Amados irmãos do ministério ordenado, prezados irmãos e irmãs na graça batismal, celebramos, hoje, a memória litúrgica de Santo Estanislau, bispo e mártir polonês. O grande bispo de Cracóvia, ao longo de sua vida apostólica, teve duas grandes predileções: os pobres e os sacerdotes de sua diocese. Intrépido defensor da liberdade da Igreja e da dignidade da pessoa humana, denunciou, firmemente, a crueldade do rei Boleslau II e, por isso, foi martirizado enquanto celebrava a Santa Missa.
Na primeira leitura, ouvimos o sempre comovente relato da conversão de Paulo. A bela narração se concentra em torno de dois pólos: o diálogo da aparição e a missão confiada àquele que, de perseguidor dos cristãos se torna um instrumento escolhido para levar o nome de Jesus aos pagãos, aos reis e ao povo de Israel. No caminho de Damasco, Saulo reconhece Jesus de Nazaré e descobre a identidade entre Jesus, que agora encontrou, e os cristãos que tanto havia perseguido. Revê-la a Paulo o mistério de Cristo, cabeça e corpo da Igreja. Esse duplo reconhecimento é que vai motivar Paulo para a urgência da missão. Depois de passar alguns dias com os discípulos, em Damasco, ele logo começou a pregar nas sinagogas, afirmando que Jesus é o Filho de Deus.
A narração da conversão de Saulo traz consigo a apresentação de sua vocação apostólica. Como os demais apóstolos, também ele viu o ressuscitado e foi, por ele, enviado a pregar. Entretanto, de acordo com a narração de Lucas, o chamado que Cristo dirigiu a Saulo deveria ser ratificado pela Igreja. Cristo manda Paulo à igreja; batizado por Ananias, este abre seus olhos. A experiência pessoal com o ressuscitado transformou Saulo em discípulo e missionário de Jesus Cristo. Essa verdade, logo nos remete à Conferência de Aparecida, cujo documento final buscamos traduzir em nossas diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja do Brasil que aprovamos na 46ª Assembléia Geral da CNBB.
O acontecimento de Cristo é, portanto, o início desse sujeito novo, que surge na história, a quem chamamos discípulo. Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá um novo horizonte à vida, e, com isso, uma orientação decisiva. Isso é o que, justamente com apresentações diferentes, todos os Evangelhos nos conservam como sendo o início do Cristianismo, um encontro de fé com a pessoa de Jesus. A própria natureza do Cristianismo consiste em reconhecer a presença de Jesus Cristo e seguí-Lo. Essa foi a maravilhosa experiência daqueles discípulos que, encontrando Jesus, ficaram fascinados e cheios de assombros frente à excepissionalidade de Quem lhes falava, diante da maneira com que os tratava, coincidindo com a fome e sede de vida que havia em seus corações.
O trecho do discurso sobre o pão da vida, do Evangelho de João, que nos foi proclamado, coloca no centro a solene afirmação de Jesus: “Minha carne é verdadeira comida e meu sangue, verdadeira bebida” (Jo 6,55). Em seguida, o evangelista aponta para os efeitos da Eucaristia. A doação da carne de Cristo gera vida e ressurreição: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54). A categoria de vida é muito própria do Evangelho de João: “Eu sou a vida”. Comer o pão da vida é inserir-se na vida do Ressuscitado e entrar em sua dinâmica escatológica. “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56).
Outro termo típico de João é permanência, que nesta liturgia aparece com outro efeito sacramental da Eucaristia: “O Filho permanece no Pai e o Pai permanece no Filho”. A união com Cristo é comparada aos ramos que permanecem na videira e tem vida. A mesma realidade aplica-se à Eucaristia: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”. Os efeitos da Eucaristia chegam à sua mais densa expressão na comparação que faz Jesus de sua relação com o Pai e que se estabelece entre o próprio Cristo e aquele que se une a Ele pela Eucaristia. “Como o Pai que vive me enviou, e eu vivo por causa do Pai, assim o que me come viverá por causa de mim”. Jesus havia prometido e prefigurado, no sinal da multiplicação dos pães, cumpre-se, plenamente na Eucaristia, onde Jesus se entrega por nós ao Pai com sacrifício e a nós como alimento na comunhão. O pão dado por Jesus é infinitamente superior ao maná que o prefigurou. “Esse é o pão que desceu do céu; não é como aquele que vossos pais comeram, eles morreram. Aquele que come deste pão, viverá para sempre”. Amém.