Dom Bizzeti, ex-Vigário Apostólico da Anatólia, fala sobre a próxima viagem apostólica do Papa à Turquia, um “mosaico” de diferentes comunidades religiosas
Da redação, com Vatican News

Dom Paolo Bizzeti fala sobre a vindoura visita de Leão XIV à Turquia / Foto: Reprodução Youtube
“Nos meses que se seguiram ao terremoto, trabalhamos lado a lado, derrubando antigas barreiras de divisão e mostrando que a forma mais profunda de diálogo inter-religioso, como costumava dizer o Papa Francisco, é o diálogo da vida, especialmente no serviço aos pobres.”
O bispo Paolo Bizzeti, que presidiu a Cáritas Turquia de 2019 até poucos dias atrás, ainda guarda com carinho essa colaboração inter-religiosa como uma das experiências mais significativas de seus muitos anos no país.
O bispo, que foi Vigário Apostólico Latino da Anatólia de 2015 a 2024, conhece bem a região.
Em entrevista à Vatican News, ele compartilhou suas reflexões e esperanças para a próxima viagem apostólica do Papa Leão XIV à Turquia — uma visita que o levará a Ancara, Istambul e İznik, antigamente conhecida como Niceia, para as comemorações do 1700º aniversário do Primeiro Concílio Ecumênico.
Vatican News — De 27 a 30 de novembro, o Papa Leão XIV fará sua primeira viagem apostólica. Ele irá à Turquia, onde os cristãos são uma pequena minoria. Na sua opinião, qual o significado desta visita para eles?
Dom Bizzeti — Visitar pessoalmente o rebanho e levar a proximidade do Bom Pastor — esse é o propósito destas viagens papais. A Turquia é um país de imensa importância, não só pelo seu passado — o cristianismo como o conhecemos nasceu em Antioquia, às margens do rio Orontes, na atual Turquia — mas também pela vitalidade da vida cristã nos dias de hoje. A Turquia é uma espécie de laboratório, onde até mesmo a Igreja Latina deve estar presente, ativa e humildemente.
Vatican News — O Papa também celebrará o aniversário do Concílio de Niceia.
Dom Bizzeti — A visita do Papa é também uma importante oportunidade ecumênica, e o aniversário de Niceia ajudará a reavivar o espírito que animou os Padres Conciliares: expressar a fé em novos termos e categorias, e buscar o que une, como exortou o Papa São João XXIII. Essa é uma tarefa que devemos sempre recomeçar.
Vatican News — Que tipo de cenário religioso o Papa Leão XIV encontrará ao chegar?
Dom Bizzeti — A Turquia é um mosaico. Há o islamismo político, o islamismo religioso tradicional, a corrente mística sufi, o movimento alevi, o agnosticismo ou uma espécie de deísmo para muitos — e, claro, significativas minorias cristãs. O trabalho pastoral católico, no entanto, é severamente limitado por leis e costumes que dificultam a construção de capelas, centros para jovens ou espaços culturais. Tudo acontece dentro de algumas poucas paróquias, estabelecidas há um século pelo Tratado de Lausanne.
Vatican News — Em 6 de fevereiro de 2023, um terremoto de magnitude 7,8 na escala Richter atingiu as áreas fronteiriças entre a Síria e a Turquia, causando, segundo relatos, mais de 50 mil vítimas. A resposta da Caritas Turquia, apesar das enormes dificuldades, foi massiva, dedicada e eficaz. Como foi essa experiência?
Dom Bizzeti — Acredita-se que o número real de mortos tenha sido muito maior, e centenas de milhares de pessoas foram deslocadas. Foi uma imensa tragédia que revelou nossa fragilidade humana, e seus efeitos ainda pesam muito sobre as comunidades mais pobres. Para nós, da Caritas, foi uma provação que nos obrigou a crescer rapidamente — não sem dificuldades e erros. Mas ficamos muito felizes por termos dado nossa contribuição, por termos colaborado com organizações de ajuda humanitária locais e nacionais e por termos sido convocados e agradecidos oficialmente em Ancara. Fomos reconhecidos, algo inédito, como uma organização que ajuda as pessoas de forma altruísta, sem distinção. Como católicos, temos orgulho de termos dado nossa pequena contribuição, utilizando bem a ajuda que chegou generosamente dos quatro cantos do mundo.
Vatican News — O trabalho da Caritas Türkiye, que ajuda tanto muçulmanos quanto cristãos sem discriminação, tem um efeito positivo nas relações entre os dois grupos religiosos?
Dom Bizzeti — Nos meses que se seguiram ao terremoto, trabalhamos lado a lado, derrubando antigas barreiras de divisão e mostrando que a forma mais profunda de diálogo inter-religioso, como costumava dizer o Papa Francisco, é o diálogo da vida, especialmente a serviço dos pobres.
Vatican News — Qual efeito você acredita que a visita apostólica do Papa terá sobre aqueles que trabalham para a Caritas Turquia?
Dom Bizzeti — Para todos os colaboradores da Caritas, será uma bela ocasião para se sentirem parte do Povo de Deus — unidos no serviço e no cuidado com os mais vulneráveis, como os cristãos sempre foram, seguindo Jesus, o servo de todos.



