Na Íntegra

Entrevista completa de Dom Tomasi sobre relatório da ONU

Leia entrevista completa do Observador da Santa Sé na ONU sobre o relatório divulgado hoje pelo Comitê de Direitos da Infância

Rádio Vaticano
Tradução: Liliane Borges

Entrevista completa de Dom Tomasi sobre relatório da ONU

Relatório da ONU parece não ser atualizado, tendo em conta o que nos últimos anos tem sido feito em nível da Santa Sé e em vários países, diz Dom Tomasi (Foto: news.va)

O observador permanente da Santa Sé, Dom Silvano Tomasi, concedeu uma entrevista à Rádio Vaticano, nesta quarta-feira, 5, sobre o relatório do Comitê de Direitos da Infância, ligado à ONU. O documento faz críticas ao Vaticano, referentes às medidas de proteção às crianças e às ações diante dos casos de abuso sexual.

O arcebispo qualificou o relatório como negativo e privado de clareza.  E afirmou que não houve concordância entre o que a Santa Sé declarou e as conclusões do Comitê.

Reportamos abaixo a entrevista na íntegra:

Repórter: Como a Santa Sé reagiu a essas acusações?

Dom Tomasi – O Comitê da Convenção sobre os Direitos da Criança foi publicado oficialmente hoje e  suas conclusões e recomendações para os  países que foram analisados ​​durante esta 65 ª sessão e que são:  Congo, Alemanha, Santa Sé, Portugal, Federação Russa e Iêmen.

A primeira impressão: temos que esperar, ler atentamente e e analisar de modo detalhado o que escreveram os membros desta Comissão. Mas a primeira reação é de surpresa, porque o aspecto negativo do documento que eles produziram é que parece que já havia sido preparado antes da reunião da Comissão com a Delegação da Santa Sé, que deu detalhadamente respostas precisas sobre  vários pontos , que não foram, relatadas neste documento conclusivo, ou pelo menos não parece ter sido levado em séria consideração.

Na verdade, o documento parece não ser atualizado, tendo em conta o que nos últimos anos tem sido feito em  nível da Santa Sé, com as medidas tomadas diretamente pelo Estado da Cidade do Vaticano e, em seguida, em vários países pelas Conferências Episcopais.

Portanto, falta a prospectiva correta e atualizada, que possui realmente uma série de mudanças para a proteção das crianças, que me parece difícil de encontrar,  no mesmo nível de compromisso, em outras instituições ou até mesmo de outros Estados. Isto é simplesmente uma questão de fatos, de evidência, que não podem ser distorcidos!

RepórterComo responder de modo preciso as acusações do Comitê da ONU?

Dom Tomasi – Não se pode em dois minutos, certamente, responder a todas as afirmações feitas – algumas muito incorretas – no documento conclusivo do Comitê.

A Santa Sé responderá, porque é um membro, um Estado parte da Convenção: ratificado e tem a intenção de observar o espírito e a letra da Convenção, sem acréscimos ideológicas ou imposições que estejam  fora da própria Convenção.

Por exemplo, a Convenção sobre a proteção das crianças em seu preâmbulo, fala da defesa da vida e da proteção das crianças, antes e após o nascimento, enquanto a recomendação que é feita para a Santa Sé, é mudar sua posição sobre a questão do aborto! É claro que, quando uma criança é morta não tem mais direitos! Então, essa me parece uma contradição real com os objetivos fundamentais da Convenção, que é o de proteger as crianças.

Esta Comissão não fez um bom serviço para as Nações Unidas, tentando introduzir e pedir à Santa Sé para mudar o seu ensinamento que não é negociável! Portanto,  é um pouco triste ver que o Comitê não compreendeu completamente a natureza e as funções da Santa Sé, que, embora tenha expressado claramente ao Comitê a sua decisão de levar adiante os requisitos da Convenção sobre os Direitos da Criança, mas definindo com precisão e protegendo em primeiro lugar  aqueles valores fundamentais que fazem a proteção real e eficaz da criança.

RepórterA ONU disse em um primeiro momento que o Vaticano havia respondido melhor que outros países sobre a proteção dos menores. O que mudou ?

Dom Tomasi – Na introdução do relatório conclusivo é reconhecida a clareza das respostas enviadas; não foi evitada nenhuma pergunta feita pela Comissão, com base na evidência disponível, e quando não havia uma informação imediata, foi  prometido fornecê-la no futuro, de acordo com as diretrizes da Santa Sé, e como fazem todos os governos. Então, parecia um diálogo construtivo, e eu penso que deva permanecer assim.

Portanto, dada a impressão obtida com o diálogo direto da Delegação da Santa Sé com a Comissão e o texto das conclusões e recomendações, vem a tentação em dizer que provavelmente o texto  já havia sido escrito e que não reflete os pontos e a clareza, mas sim adições precipitadas, do que já havia acontecido. Portanto, devemos, com serenidade e com base em evidências – porque não temos nada a esconder! –  levar adiante as explicações e posições da Santa Sé, responder às perguntas que ainda permanecem, de modo que o objetivo fundamental que se quer alcançar – a proteção das crianças – possa ser alcançado.

Se fala de 40 milhões de casos de abuso de crianças no mundo, mas, infelizmente, alguns desses casos – embora muitos pequenos em comparação com tudo o que está acontecendo no mundo – dizem respeito à pessoas da Igreja. E a Igreja respondeu, reagiu e continua a fazê-lo! Devemos insistir nesta política de transparência,  de não tolerância dos abusos, porque um só caso de abuso de uma criança, é algo muito sério!

RepórterPortanto, o que pode ter acontecido?

Dom Tomasi – Provavelmente as Organizações não-governamentais – que têm interesses sobre a homossexualidade, sobre o casamento gay e outras questões – tiveram certamente apresentaram suas observações e, de algum modo, reforçaram  uma linha ideológica.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

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