Celebração da Paixão do Senhor

Cardeal alerta para filosofias que "matam Jesus" e promovem o relativismo

Dom Cantalamessa foi quem conduziu a homilia da Celebração da Paixão do Senhor presidida pelo Papa Francisco nesta Sexta-feira Santa, 7

Julia Beck
Da redação

Celebração da Paixão do Senhor na Basílica de São Pedro, no Vaticano /Foto: REUTERS – Guglielmo Mangiapane

O Papa Francisco presidiu nesta Sexta-feira Santa, 7, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, a Celebração da Paixão do Senhor. O pregador da Casa Pontifícia desde 1982, Cardeal Raniero Cantalamessa, foi quem realizou a homilia.

Em sua reflexão, o purpurado recordou que, há dois mil anos, a Igreja anuncia e celebra, neste dia, a morte do filho de Deus na cruz. A cada missa, Dom Cantalamessa frisou que, após a consagração, toda a Igreja diz: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.

“Outra morte de Deus”

O cardeal comentou então sobre uma “outra morte de Deus”, que é proclamada há cerca de um século e meio, e que hoje, no mundo ocidental descristianizado, tem raiz ideológica e não histórica. O pregador da Casa Pontifícia citou ainda que alguns teólogos, para não parecerem atrasados, apressaram-se em construir sobre ela uma teologia, a teologia da morte de Deus.

“Não podemos fingir, ignorar a existência dessa narrativa”, disse. Dom Cantalamessa citou então o filósofo Friedrich Nietzsche, que em suma trazia em seus pensamentos a ideia de que o homem deveria ser colocado de forma satisfatória e orgulhosa no lugar de Deus.

“Ao ficar só, o homem não é nada”, enfatizou o cardeal. “Ao meditarem hoje a Paixão de Cristo, os católicos devem compreender que o sofrimento une mais a Cristo do que o separa d’Ele”.

Cardeal Cantalamessa durante homilia /Foto: Roger Ferrari – Canção Nova

Pedido de Jesus

A oração de Jesus na cruz foi então retomada pelo pregador da Casa Pontifícia: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Dom Cantalamessa lembrou que a frase de Jesus não foi pronunciada apenas para os presentes naquele dia no calvário.

Foi então que o cardeal alertou para um denominador comum de pensamentos que se assemelham ao de Friedrich Nietzsche: o relativismo. De acordo com ele, o relativismo está sendo imposto em todos os cantos, na ética, linguagem, filosofia, arte e naturalmente, também na religião. “Nada mais é sólido, tudo é líquido e gasoso”, disse.

Dom Cantalamessa ressaltou que é dever de todos os crentes mostrar o que está por trás ou sob o relativismo.

Adão e Eva

O pregador da Casa Pontifícia indicou que o drama humano teve também o seu prólogo no céu, em um espírito de negação de quem não aceitou existir na graça do outro. Os primeiros a serem recrutados foram “os ingênuos Adão e Eva”, quando a serpente os seduziu sob o pretexto de que seriam como Deus, conhecedores do bem e do mal.

Para o homem moderno, Dom Cantalamessa pontuou que tudo isso, a história da criação, não passa de um mito etiológico para explicar o mal.

“Na história, literatura e na própria experiência espiritual, nos dizem que por trás deste mito há uma verdade transcendente que nenhuma narrativa histórica ou raciocínio filosófico poderia nos transmitir: Deus conhece o nosso orgulho e veio ao nosso encontro, aniquilando-se ele primeiro diante de nossos olhos”.

Preservar os crentes

O cardeal lembrou que Cristo Jesus, existindo em forma divina, não considerou um privilégio ser igual a Deus, mas esvaziou-se assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante ao ser humano. “Encontrado em aspecto humano, humilhou-se fazendo-se obediente até a morte e morte de cruz”.

 “Nós matamos Jesus, Ele morreu pelos nossos pecados e pelos de todo o mundo, mas a sua ressurreição assegura que este caminho não conduz à derrota, mas graças ao nosso arrependimento conduz à aquela apoteose da vida em vão buscada em outros lugares”, pontuou.

Dom Cantalamessa afirmou então que sua homilia não era para convencer os ateus de que Deus não está morto. O verdadeiro objetivo era preservar os crentes de serem atraídos para dentro do “vórtice do niilismo” que ele considera o “verdadeiro buraco negro do universo espiritual”.

Por fim, o pregador da Casa Pontifícia convidou os fiéis a continuarem repetindo, mais convictos do que nunca, as palavras que dizem a cada missa: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.

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