Premiação

Pela 1ª vez em 75 anos, Nobel da Paz não pode ser entregue

A China poderá enfrentar uma crise econômica e social se não reconhecer amplamente os direitos civis, o que terá consequências para o mundo inteiro, disse nesta sexta-feira, 10, o Comitê do Nobel, na cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz ao dissidente chinês Liu Xiaobo.

Um assento vazio na cerimônia simbolizava a prisão de Liu. Foi a primeira vez que nenhum representante de um homenageado preso pôde comparecer à cerimônia desde 1935, quando o pacifista alemão Carl von Ossietzky foi detido pelo regime nazista de Adolf Hitler.

A entrega do prêmio a Liu, atualmente cumprindo pena de 11 anos de prisão por subversão, enfureceu o governo chinês no momento em que o país se torna uma potência no cenário mundial. A China tentou usar a pressão diplomática para convencer os países a não comparecerem à cerimônia em Oslo.

O presidente da comissão norueguesa do Nobel, Thorbjoern Jaglandm, disse que Liu queria dedicar o prêmio às "almas perdidas" de 1989, quando soldados reprimiram manifestações em Tiananmen, a praça central de Pequim. Segundo testemunhas e grupos defensores dos direitos humanos, centenas de pessoas foram mortas no incidente.

"Podemos afirmar, de certa forma, que a China, com sua população de 1,3 bilhão de habitantes, está carregando o destino da humanidade em suas costas", disse Jagland em um discurso.

"Se o país se mostrar capaz de desenvolver uma economia de mercado social com todos os direitos civis, isso terá um enorme impacto positivo no mundo. Senão, existe o perigo do surgimento de uma crise social e econômica… com consequências para todos."

Jagland pediu a libertação de Liu e disse que a reação do governo chinês demonstrava que o prêmio era "necessário e apropriado".

Na ausência de Liu, a atriz norueguesa Liv Ullman leu o discurso que ele pronunciou em seu julgamento há um ano.

"Não tenho inimigos e não tenho ódio. Nenhum dos policiais que me monitoraram, prenderam ou interrogaram, nenhum dos promotores que me indiciaram, e nenhum dos juízes que me julgaram é meu inimigo", disse Liu a um tribunal chinês no dia 23 de dezembro de 2009.

"Eu, cheio de otimismo, aguardo ansioso pelo advento de uma China livre no futuro. Pois não existe força que possa por fim à busca humana pela liberdade, e a China, no final das contas, será uma nação regida pela lei, onde os direitos humanos serão supremos."

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