Professor de Religião indica o conhecimento da própria fé e da fé do outro para que haja compreensão e respeito recíproco
Jéssica Marçal
Da Redação
Na recente viagem ao Sri Lanka, Papa Francisco reiterou o respeito da Igreja católica por outras religiões, ao participar de um encontro inter-religioso no dia 13 de janeiro. A temática do respeito entre as várias crenças religiosas volta a ter destaque nesta quarta-feira, 21, quando se celebra o Dia Mundial das Religiões e, no Brasil, o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
Ao falar para vários líderes religiosos no Sri Lanka, Francisco destacou que ninguém precisa abandonar sua identidade étnica ou religiosa para viver em harmonia com seu irmão e, para que o diálogo seja eficaz, é importante que cada parte tenha suas convicções.
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O professor de religião da Faculdade Canção Nova, Denis Duarte, indica o mesmo caminho, ressaltando a necessidade de, em primeiro lugar, a pessoa conhecer muito bem a fé que professa. Segundo ele, os conflitos por questões religiosas – seja entre nações ou na vida cotidiana – se devem, em muitos casos, à falta desse conhecimento.
“Muitas vezes o fiel não conhece bem a sua própria denominação religiosa. Ele não tem identidade religiosa suficiente sequer para falar da sua própria religião”.
O segundo passo indicado por Denis é conhecer pelo menos o básico das outras religiões com as quais se tem contato. Essa é uma condição para que haja compreensão e respeito com relação à vida do outro.
“Para que eu possa respeitar a opção do outro e conviver bem com ele, entendendo que a religião, em ambos os casos, tem esse interesse: ligar o fiel a um plano sobrenatural para que este mundo natural se torne melhor”. Segundo explica o professor, a definição etimológica para a palavra “religião” é esta: ligar ou religar a pessoa que está no plano terrestre a um plano sobrenatural, ou celeste ou transcendente.
O homem e o transcendente
O homem tem várias dimensões na vida humana: a do trabalho, da cultura, do intelecto, social e várias outras que se manifestam ao mesmo tempo. Para a antropologia religiosa e as religiões em si, existe a dimensão religiosa, que também é uma necessidade humana.
O professor explica com uma comparação: assim como é preciso cuidar do corpo e da mente, para manter as dimensões física e psicológica, respectivamente, deve-se cuidar também da dimensão religiosa. Ele destaca ainda que as várias dimensões não agem sozinhas, mas estão interligadas.
“Preciso do meu intelecto para trabalhar, eu preciso do meu corpo para desenvolver o trabalho, então são dimensões que estão ligadas entre si. Assim entre elas está ligada também a dimensão religiosa. Daí se entende como uma necessidade humana que também precisa ser cultivada, porque se não vai faltar algo que pode prejudicar, inclusive, as outras dimensões vividas pelo homem”.
O caso dos ateus
Denis explica que o ateu não acredita na existência da divindade, da transcendência e tudo se resume ao plano natural, ao plano terrestre. Essa pessoa acredita viver bem neste mundo sem precisar cultivar uma dimensão religiosa porque ela nem acredita que existe essa dimensão.
“Ela não tem relação alguma com o transcendente, porque ela não acredita que exista e que seja necessária essa relação”, diz o professor fazendo a ressalva: “Para a antropologia religiosa e para as religiões, essa relação é necessária. (…) Uma coisa é aquilo em que o ateu crê e a maneira como ele vive. Outra coisa é o que as religiões e algumas áreas do conhecimento religioso acreditam e o modo como enxergam o ateu”.
O que une as religiões
Cristianismo, islamismo e judaísmo são as três grandes religiões monoteístas. Entre as maiores religiões mundiais, estão também o hinduísmo e o budismo. Embora diferentes em muitos aspectos, todas elas são chamadas de “religião”, o que já é uma característica comum, segundo o professor.
“Tem que existir algo entre elas para que eu consiga colocá-las todas em um mesmo ‘pacote’ e chamá-las de religiões”.
Denis explica que, partindo da definição de que religião é o ‘re-ligar’ ou ‘ligar’ uma pessoa do plano natural ao plano sobrenatural, é preciso que exista um caminho. E a religião é quem indica essa direção.
“Esse é o ponto comum entre as religiões. Pra que ela seja de fato chamada de religião ela tem que propor esse caminho”. Como exemplo, o professor cita o cristianismo, em que o caminho proposto é o próprio Jesus.