Entrevista

Fé e razão andam sempre juntas, é impossível separá-las, diz padre

Quem crê, raciocina. Quem raciocina, percebe que é impossível chegar à verdade por conta própria, mas apenas com o auxílio da autoridade de alguém. E o que isso significa exatamente?

"A fé, sem a razão, é cega, totalmente. E a razão, sem a fé, enlouquece", responde o vigário judicial da Arquidiocese de Cuiabá (MT) e apresentador do programa Oitavo Dia pela TV Canção Nova, padre Paulo Ricardo.

Nestes dias 4 e 5, o sacerdote é uma das presenças confirmadas para o Aprofundamento universitário A quem você quer servir?, que acontece na sede da comunidade Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP).

Nesta entrevista exclusiva ao noticias.cancaonova.com, o sacerdote fala sobre a busca pela verdade, a inexistência de contradição entre fé e razão, bem como a característica de quem deseja empreender uma procura autêntica por Deus.

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.: Podcast: Entrevista com padre Paulo Ricardo

noticias.cancaonova.com: Padre Paulo, o Papa Bento XVI tem sido bastante enfático em diversos pronunciamentos, desde o início de seu pontificado, acerca da relação entre fé e razão. Ele reforçou que ambas são plenamente compatíveis, ao afirmar que "a fé consolida, integra e ilumina o patrimônio da verdade que a razão humana adquire"; em outra ocasião, indicou que "entre a fé cristã e a razão subsiste uma harmonia natural".

Hoje, em plena sociedade contemporânea, há diversas estratégias que buscam quebrar exatamente isso que é proposto pelo Pontífice. Fé e razão, afinal de contas, são compatíveis, ou existe algum tipo de obstáculo, barreira entre essas duas dimensões?

Padre Paulo Ricardo: Na realidade, estamos falando de duas formas de conhecimento da verdade. Posso conhecer a verdade, primeiro, através de um raciocínio, onde eu penso nas coisas que vejo e deduzo qual seja a verdade a esse respeito. Aí, uso minha própria força de raciocínio humano. Mas existe outra forma de conhecer as coisas. É quando uma pessoa, mais inteligente do que eu, que sabe mais do que eu sei, vem me dizer essa verdade. Por exemplo, quando nos deparamos com certas verdades científicas, nós não fizemos pessoalmente aquelas pesquisas para saber se elas funcionam ou não. Nós estamos aceitando a autoridade de uma outra pessoa, que supomos que seja honesta, que não está nos enganando, e tampouco se enganando.

Se os cientistas são capazes de aceitar isso entre si, porque não são capazes de aceitar que Deus mesmo possa dizer algo? Deus, quando Ele fala, não Se engana, não me engana, e fala com a autoridade de quem sabe qual é a verdade. Por isso, uma coisa é conhecer a verdade através da minha razão – eu por mim mesmo -, e outra é conhecer a verdade através da autoridade de Deus que se revela. No entanto, é sempre conhecer a verdade. A verdade é a mesma. Por isso, não existe contradição entre aquilo que Deus revela e aquilo que eu sou capaz de conhecer a partir da realidade.

Afinal, o Deus que fez as coisas que eu estou estudando é o mesmo Deus que se revela. Não são duas pessoas diferentes. Por isso, não haverá nunca contradição.

noticias.cancaonova.com: Ao mesmo tempo, o senhor citou que são duas formas diferentes de acessar, de chegar ao conhecimento da verdade. Essas duas formas podem se excluir mutuamente? Eu posso optar apenas pela fé, ou apenas pela razão? Ou, então, quem opta por seguir o caminho da fé juntamente com a razão consegue chegar mais plenamente à verdade?

Padre Paulo: É que, na verdade, não existe uma opção a ser feita. Não é que eu possa optar pelo caminho da razão ou pelo da fé. É impossível viver sem as duas. A fé, sem a razão, é cega, totalmente. E a razão, sem a fé, enlouquece, como vemos no dia a dia desses cientistas que tentam viver sem a fé. São duas realidades que são os dois lados de uma só moeda.

Não somente não se excluem – como se eu devesse fazer um esforço para tentar conciliar a fé e a razão -, mas, ao contrário, para separar as duas é que precisaria se fazer um esforço. As duas coisas, necessariamente, andam juntas, e essa tentativa de fazer com que as duas briguem entre si é que é artificial.

noticias.cancaonova.com: Em outra ocasião, o Papa Bento XVI afirmava que a característica principal do homem que deseja viver uma busca autêntica pela verdade de Deus é "viver sempre a profunda sintonia entre razão e fé, ciência e revelação". Logo, quem deseja buscar verdadeiramente a Deus não pode ser tampouco fideísta e tampouco racionalista, seria isso?

Padre Paulo: Sim. Veja bem, quem é o fideísta? O fideísta é quem diz "eu conheço a verdade apenas pela fé, porque a razão é capaz somente de produzir ídolos, coisas falsas". Bem, isso não é sustentado. Por quê? Porque o homem que crê termina raciocinando sobre a sua própria fé, é aquilo que chamamos de teologia. É uma fé que busca a razão.

Ao mesmo tempo, ao contrário, o racionalista é aquele que quer seguir somente a razão e rejeitar a fé. Bom, isso também não funciona. Por quê? Porque ninguém é capaz de conhecer tudo com a própria razão. Sempre é preciso aceitar a autoridade de alguém. Você não fez todas as experiências, você não comprovou todas as coisas. Você sempre tem que viver a partir de uma autoridade. E isso é fé, fé humana, mas é fé.

Assim, também, quem irá dar um fundamento à sua razão se não for Deus? Logo, a razão, sem a fé, se torna absurda.


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