O que significa deixar tudo por Deus? Na parábola do jovem rico descrita no Evangelho segundo Mateus, Jesus diz: "Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!" (Mt 19,21).
Para o padre Francisco Gomes esse "dar tudo" significou deixar sua casa, sua família, seus amigos, sua cultura e sua pátria para levar a mensagem de Cristo àqueles que nunca ouviram falar Dele.
"Foi quando eu estive na Itália, onde vivi por 9 anos, e no Japão, por 4 anos, que eu entendi o que o Senhor estava me pedindo 22 anos atrás quando senti meu chamado. Pois, deixando para trás quase tudo para seguir Jesus vi a beleza deste chamado”, conta o missionário.
Uma grande inspiração para padre Francisco foi a Encíclica Redemptoris Missio, escrita pelo Papa João Paulo II. Nela, o beato salienta que não há pessoa indigna do Evangelho, reforçando que todos os homens e mulheres têm o direito de conhecer Jesus.
“Se nós que estamos no Brasil, que estamos aqui no ocidente, tivemos a graça de conhecer Jesus, por que não, nossos irmãos que estão na Ásia?”, questionou-se padre Francisco. Assim, ele partiu em missão para o outro lado do mundo, para o Japão.
Mesmo depois de quatro séculos de evangelização, apenas 1% da população japonesa é cristã e neste grupo estão incluídos todos os católicos, anglicanos, luteranos e outras denominações cristãs.
Para todo missionário que chega ao Japão, tanto aqueles do Pontifício Instituto das Missões Exteriores – como é o caso de padre Francisco, bem como os xaverianos, os jesuítas e os franciscanos, a primeira coisa a se fazer é aprender o idioma do povo. E isso vale para qualquer missionário em qualquer país, pois o principal instrumento de trabalho do missionário é a palavra.
“O primeiro desafio é a língua. O idioma é muito difícil, mas muito interessante. Com um pouco de sacrifício e empenho acabamos aprendendo”, afirma o missionário.
Outro desafio, conta padre Francisco, é compreender uma cultura muito diferente. O povo japonês é muito preso ao sentido do grupo e ao abraçar a fé cristã, que traz consigo aspectos culturais diferentes, o japonês acaba tendo que se desligar um pouco desta característica, pois querendo ou não, ele se diferencia em meio ao grupo, seja na família, no trabalho ou na sociedade.
“A fé cristã tem uma forma diferente de encarar o outro, ver a questão do amor, do respeito, do perdão. Para um japonês é muito difícil perdoar quem o ofendeu. A maior ofensa para um japonês é ser humilhado diante do grupo. E o ser cristão é isso, é saber perdoar. Jesus nos mostra isso na cruz, que no momento mais difícil da vida, em que a gente não encontra forças, é preciso perdoar e perdoar a todos”, ressalta.
Uma entre muitas histórias
Padre Francisco conta que quando estava estudando o idioma, um senhor japonês, Akira San, o ajudou a praticar. Quanto ele terminou o estudo e precisou ser transferido, Akira o convidou para almoçar num restaurante e lhe disse: “Padre Francisco, eu tenho uma confissão a fazer. Quando eu te conheci, comprei um livro sobre o cristianismo".
Akira disse ainda que estava nascendo dentro dele uma grande alegria e uma esperança. Em seus 55 anos sempre achou que a vida acabasse com a morte, mas conhecendo um pouco a fé cristã, ele descobriu que existe outra vida depois da morte e que existe um Deus que pagou um caro preço para salvar a humanidade.
"Eu não sei se um dia serei cristão, mas hoje eu sou muito mais feliz do que eu era antes e isso graças a você", disse Akira ao padre.
O sacerdote pede que todos os católicos rezem pelas vocações, pois a messe é grande e os operários são poucos (cf. Lc 10,2).
“Como Akira San existem muitas pessoas na Ásia e na África que estão esperando por missionários que levem esta mensagem de paz, alegria e esperança que salva”, reforça padre Francisco.
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