Dom Zenari fala do medo dos cristãos e de todo o povo diante do avanço dos jihadistas, recordando também o sofrimento devido à guerra civil
Da Redação, com Rádio Vaticano em italiano
De Ariccia, cidade romana onde participa do retiro de Quaresma, o Papa Francisco acompanha com preocupação a situação na Síria. Continuam a chegar notícias dramáticas para a população civil e, em particular, para a minoria cristã. Só nesta semana, 90 cristãos foram sequestrados pelo Estado Islâmico.
O núncio apostólico em Damasco, Dom Mario Zenari, diz que Francisco pensa continuamente na Síria, na situação dos cristãos e no sofrimento de todo o povo. “Ele é continuamente informado e a sua oração está sempre em sintonia com o sofrimento deste povo e dos cristãos, em particular”.
O avanço dos jihadistas do Estado Islâmico no nordeste da Síria devastou numerosos vilarejos habitados por maioria cristã: cerca de 220 cristãos foram capturados. Dom Zenari comenta essa situação atual, destacando como o povo sírio se sente abandonado em meio a tamanha tragédia.
Confira a entrevista:
Nesta situação, cresce o medo entre os cristãos?
Dom Zenari – Naturalmente, estes fatos causam medo, sobretudo nos grupos minoritários que são os mais expostos, que sempre foram o elo mais fraco da cadeia e estes fatos não ajudam em nada a confiança no futuro. Já há algum tempo a comunidade cristã vive nesta situação de tensão e se pode bem entender. Porém direi que, além dos cristãos, todo o povo tem medo destes acontecimentos, sobretudo daqueles que acontecem nestas zonas sob o comando destes jihadistas. Não somente os cristãos, mas todo o povo teme, tem medo e, se pode, foge.
Os cristãos se sentem abandonados pela Comunidade Internacional?
Dom Zenari – Esta é um pouco a percepção que vejo aqui no povo em geral e nos cristãos em particular. Não veem, infelizmente, resultados tangíveis. E pode-se entender um pouco essa lamentação.
O que se pode fazer para deter o avanço dos jihadistas?
Dom Zenari – Direi que aqui a Comunidade Internacional já está procurando implementar algumas linhas. Será preciso ainda continuar neste caminho, com a unidade dos esforços e das medidas da Comunidade Internacional. Algumas medidas já foram adotadas, como aquela de cortar o abastecimento que chega a este povo, as contas bancárias, o petróleo; ou aquele de parar aqueles que foram tomados por esta ideologia e que talvez da Europa vão para estas áreas. Então, várias medidas. É preciso procurar parar esta situação.
A situação humanitária é catastrófica. O que o senhor pode comentar a respeito?
Dom Zenari – É aquilo que vem descrevendo há algum tempo a Comunidade Internacional e as Nações Unidas: é uma das catástrofes humanitárias mais graves depois da Segunda Guerra Mundial. E isto está aos olhos de todos! É preciso parar e resolver a situação do conflito civil, mas, ao mesmo tempo, também o avanço desse califado.
Na Síria há duas frentes de guerra. Como lidar com essa situação?
Dom Zenari – Há duas frentes e uma é mais grave que a outra. Há a frente da guerra civil, que dura já há quatro anos e dentro de três semanas entraremos no quinto ano de guerra civil: esta causou mais de 200 mil mortos, mais de um milhão de feridos, mais de 7 milhões de deslocados internos e 4 milhões de refugiados. Não se pode esquecer os danos e os mortos de cada dia, os deslocados e os refugiados que são resultados a cada dia da guerra civil. E mais, há estes fatos tão hediondos e terríveis nas zonas sob o controle do califado. Não se pode esquecer as duas frentes que, infelizmente, são uma pior que a outra!