De novembro de 2014 até os dias atuais, cerca de 20 comunidades, sobretudo femininas, foram assaltadas e as irmãs agredidas no Haiti
Da redação, com Rádio Vaticano
“Neste tempo da Quaresma, nos sentimos chamados, como consagrados no Haiti, a oferecer um olhar de fé sobre a onda de injustiça e de perseguição que se abate sobre nossas comunidades e sobre o povo haitiano em geral.”
Assim tem início a mensagem divulgada pela Conferência dos Religiosos do Haiti, que se reuniu esta semana para avaliar a onda de violência contra os consagrados no país. De novembro de 2014 até os dias atuais, cerca de 20 comunidades, sobretudo femininas, foram assaltadas e as irmãs, agredidas.
No texto, os religiosos afirmam: “Nos últimos temos sido sistematicamente roubados, insultados, humilhados, espancados por indivíduos armados. Paralelamente, o clima de medo e insegurança se agrava cada vez mais em todo o país. Queremos unir nosso desapontamento aos sofrimentos e humilhações do nosso irmão Jesus Cristo crucificado. Somente Ele pode nos dar o dom do perdão, do arrependimento, da partilha, da justiça e da paz”.
Da reunião promovida pela Conferência dos Religiosos do Haiti na última segunda-feira, 9, decidiu-se organizar inúmeras marchas silenciosas para manifestar solidariedade às comunidades que sofreram violência. Uma das missionárias brasileiras que atua no país fala sobre isso. Sua identidade não será revelada para preservar a segurança da religiosa.
“Foi decidido que todas as dioceses se organizariam em caminhadas silenciosas. Essa caminhada partiria de um ponto central e chegaria na igreja central daquela diocese e a partir desse momento celebraria a missa, em protesto”, disse a missionária.
Ela afirma que a conferência dos bispos está apelando para que “toda sociedade entre para colaborar com a vida religiosa, porque as religiosas estão a serviço do povo.”
Devido à convocação de uma greve, as religiosas brasileiras não saíram para trabalhar nos últimos dois dias, e a missionária revela a sensação de medo ao atuar nesse contexto de insegurança.
“Bem, claro que nós estamos [com medo]. Duas noites nessa semana que todo mundo teve que sair de dentro de casa, se trancar […] Muitas irmãs foram violentadas. Estão em tratamentos médicos, estão doentes, não tem condições de voltar para o trabalho”, diz a religiosa.
Entre as causas das ondas de violência está a convocação de novas eleições para presidente. “É o ano que estão querendo mudar o presidente e estão entrando em guerra com a população.”
A missionária finaliza dizendo que a fome e a miséria são muito grandes e observa que algumas realidades mudaram, mas a vida real das pessoas não. “Vemos muitas famílias, jovens rapazes e crianças sem perspectiva alguma”, conclui.