A Beata, que viveu e se dedicou aos pobres do Brasil entre 1848 e 1873, tem sua memória litúrgica celebrada hoje
Da redação, com informações da CRB e da diocese de Caxias do Sul
Aproximadamente um mês após o anúncio da abertura do processo de canonização de Bárbara Maix, a Igreja no Brasil celebra nesta quarta-feira, 6, a memória litúrgica da beata. A data, estabelecida em 2010 pelo Papa Bento XVI, também recorda os 9 anos da beatificação da religiosa, que nasceu na Áustria, mas que viveu sua vocação e missão no Brasil, dedicando-se aos pobres, em especial às crianças e adolescentes órfãos.
Para a diretora geral da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, Irmã Marlise Hendges, celebrar a memória de Madre Bárbara é uma ação de gratidão a Deus. “Desde 2010, quando tivemos a graça de celebrar a beatificação de Bárbara Maix, o dia 6 de novembro tem sido ocasião de louvar e bendizer a Deus, pela vida e obra da beata. Como Igreja Peregrina, reconhecemos e celebramos a ação de Deus, manifestada de modo extraordinário, na vida de Bárbara Maix. Ela viveu e testemunhou a santidade”.
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No Rio Grande do Sul, onde está a Sede Geral da Congregação, as Irmãs e as comunidades celebrarão a memória de Bárbara Maix com peregrinação e missa. Nesta quinta-feira, 6, haverá Missa na Catedral Metropolitana de Porto Alegre, às 18h30min, no centro da capital gaúcha. No domingo, 10, no distrito de Santa Lúcia do Piaí, Caxias do Sul/RS, será realizada a 10ª peregrinação ao monumento, que retrata o milagre de Deus por intercessão de Bárbara Maix – a cura do menino Onorino Ecker, que teve a saúde restabelecida, após sofrer queimaduras em todo corpo. Centenas de fiéis são esperados para o evento.
Processo de canonização
A retomada da causa de canonização ocorreu em outubro passado e foi anunciada pela Diocese de Caxias do Sul (RS). Dom José Gislon nomeou o tribunal eclesiástico que investigará um presumido milagre atribuído à religiosa. O pedido de canonização foi apresentado pela Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, fundado por madre Bárbara Maix, e aceito pelo bispo de Caxias do Sul.
“É a primeira vez que temos na história da nossa diocese a abertura de um processo de canonização. Faremos isso com muita alegria, porque ela nos dá um testemunho muito bonito de amor e caridade. Uma pessoa que veio de uma terra estrangeira e aqui se inculturou e assumiu a realidade dos mais abandonados, dos que estavam à margem da sociedade. Ela consumiu sua vida por amor às causas do Evangelho, por amor ao ser humano em nome do Evangelho”, afirmou Dom Gislon.
De acordo com o bispo de Caxias do Sul, a diocese deseja apoiar o processo de canonização de Bárbara Maix, para que a fase diocesana seja encerrada o quanto antes e o processo possa ser continuado na Congregação para a Causa dos Santos do Vaticano. “O suposto milagre que está sendo investigado aconteceu na vida de uma pessoa de nossa diocese, assim como o processo de beatificação, em que uma pessoa da nossa paróquia foi agraciada por um milagre”, contou.
A Beata Bárbara Maix
Natural de Viena, Áustria, Bárbara Maix nasceu no dia 27 de junho de 1818. Caçula de 9 filhos, Bárbara teve sua infância e adolescência marcadas por sequelas do tifo e privações, o que lhe causou debilidade orgânica. Dos pais a beata herdou a fé cristã, o espírito de fortaleza e perseverança diante dos desafios.
Desde a juventude, Bárbara captou a realidade que a cercou e manifestou ânimo missionário e profético. Vendo a situação social de desemprego e percebendo que o maior número de crianças nascidas era oriundo de mães solteiras, Bárbara fundou um pensionato visando à orientação e assistência a jovens desempregadas e empregadas domésticas, prevenindo-as da prostituição e demais desigualdades sociais.
Em torno da jovem Maix se reuniram outras jovens com espírito de oração e solidariedade. Com elas, iniciou o Projeto das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, inspirado no modo de ser das primeiras comunidades cristãs, desejando dedicar-se também à educação de crianças. A situação social, política, cultural e religiosa de Viena e de toda a Europa era de tensão e conflito pela difusão das ideias liberais. Durante a revolução de 1848, que tinha como base a Revolução Francesa, moveu-se uma verdadeira perseguição às Ordens Religiosas. As leis proibiam novas fundações e a entrada de novos membros. Essa situação fez com que Bárbara e suas 21 companheiras aceitassem a proposta de saírem do país.
As jovens pretendiam estabelecer-se na América do Norte, porém, enquanto aguardavam, no Porto de Hamburgo, um navio que as transportasse para lá, aportou um navio mercantil, que tinha como destino o Brasil. Bárbara compreendeu ser esta “a vontade de Deus”. Partiram. Chegaram ao Rio de Janeiro em novembro de 1848 e, em 1849, fundaram a congregação religiosa no Brasil e colocaram-se a serviço da população.
Bárbara educou meninas brasileiras, assumiu asilos – onde acolheu órfãos e pobres, e abriu pensionatos para jovens estudantes. Por ocasião das epidemias do cólera e febre amarela, bem como durante a Guerra do Paraguai, assumiu atividades em enfermarias e hospitais. Bárbara não aceitava que pessoas trabalhassem em condição de escravas. Na congregação, todas realizavam os mesmos serviços e tinham os mesmos direitos.
As Ordens Religiosas eram de estilo contemplativo, viviam como em claustros. Bárbara apresentou uma inovação: uma forma de Vida Religiosa Consagrada com dinamismo missionário, que une fé e serviço social. Esse modelo de Vida Religiosa era novo para a Igreja e para o Estado.
A beata faleceu no dia 17 de março de 1873, deixando como herança o grande exemplo de “perdoar sempre, com todo gosto e consolo do Coração” e o amor à Verdade.