as pessoas que estão sendo ajudadas. A generosidade nos leva a perceber que o outro também passa pelas mesmas dificuldades e realidades como nós. Iguala-nos na necessidade, embora possam existir distâncias sociais, por exemplo. Ajudar ao outro nos dá pertencimento a algo maior, digno, cheio de sentido, que quebra nosso individualismo e nosso pertencimento a um grupo social, maior que meu entorno ou meu universo particular.”

Elaine acredita que, se bem vividos, os dias de distanciamento social podem ser um treinamento para a vida futura, gerando experiências importantes:

“Poderemos, a partir dessa vivência, repensar a forma que levamos nossa vida e nossos relacionamentos, como estamos conduzindo-os e administrando-os. É importante que estejamos atentos ao outro, que percebamos que não estamos sozinhos neste mundo, e que o egoísmo pode nos levar ao nada. Apenas olhando ao redor e percebendo que fazemos parte de um coletivo, poderemos mudar as atitudes frente ao mundo que está doente, não apenas em seu físico mas em seu emocional. É tempo de revisão de vida.”

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