No Vaticano, coletiva de imprensa apresentou o evento “Riscos e oportunidades da IA para as crianças: um compromisso comum para a proteção das crianças”
Da redação, com Vatican News

Foto: charlesdeluvio na Unsplash
Fortalecer as regulamentações governamentais do ponto de vista ético, colocando “segurança, privacidade e dignidade” das crianças no centro. Este é o objetivo do evento “Riscos e oportunidades da IA para as crianças: um compromisso comum para a proteção das crianças” apresentado pela Santa Sé durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira, 20. A iniciativa foi organizada pela Pontifícia Academia de Ciências em colaboração com a World Childhood Foundation e o Instituto de Antropologia (IADC) da Pontifícia Universidade Gregoriana.
O evento será marcado por encontros que acontecerão até 22 de março na Casina Pio IV, no Vaticano. Entre os presentes na coletiva de imprensa estavam o chanceler da Pontifícia Academia de Ciências e da Pontifícia Academia de Ciências Sociais, Cardeal Peter Turkson; o presidente da Pontifícia Academia de Ciências, professor Joachim von Braun; o diretor do IADC da Pontifícia Universidade Gregoriana, professor Hans Zollner; e a secretária-adjunta da World Childhood Foundation, Britta Holmberg.
IA não deve permanecer apenas em mãos privadas
Em seu discurso, Cardeal Turkson enfatizou a natureza coletiva do projeto e o compromisso da Santa Sé, e do Papa Francisco em particular, com as novas tecnologias. Além dos debates sobre uma nova ética dos algoritmos, a chamada “algorética”, ele defendeu a necessidade de discutir as responsabilidades dos Estados individuais, para que a inteligência artificial não permaneça exclusivamente “nas mãos de indivíduos privados”.
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O purpurado ressaltou a importância de desenvolver modelos regulatórios para serem compartilhados com as conferências episcopais de todo o mundo. Um objetivo que também pode ser alcançado, durante os encontros na Casina Pio IV, por meio de uma abordagem que leve em conta os testemunhos daqueles que sofreram abuso on-line, ampliando o debate, como foi feito para outras questões graves, incluindo o tráfico de pessoas.
Dialogar com as empresas de tecnologia
O professor Von Braun destacou como os riscos associados às novas tecnologias estão se tornando cada vez mais evidentes para a comunidade científica. Desde o vício em mídias sociais, que afeta significativamente o desenvolvimento cerebral das crianças, até a violação da privacidade e a manipulação de seus gostos para fins comerciais. “Durante anos, a matemática foi considerada uma disciplina sem implicações éticas”, disse Von Braun, em relação aos algoritmos que regem as novas tecnologias, ”hoje em dia, esse não é mais o caso.”
O acadêmico frisou que, na esfera política, ainda há muito trabalho a ser feito. Na União Europeia, por exemplo, um projeto de lei está parado há dois anos, enquanto nos Estados Unidos é crucial dialogar com as grandes empresas de tecnologia, como a Alphabet, que é liderada pelo Google. Nesse contexto, a Pontifícia Academia de Ciências pode promover um diálogo construtivo e contínuo.
Cooperação para detectar abusos
O professor Zollner enfatizou a visão da Santa Sé, que já em 2017 apontou “representantes das empresas que são protagonistas de desenvolvimentos tecnológicos” como atores-chave na proteção das crianças. Um processo que ficou estagnado ao longo dos anos, mas que deve ser retomado, especialmente pela Igreja, cuja missão principal é proteger os mais vulneráveis. A Santa Sé, explicou Zollner, tem uma oportunidade “única”: reunir em torno da mesma mesa todas as realidades envolvidas, para abordar questões que, se tratadas de maneira fragmentada, correriam o risco de permanecer sem solução.
Referindo-se à colaboração entre a União Europeia e os Estados Unidos, Zollner mencionou o National Center for Missing and Exploited Children (Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas), uma organização americana que recebeu mais de 29 milhões de denúncias de abuso infantil on-line no ano passado, não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa. A cooperação entre esses órgãos e as autoridades nacionais possibilitou o início de investigações e a punição dos criminosos.
Por fim, ele enfatizou o papel crucial das famílias: “não conheço um único pai ou mãe que não esteja preocupado com os riscos que seus filhos correm on-line”, disse ele, reconhecendo as dificuldades que os adultos enfrentam para se adaptar à evolução tecnológica.
Dados sobre violência on-line
Britta Holmberg apresentou os esforços da World Childhood Foundation, uma organização fundada pela Rainha Silvia da Suécia há 25 anos com o objetivo de abordar questões que, na época, poucos líderes tratavam “abertamente”. Ela comentou a importância de proteger as crianças mais vulneráveis, como migrantes, órfãos e sem-teto. Os dados sobre abuso on-line que ela citou são alarmantes: 1 em cada 5 meninas e 1 em cada 7 meninos foram vítimas de violência de vários tipos on-line.
“A tecnologia é parte do problema, mas também deve ser parte da solução”, disse ela, destacando a mesma dicotomia observada pelo Papa Francisco de que as novas ferramentas apresentam tanto riscos quanto oportunidades.