Perseguição aos cristãos

Papa na África: Entenda a perseguição religiosa nos países visitados

Quênia, Uganda e República Centro-Africana receberão o Papa a partir do dia 25; Bispos dos países comentam a perseguição religiosa na África

Denise Claro
Da redação, com colaboração de Cícero Lemes

perseguicao religiosa

Papa visitará países que vivem conflitos religiosos/ Foto: Rádio Vaticano

O Papa Francisco visitará, pela primeira vez em seu pontificado, o continente africano a partir de quarta-feira, 25. A viagem compreenderá Quênia, Uganda e a República Centro-africana.

Os países têm sido palco de guerras e conflitos religiosos e políticos, e a grande expectativa é que a visita do Pontífice leve paz ao povo africano. Entenda mais sobre a realidade dos conflitos que afligem cada um desses países.

Quênia

O Quênia será o primeiro país visitado pelo Papa na África. O país tem uma população de 45.925.301 habitantes, segundo o site do serviço de inteligência americano. Em relação a religião, 82.5% são cristãos (sendo destes, 23,3% católicos) e 11.1% muçulmanos. O restante pertencem a religiões tradicionalistas.

A região tem sido particularmente atingida por grupos extremistas. Nos últimos anos três ataques tiveram grande repercussão mundial.

O mais recente foi em abril deste ano, quando o grupo extremista Al- Shabaab, ligado a Al Qaeda, entrou na Universidade de Garissa e assassinou 147 pessoas, depois de passar de quarto em quarto perguntando quais delas eram cristãs. Pelo menos 80 pessoas ficaram feridas. Na ocasião, o próprio Papa Francisco se manifestou pedindo a Deus que “aqueles que cometem tal brutalidade caiam em si e busquem misericórdia” e se dirigiu aos bispos da região que estavam em visita ao Vaticano, pedindo que trabalhem com os líderes cristãos e não cristãos para promover paz no Quênia.

quenia garissa

Cardeal John Njue, de Nairóbi, na funerária após o massacre na Universidade de Garissa/ Foto: Ajuda a Igreja que Sofre

Em 2013, 67 pessoas morreram e 175 ficaram feridas no massacre em um shopping, liderado pelo mesmo grupo. Após o ocorrido, Dom Philip Anyolo publicou um comunicado em nome da Conferência dos Bispos Católicos do Quênia: “Como nação, participamos do drama de nossos irmãos e irmãs que perderam seus entes queridos no ataque ao Westgate. Somos solidários com nossos irmãos e irmãs que ficaram feridos nesta terrível tragédia e rezamos a Deus, todo-poderoso, para que lhes conceda o rápido restabelecimento”. A Igreja ainda elogiou os quenianos pela solidariedade demonstrada através das doações de sangue em favor das vítimas do atentado.

O Bispo de Kitui, Dom Anthony Muheria, em declaração publicada pela Agência CISA, de Nairóbi, condenou o ataque, destacando seus aspectos brutais e imprevisíveis: “Jamais pensamos que uma ação tão fria e cruel pudesse acontecer em nossa nação”. Dom Muheria convidou os fiéis de todas as religiões a uma vigília de oração pelos reféns detidos. Em testemunhos recolhidos pelos sobreviventes do atentado e sequestro, os extremistas escolheram as suas vítimas de acordo com sua religião.

Outro grande incidente ocorreu em 1998, quando as embaixadas dos Estados Unidos no Quênia foram destruídas por explosões e deixaram centenas de mortes.

O Papa Francisco ficará dois dias na capital do país, Nairóbi, seguindo viagem para Uganda.

Uganda

Com uma população de 37.101.745 habitantes, os ugandenses são em sua maioria cristãos (84%). Os muçulmanos somam 12,1% no país, mas a perseguição religiosa acontece nas regiões em que a maioria é muçulmana.

Em relação à visita do Papa, o presidente da Conferência Episcopal de Uganda, Dom John Baptist Odama, disse que a Igreja considera a visita do Pontífice uma “ocasião de ouro” para que a reconciliação aconteça na região:

“Num país como o nosso, onde durante décadas faltaram a unidade e o consenso nacional, o Papa vem como um construtor de pontes. Portanto, a sua visita é uma ocasião excepcional para que os ugandenses se tornem instrumentos de unidade, paz e reconciliação na família e entre os vários componentes religiosos, culturais e políticos”, afirmou.

Francisco será o terceiro Papa a visitar Uganda, depois de Paulo VI em 1969 e de João Paulo II em 1993.

República Centro-africana

A República Centro-africana, hoje com 5.391.539 habitantes, será o último lugar a ser visitado por Francisco. Ele chega ao país no domingo, 29. Em relação à religião, 50% são cristãos, 15% muçulmanos e 35% têm crenças indígenas.

A nação é a que mais tem sofrido com os ataques de grupos extremistas. Desde o golpe de estado em 2013, há uma guerra civil entre o grupo rebelde Seleka e os grupos de auto-defesa Anti-Balaka. Somente no mês passado, uma paróquia, um centro protestante e uma mesquita foram quase destruídas. Também foram saqueadas as sedes de várias ONGs internacionais humanitárias. Nestes conflitos, 61 pessoas morreram, quase 300 ficaram feridas e mais de 40 mil ficaram desabrigadas, segundo o governo.

Dom Nestor Désiré Nongo Aziagbia, vice-presidente da Conferência Episcopal da República Centro-africana, afirmou que apesar de a Igreja no país ter sido atingida com os ataques especialmente em suas estruturas (com as paróquias queimadas e destruídas), no campo pastoral há muitos imigrantes e refugiados, e a Igreja tem feito seu trabalho de evangelização.

Dom Nestor Désiré Aziagbia, vice-presidente da Conferência Episcopal da República Centro-Africana/ Foto: Arquivo Pessoal.

Dom Nestor Désiré Nongo Aziagbia, vice-presidente da Conferência Episcopal da República Centro-Africana / Foto: Arquivo Pessoal.

“Os agentes de pastoral vão ao encontro da população fragilizada para ajudar, consolar e levar a palavra de consolação e de misericórdia vinda de Jesus Cristo, muitas vezes arriscando suas próprias vidas. A crise aqui tem sido um desafio para todos os fiéis da República Centro-Africana, mas os católicos no país tem dado seu testemunho evangélico”,  destaca o bispo.

A ajuda às vítimas também acontece através de doações de alimentos e kits de primeira necessidade, e, segundo Dom Nestor, “as portas das instituições religiosas estão abertas para acolher os imigrantes, independente da convicção política, filosófica e religiosa.”

Papa se une à insegurança vivida no país

O arcebispo de Bangui, Dom Dieudonné Nzapalainga, em entrevista à Fundação Ajuda a Igreja que Sofre (AIS), mostra-se convicto de que o Papa virá para “experimentar a realidade em que vive o povo” e “convidá-lo a reconstruir o país”. O prelado acredita ainda que Francisco saberá colocar as pessoas no “caminho da reconciliação” depois dos “terríveis crimes que foram cometidos”. Ele disse ainda que o país vive sempre à beira de um conflito, pois muitos dos civis têm armas, e “basta uma pequena faísca para inflamar a chama de novo”.

Apesar da instabilidade que cresce no seu país, Dom Dieudonné não se preocupa com a questão da segurança do Pontífice: “Deus é o nosso protetor, em primeiro lugar. E o Papa vem em nome de Cristo. É o desejo dele reunir-se com os seus irmãos e irmãs e, de certa forma, partilhar a sua insegurança”.

Dom Franco Coppola, Núncio Apostólico na República Centro-africana, em recente entrevista à Rádio Vaticano, afirmou que a preocupação do Papa é principalmente de expressar solidariedade e, ao mesmo tempo, a preocupação pelas famílias que estão envolvidas nesta situação, e por isso mesmo em grave risco de vida.

O Núncio frisou, ainda, que a visita dá aos centro-africanos uma oportunidade, especialmente com a abertura da Porta Santa na catedral de Bangui: “É quase uma missão especial a de abrir o Jubileu da Misericórdia, e, portanto, de ser testemunha desta misericórdia e desta reconciliação, antes de tudo entre eles. Foi uma agradável surpresa, um presente especial que aqui, o arcebispo e toda a Igreja, receberam com grande alegria. É um grande privilégio que o Papa tenha decidido reservar essa iniciativa à Igreja centro-africana.”

A visita do Papa à África acontecerá entre os dias 25 a 30 de novembro.

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