“Quem se beneficia com este crime? Nem o Islã, nem os muçulmanos. As religiões são feitas para unir as pessoas,” diz líder muçulmano francês
Da Redação com ACI Digital
Líderes muçulmanos franceses (imãs) que participaram da Audiência Geral com o Papa Francisco em Roma nesta quarta-feira, 07, defendem que a comunidade muçulmana deve levantar-se para expressar o seu desgosto pelo atentado contra o escritório do semanário satírico “Charlie Hebdo”, em Paris (França), que deixou pelo menos 12 mortos.
O ataque aconteceu na manhã desta quarta-feira, 7, quando os imãs participavam da Audiência no Vaticano como parte de uma visita de quatro dias, organizada pelo escritório para as relações com o Islã da Conferência dos Bispos Franceses.
Quatro imãs participam junto com Presidente do Conselho para as Relações Inter-religiosas, Dom Michel Dubost, de uma visita de três dias a Roma. O propósito da viagem, de acordo com os organizadores, é dar testemunho das boas relações entre os líderes muçulmanos e a Igreja na França.
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Esta foi também a primeira vez, desde que se realizam os diálogos entre cristãos e muçulmanos franceses, em que os imãs desse país assistem a uma Audiência Geral para saudar o Papa.
Ao sair de seu encontro com o Papa Francisco, os líderes religiosos muçulmanos foram informados sobre o ataque e fizeram os seus primeiros comentários à imprensa francesa La Croix e I-Media.
Reitor da Mesquita de Bordeaux na França
Tareq Oubrou, reitor da Mesquita de Bordeaux (França), ressaltou que “é necessário que a comunidade muçulmana se levante” para expressar o “seu desgosto” pelo sequestro do Islã realizado por pessoas delinquentes.
Oubrou destacou que “os muçulmanos estão surpreendidos e cansados. A maioria deles se sente como se estivesse sendo sequestrada” pelas ações dos extremistas.
Para o religioso muçulmano, este crime afeta “o Islã e os muçulmanos franceses”.
“Este ato poderia dividir a sociedade e atrasar a assimilação e integração dos muçulmanos na sociedade francesa. Quem se beneficia com este crime? Nem o Islã, nem os muçulmanos. As religiões estão feitas para unir as pessoas, e todo ato que divida a humanidade não é um ato religioso”, disse Oubrou.
O imã acrescentou que o massacre do “Charlie Hebdo” foi o primeiro deste tipo desde a instalação, em 1980, da comunidade muçulmana na França.
Presidente da União de Mesquitas Francesas
Por sua parte, Mohammed Moussaoui, presidente da União de Mesquitas Francesas, assegurou que se sentiu “assustado e surpreso” quando soube da notícia, já que tinha rezado com o Papa Francisco “pela paz e fraternidade capaz de consolidar e fortalecer o mundo”, com uma intenção especial pelos cristãos no Oriente Médio.
De acordo com Mossaoui, os muçulmanos franceses são “vítimas duas vezes”, já que por um lado “a religião é explorada por criminosos”, e por outro há uma “tentativa populista de tomar vantagem destas ações criminosas para piorar e reavivar as divisões e temores da sociedade francesa”.
“Se os extremistas continuam duplicando seus esforços e intensificando as suas ações, violência e atrocidades, os muçulmanos devem intensificar sua reação a estes atos bárbaros, às vezes infelizmente cometidos em nome do Islã”, assinalou.