Capítulos da encíclica são abordados em oito encontros em Torres Vedras, Portugal
Da redação, com colaboração de Gracielle Reis
Franciscanos em Portugal promovem encontro sobre “Fratelli Tutti”/ Foto: Reprodução TV Canção Nova
Os franciscanos do Convento de Santo Antônio do Varatojo, em Torres Vedras, Portugal, estão promovendo encontros para refletir sobre os oito capítulos da nova encíclica do Papa Francisco, “Fratelli Tutti”. Para os filhos de São Francisco, o documento é significativo por ter sido assinado em Assis, em 4 de outubro, e ter como pano de fundo as orientações do fundador da família franciscana, além da pandemia de covid-19.
A chamada encíclica social do Papa Francisco pretende responder aos ideias e caminhos concretos para se construir um mundo mais justo e fraterno, e propor novas direções para a fraternidade cristã.
No Convento do Varatojo, franciscanos também comentam acerca da questão e a nova trajetória da humanidade, a partir da pandemia. O guardião do convento de São Antônio do Varatojo, Frei Hermínio Araújo, comenta sobre a importância do estudo da encíclica, que será feito em oito encontros:
“Este documento ‘Fratelli Tutti’ está muito ligado e deve ser lido tendo muito em mente outra encíclica do Papa Francisco, que é a ‘Laudato Sì’, inspirada no Cântico das Criaturas de São Francisco.”
O religioso salienta que o pensamento de São Francisco está no seu testamento espiritual, em que afirma que Deus havia dado ao santo “o cuidado dos irmãos”:
“Essa é que é a fraternidade de São Francisco. Não é algo de abstrato, no sentido teórico. O que há é o irmão concreto, e a irmã em concreto.”
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Radicalidade
Em linhas gerais, o Papa traça no documento um panorama da sociedade atual, em que conceitos como democracia, liberdade e justiça, apresentam-se distorcidos, além de situações que comprometem o bem comum, como o egoísmo, cultura do descarte, racismo, desigualdades, escravatura, tráfico de pessoas e de órgãos.
O Pontífice denuncia ainda “uma sociedade doente, que vira as costas à dor e é ‘analfabeta’ no cuidado dos mais frágeis e vulneráveis”.
“Com todos esses séculos de história da Igreja, às vezes nós vamos elaborando muitas doutrinas, muitos dogmas, e corremos o risco de ficarmos muito preocupados com isso, e nos afastar do evangelho. Na época de São Francisco isso já acontecia. Por isso essa palavra ‘radicalidade’ é muito importante para a gente entender a pessoa de São Francisco de Assis e para entendermos os documentos e o próprio pontificado do Papa Francisco, que não é nem um progressista nem um conservador, mas um radical, como Jesus e como São Francisco de Assis. Quando falamos de radicalidade estamos a falar de raiz, ao fundamento e ao essencial das coisas.”, afirma Frei Hermínio.
A necessidade do encontro
Em especial, o capítulo quatro trata sobre o tema das migrações. O Santo Padre aponta algumas “respostas indispensáveis” para que migrantes e refugiados sejam acolhidos e integrados: simplificação na concessão de vistos; alojamento, segurança e serviços essenciais; possibilidade de trabalho e formação; favorecimento da reunificação familiar; proteção aos menores; e garantia da liberdade religiosa.
“O Papa fala numa necessária relação entre as grandes questões globais mas que não tem solução senão a partir das coisas locais, muito concretas. Não há globalização sem localização, sem ir ao encontro como o bom samaritano.”, salienta o religioso.
O evento promovido pelo convento do Varatojo reforça que os tempos atuais exigem o milagre da amabilidade e a libertação da crueldade e da ansiedade que não nos deixam pensar nos outros.
A saudação franciscana ‘Paz e Bem’ pode ser associada à Fratelli Tutti. O Santo Padre sublinha que a paz é proativa e está ligada ao perdão. Além disso, ressalta um “Nunca mais à guerra!” e sugere ainda que, com o dinheiro do armamento, seja criado um Fundo Mundial para eliminar a fome. Sobre a pena de morte, o Papa reafirma que é inadmissível e deve ser abolida em todo o mundo.
“A verdade é que nos possui e nos abraça. Quando pensamos que temos a verdade, que temos o ‘rei na barriga’, de fato não conseguimos viver a fraternidade, a amizade social, e estamos muito longe dessa proposta do Papa Francisco e da forma de ser e de viver de São Francisco de Assis.”, conclui o frei.
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