Subsecretário do Pontifício Conselho Cor Unum foi ao Iraque e conta que lá a realidade é muito dura, marcada por perseguições, deslocamentos e incertezas
Da Redação, com ACI Digital
A dramática situação no Iraque e na Síria se agrava e aumenta também a preocupação do Papa Francisco pelos cristãos e membros de outras minorias religiosas que se viram obrigados a fugir de suas casas para se proteger do fundamentalismo do Estado Islâmico (ISIS).
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A confirmação é do Subsecretário do Pontifício Conselho Cor Unum, Mons. Segundo Tejado Muñoz. O organismo vaticano é conhecido por ser aquele que canaliza a ajuda caridosa do Papa no exterior. O religioso acaba de retornar de uma viagem ao Iraque encabeçando uma delegação da Santa Sé.
Durante três dias, a delegação buscou levar esperança aos cidadãos de Erbil e Duhok, transmitindo as palavras de ânimo e carinho do Papa Francisco. Mas a realidade vista no Iraque foi dura. “Existe o perigo de que os cristãos desapareçam no Oriente Médio. É um perigo real. Constatamo-lo. Muitas famílias foram expulsas de Mossul e outros povos com milenária tradição cristã; foram expulsas e exiladas”, recorda o subsecretário do Cor Unum.
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Sobre a situação atual, o sacerdote enfatiza que a Igreja sempre tem um ponto de vista muito real da situação – são dois milhões e meio de deslocados do Iraque, sem contar os da Síria – o que constitui “uma catástrofe de dimensões enormes”. Porém, ele diz que possivelmente a atenção internacional à problemática tenha diminuído.
“Tivemos uma reunião muito interessante com o responsável pelas Nações Unidas, que nos disse que também estão caindo os recursos enviados e devido a isto terá que ir fechando projetos e programas. Estamos preocupados porque a emergência não desceu de nível, está crescendo”.
O subsecretário disse que todos devem ser conscientes da dificuldade que é ter que pegar a família de noite e fugir, deixando tudo para trás sem saber se serão acolhidos ou não em outro lugar, sem saber até se terão ou não o que comer.
Durante esta viagem, Mons. Tejado contou ainda que conheceu histórias muito variadas, mas todas têm algo em comum: “a situação de ira, dor, humilhação; deixar a própria casa, a escola, o trabalho, sua vida, sua cidade, seu povo, é muito duro”, repete.
Uma das coisas que mais lhe chamaram a atenção foi que muitas das pessoas se preocupam com o retorno para a casa, pois dizem que foram denunciadas pelos próprios vizinhos. Tais pessoas se perguntam como vão voltar a conviver com aqueles que os delataram e ameaçaram quando chegavam os milicianos.
“O arcebispo de Erbil nos disse que o grande problema destas pessoas é que não têm esperança. Por isso organizou uma evangelização nos campos com membros do Caminho Neocatecumenal e outras comunidades para levar esperança, algo que lhes possa ajudar. O bispo se preocupa muito pelo aspecto espiritual”, relata Monsenhor Tejado.
Antes da partida, a benção papal
Mons. Tejado contou que antes de partir, no dia 26 de março, a delegação participou da Audiência Geral com o Papa, e o saudaram ao final. “Pedimos ao Santo Padre que abençoasse as imagens da Virgem Desatadora dos Nós, da qual ele é muito devoto”, explica. “Pensamos que o problema do Oriente Médio são muitos nós entrecruzados que vão surgindo ao longo dos anos e só quem é testemunha da Ressurreição, como a Virgem, podem desatá-los”.
O Pontífice, informou mons. Segundo, abençoou o grupo e pediu que levassem à Igreja local sua proximidade, amor e preocupação.
O sacerdote quis destacar ainda outro motivo da viagem: “Estamos em tempo de Páscoa e nossa viagem quis ser o início de uma preocupação que o Papa tem e que está manifestando nos últimos Ângelus, intervenções, etc: o drama que se vive nesta zona. É o que vimos ali”.