Catequese

Amizade é característica dos santos, ensina Bento XVI

Após uma série de Catequeses dedicadas aos temas do sacerdócio e de suas últimas viagens apostólicas, Bento XVI retornou ao tema principal dos tradicionais encontros das quartas-feiras neste ano: os pensadores da Idade Média.

São Tomás de Aquino foi o personagem escolhido pelo Papa para essa retomada. No seu amplo leque de escritos, o santo da Ordem Dominicana contou com a ajuda de alguns secretários, entre os quais destaca-se irmão Reginaldo, com quem teceu uma amizade fraterna.

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.: Catequese de Bento XVI sobre São Tomás de Aquino (parte 1)

“Essa é uma característica dos santos: cultivam a amizade, porque é uma das manifestações mais nobres do coração humano e tem em si algo de divino, como Tomás mesmo explicou em algumas quaestiones da Summa Theologiae, na qual ele escreve: ‘A caridade é a amizade do homem com Deus em primeiro lugar, e com os seres que a Ele pertencem'”, destacou.

O Santo Padre centralizou sua reflexão no papel crucial desempenhado por Tomás durante o período em que a obra do filósofo grego e pré-cristão Aristóteles começava a ser ensinada e conhecida no mundo latino.

“Encontraram-se duas culturas: a cultura pré-cristã de Aristóteles, com sua racionalidade radical, e a clássica cultura cristã”, indicou. Nesse momento, Tomás soube achar uma terceira via entre a tendência que temia o pensamento pagão do filósofo e aquela que via em tal saber a possibilidade de uma vantajosa renovação cultural.

Através de um estudo minucioso de Aristóteles e seus intérpretes, Tomás não ficou mais dependende dos comentadores árabes, responsáveis por levar o pensamento aristotélico ao mundo latino, bem como teve a ousadia de distinguir o que era válido do dúbio ou refutável na obra do pensador grego.

“Em definitivo, Tomás de Aquino mostrou que entre a fé cristã e a razão subsiste uma harmonia natural. E essa foi a grande obra de Tomás, que naquele momento de confronto entre duas culturas – aquele momento no qual parecia que a fé devia render-se diante da razão – revelou que elas são indissociáveis, que quando aparecia razão não compatível com a fé não era razão, e que quando aparecia fé não era fé de oposta à verdadeira racionalidade; assim ele criou uma nova síntese, que formou a cultura dos séculos seguintes”.

Também por isso “não surpreende que, após Santo Agostinho, entre os escritores eclesiásticos mencionados no Catecismo da Igreja Católica, São Tomás seja citado mais que qualquer outro, por não menos de sessenta vezes”, ressaltou o Pontífice.

Pregação e liturgia

O Santo Padre salientou que os textos litúrgicos de Corpus Christi, celebrada amanhã, 3, foram compostos por São Tomás, a pedido do Papa Urbano IV.

“Tomás tinha uma alma absolutamente eucarística. Os belíssimos hinos que a liturgia da Igreja canta para celebrar o mistério da presença real do Corpo e do Sangue do Senhor na Eucaristia são atribuídos à sua fé e conhecimento teológico”.

Da mesma forma, afirmou que o santo dominicano não se dedicou apenas ao estudo e ao ensino, mas também a pregar ao povo, que também o ouvia de bom grado, como os alunos nos centros universitários.

“Diria que é realmente uma grande graça quando os teólogos sabem falar com simplicidade e fervor aos fiéis. O ministério da pregação, além disso, ajuda os próprios estudiosos de teologia a um são realismo pastoral, e reforça com vivazes estímulos a própria pesquisa”.

Recompensa

O final da vida terrena de Tomás foi cercado de mistérios, conforme o Papa. Ele cita dois exemplos.

O primeiro aconteceu em 1273, após a celebração da Missa, o santo decidiu interromper todo o trabalho, pois havia compreendido que tudo quanto havia escrito era somente “um monte de palha”.

“É um episódio misterioso, que nos ajuda a compreender não somente a humildade pessoal de Tomás, mas também o fato de que tudo o que possamos pensar e dizer sobre a fé, por mais elevado e puro, é infinitamente superado pela grandeza e beleza de Deus, que nos será revelada em plenitude no Paraíso”, explicou Bento XVI.

Já o segundo é transmitido por antigos biógrafos do santo.

“Enquanto o Santo, como de costume, estava em oração diante do Crucifixo, no início da manhã na Capela de São Nicolas, em Nápoles, Domenico da Caserta, o sacristão da igreja, ouviu desenvolver-se um diálogo. Tomás perguntava, preocupado,se o que ele havia escrito sobre os mistérios da fé cristã estava certo. E o Crucifixo responde: ‘Tu tens falado bem de mim, Tomás. Qual será a tua recompensa?’. E a resposta que Tomás ofereceu é aquela que também nós, amigos e discípulos de Jesus, desejamos sempre dar: ‘Nada além de Ti, Senhor!'”, concluiu.

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