SEMANA SANTA

Liturgia da Paixão do Senhor: 'Cristo é a âncora da nossa esperança'

Na tarde desta Sexta-feira Santa, a celebração da Paixão do Senhor na Basílica de São Pedro contou com a homilia do pregador da Casa Pontifícia

Da redação, com Vatican News

O Cardeal Claudio Gugerotti presidiu a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo / Foto: Yara Nardi – Reuters

Enquanto o Papa Francisco se recupera, o Cardeal Claudio Gugerotti, Prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais do Vaticano, presidiu a liturgia da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo na Basílica de São Pedro na tarde da Sexta-feira Santa. A Sexta-feira Santa é o único dia do ano em que a Santa Missa não é celebrada.

A inteligência que se doa

Na Sexta-feira Santa, não celebramos o fracasso de Deus, mas o seu triunfo misterioso e paradoxal: o da Cruz. Como destacou frei Pasolini, não é a força que salva o mundo, mas a fraqueza de um amor que não retém nada.

“Em uma época como a nossa, tão rica em novas inteligências — artificiais, computacionais, preditivas — o mistério da paixão e morte de Cristo nos propõe outro tipo de inteligência: a inteligência da Cruz, que não calcula, mas ama; que não otimiza, mas se doa. Uma inteligência que não é artificial, mas profundamente relacional, porque é totalmente aberta a Deus e aos outros. Em um mundo em que parecem ser os algoritmos que nos sugerem o que desejar, o que pensar e até mesmo quem ser, a Cruz nos devolve a liberdade de uma escolha autêntica, baseada não na eficiência, mas no amor que se doa.”

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A liberdade de quem se adianta ao sofrimento

No jardim do Getsêmani, recordou o pregador da Casa Pontifícia. Jesus “deu um passo à frente”. Sabendo tudo o que lhe aconteceria, não recuou, mas se ofereceu: “Sou eu!” Assim, mostrou que não foi simplesmente preso, mas que ofereceu sua vida livremente. “Ninguém a tira de mim, mas eu a ofereço por mim mesmo.”

Também nós somos chamados a dar esse passo à frente quando nos deparamos com a dor, a doença, o fracasso. Essa atitude, vivida na fé, não muda os fatos, mas muda o sujeito: liberta interiormente, fortalece a alma, transforma o sofrimento em entrega fecunda.

A sede que acolhe o amor

“Tenho sede.” A agonia do Senhor culmina nesse pedido desarmado, profundamente humano. Jesus, totalmente despojado, revela sua necessidade mais essencial: a de ser amado. Não disfarça sua fragilidade, mas a apresenta, permitindo que o amor do Pai — e também o amor humano — o alcance, sublinhou Pasolini.

Também nós só seremos verdadeiramente humanos quando deixarmos cair as máscaras da autossuficiência e aceitarmos a necessidade como verdade, e não como vergonha. A sede de Jesus encontra o vinagre da terra, mas nela se realiza o encontro entre o desejo de Deus e a carência humana.

O sentido revelado na entrega

“Tudo está consumado.” Não é um suspiro de derrota, mas uma proclamação de sentido. Jesus entrega o espírito e, com ele, sua vida toda. É o ápice da liberdade: escolher amar até o fim, até o extremo. A cruz não é fracasso, mas plenitude. Ali, onde o mundo vê inutilidade, brota a salvação.

Na lógica do Evangelho, destacou frei Roberto, a limitação deixa de ser obstáculo e torna-se lugar de doação. A cruz, que paralisa e tira o fôlego, torna-se o trono de um Rei que reina não por dominar, mas por amar.

A Cruz como trono de graça

Ao concluir, o pregador da Casa Pontifícia recordou que aos pés da cruz somos convidados a renovar a confiança. A liturgia nos propõe adorar silenciosamente o madeiro, não como sinal de dor, mas como “trono da graça”, como recorda a Carta aos Hebreus. É ali que recebemos misericórdia e encontramos auxílio no tempo oportuno, e completou:

“Nesse momento de adoração, teremos a oportunidade de renovar nossa total confiança na maneira que Deus escolheu para salvar o mundo, e também poderemos nos reconciliar com o destino de paixão, morte e ressurreição para o qual nossas vidas estão se encaminhando. Isso não significa que o medo desaparecerá ou que o caminho se tornará seguro de repente. Significa apenas que hoje, no coração deste Jubileu, nós, cristãos, escolhemos o caminho da cruz como a única direção possível para nossas vidas. Estamos cientes de que nossas forças não serão suficientes para fazer esse caminho, mas o Espírito Santo, que já encheu nossos corações de doce esperança, virá em auxílio de nossa fraqueza para nos lembrar da coisa mais importante: assim como fomos amados, também seremos capazes de amar, os amigos e até mesmo os inimigos. Então, seremos testemunhas da única verdade que salva o mundo: Deus é nosso Pai. E todos nós somos irmãs e irmãos, em Cristo Jesus, nosso Senhor.”

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