Oitava da Páscoa

Medo é normal, mas não devemos deixar que ele nos paralise, diz padre

Padre Luiz Gustavo afirma que anúncio da Ressurreição de Cristo e Oitava de Páscoa exortam a fé e a esperança diante de medo e inseguranças causados pela pandemia 

Julia Beck
Da redação

“Precisamos aprender a lidar com aquilo que nos causa espanto”, afirma sacerdote/ Foto: Wesley Almeida – Canção Nova

Após o Anúncio da Ressurreição de Cristo, tema central da Solenidade da Páscoa realizada no último domingo, 12, a Igreja vive a Oitava de Páscoa. A celebração, que acontece ao mesmo tempo em que a humanidade vive uma pandemia de coronavírus (covid-19), traz a reflexão da vitória da vida sobre a morte, da Boa Nova sobre as más notícias, da esperança sobre o medo, destaca o pároco da Igreja Nossa Senhora Aparecida e São Expedito – localizada em Lorena (SP), padre Luiz Gustavo Uchôa.

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“A Páscoa abre nosso olhar para além da realidade do tempo presente. Celebrar a vitória da Vida sobre a Morte, o Ressuscitado que triunfou nos inspira a viver o aqui e agora de um modo novo, isto é, sem nos esquecermos do que há de vir. Crer no Ressuscitado – como temos ouvido na liturgia da Palavra das Oitavas de Páscoa – deve mexer com nosso jeito de ser”, incentivou o sacerdote. No cenário de pandemia, padre Gustavo afirma que homens e mulheres têm a oportunidade de testemunhar o Amor que vence a morte, o sofrimento, a dor.

Medo que não deve paralisar

Pároco da Igreja Nossa Senhora Aparecida e Santo Expedito, localizada em Lorena (SP), padre Gustavo Uchôa/ Foto: Arquivo Pessoal/ Padre Gustavo

O medo é um sentimento que tem assolado a humanidade diante do alto contágio do covid-19. Sobre o tema, o sacerdote recordou o Evangelho da Oitava de Páscoa, que trata das mulheres, que, ao se dirigirem ao túmulo (lugar da morte), se deparam com uma realidade inesperada: não encontram o corpo de Jesus.  

“Nesta cena, em seguida, aparece-lhes Jesus que dirige duas exortações: ‘Não tenhais medo’ (Mt 28,10), e ainda, ‘Alegrai-vos’ (Mt 28,9). Aqui temos uma chave de leitura: Sentir medo diante do desconhecido é algo normal em nós, todavia, não devemos deixar que ele nos paralise. Parar no medo é uma sentença de morte”.

Os meios de comunicação têm realizado coberturas completas e extensas sobre os muitos casos e mortes pelo vírus. Diante dessa realidade, o editor-chefe do Telejornal Canção Notícias, Wallace Andrade, alertou para o cuidado que os profissionais de comunicação devem ter ao noticiar informações acerca da pandemia: “Vivemos em um tempo de muita informação e desinformação. (…) É uma enxurrada de informações que faz com que a pessoa não pense mais nada na vida, apenas nisso [pandemia]”.

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Andrade afirmou que os jornalistas estão se deparando com um trabalho muito difícil de apuração da verdade diante de tantas fake news – notícias falsas. “Nossa responsabilidade é ainda maior. O que veiculamos e a forma como veiculamos pode causar mais pânico e mais medo e insegurança. Temos que ter muita responsabilidade e nos colocar no lugar das pessoas que leem, assistem ou ouvem as notícias. Pode haver pessoas desinformadas e assustadas e a forma como colocamos pode assustar mais”.

Para o jornalista, é importante que a imprensa tenha sempre a informação oficial e tente veiculá-la da melhor forma possível. “O papel da imprensa em uma situação como essa é de prevenção, mostrar que apesar do número elevado de mortos, existe um número importante de pessoas que estão se recuperando. (…) Não podemos transformar o ser humano em um número”.

“Precisamos aprender a lidar com aquilo que nos causa espanto. Precisamos buscar caminhos de superação. Só assim seremos livres para viver o que nos pede o Ressuscitado: alegria. De fato, a alegria, fruto do Espírito (cf. Gl 5,22), deve transparecer na vida dos cristãos, mesmo em meio às adversidades”, complementou padre Gustavo.

A Ressurreição e o anúncio da Boa Nova

A Vigília Pascal, vivida no último sábado, 11, desperta homens e mulheres, de acordo com padre Gustavo, para o que deve ser vivido: iluminar a realidade, anunciar a Boa Nova, testemunhar com coerência a vida nova pelo batismo e enfrentar toda a crise. “Dessa forma ajudaremos tantos outros a superarem também esse momento difícil”.

“Todos temos nossas dores e lutas, os meios de comunicação transmitem as aflições do tempo presente, mas não podemos fazer disso um estandarte, o amor de Deus por nós transpõe todas as barreiras”, garantiu o sacerdote.

O jornalista Wallace sublinha que, apesar de tudo, a esperança não pode ser perdida, e aconselha a população a buscar veículos de comunicação que tragam conteúdos que levem a bons sentimentos.  “Precisamos cuidar do nosso corpo, da nossa saúde, mas também da nossa mente. Precisamos escolher ver coisas saudáveis, que façam com que nos sintamos melhor”.

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“Devemos trabalhar muito mais conteúdos de esperança. Muitos falam que não devemos ter um jornal só sobre coisas boas, mas digo que não precisamos ter vergonha de entrar na contramão da imprensa tradicional. As pessoas que buscam informações nos meios de comunicação de inspiração católica buscam algo diferenciado. Somos uma TV, um site alternativo, temos que oferecer alternativas para as pessoas”.

Adotar a perspectiva de um jornalismo voltado para a vida e para a esperança é, segundo o jornalista, oferecer às pessoas que estão com muito medo e inseguras, ilhas de paz. “Não é omitir informações, mas é oferecer um jornalismo que não enxerga só choro e desespero, mas um jornalismo que afirma que existe esperança”. Para Andrade, ao se depararem com boas notícias, homens e mulheres terão o desejo de compartilhá-las. “As pessoas transmitem a esperança que elas encontraram”.

Recolhimento que gera reflexão

Nesta perspectiva, padre Gustavo revela que a situação é capaz de proporcionar grandes aprendizados. “O recolhimento nos possibilita reflexões mais aprofundadas a respeito da vida, da fé, das relações”, comentou. O sacerdote afirmou ter constatado o quanto as pessoas amam e buscam a Deus e o quanto têm sentido falta da vida celebrativa em comunidade. “De minha parte, também espero que tudo passe depressa, e assim possamos nos reunir em nossas comunidades para celebramos juntos a Eucaristia”.

Outra reflexão gerada pela pandemia é sobre a fragilidade da vida, frisa padre Gustavo. “De repente, tudo mudou, tantas pessoas afetadas, as estruturas adaptadas a essa crise. Para nós que cremos em Deus, este tempo tornou-se possibilidade de vivermos uma vida nova, pois, como diz a Palavra: ‘Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus’.”(Cl 3,1).

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