Igreja ganha 14 novos cardeais nesta quinta; espiritualidade e experiência pastoral são características essenciais, afirma Cardeal Majella
Júlia Beck
Da redação
O Colégio Cardinalício ganha 14 novos membros nesta quinta-feira, 28. Os cardeais são colaboradores diretos do Papa presentes no cinco continentes e podem ter cargos nos vários departamentos da Cúria Romana. Em caso de um Conclave, são eles que elegem (quando possuem menos de 80 anos de idade) o novo Sucessor de Pedro, podendo votar e ser votado.
Criado cardeal pelo Papa João Paulo II em 21 de fevereiro de 2001, o arcebispo emérito da arquidiocese de São Salvador da Bahia, Cardeal Geraldo Majella Agnelo, comenta as características essenciais de um cardeal: “Espiritualidade, experiência pastoral, capacidade de governo pastoral e administrativo, e especialmente uma relação paternal com os sacerdotes e seu rebanho”.
Sobre as expectativas dos fiéis, Dom Majella afirmou: “O que o povo espera de um bispo é que seja humano, simples, humilde, manso, amoroso com os que mais sofrem”.
Anunciada pelo Papa Francisco no Regina Coeli do dia 20 de maio, a cerimônia, que acontece hoje na Capela Papal da Basílica Vaticana, criará cardeais de diversos continentes, com membros da Europa, África, Oriente Médio, América do Sul, América Central e Ásia. “As nomeações de cardeais de diversas partes do mundo na composição do Colégio Cardinalício podem ajudar nos conhecimentos das diversas realidades, enriquecedoras das culturas e religiosidade do povo”, comentou Dom Majella.
Dom Geraldo explica que a nomeação de novos cardeais não segue critérios específicos. “O Colégio Cardinalício é composto de 120 membros eleitores, com até 80 anos de idade. Muitas vezes o Santo Padre nomeia cardeais com idade superior a 80 anos (sem direito a votos) pelos relevantes serviços prestados à Igreja”, explicou. Dos 14 cardeais que serão criados hoje, três deles têm idade superior aos 80 anos, são eles o arcebispo emérito de Xalapa, México, Dom Sérgio Obeso Rivera; o prelado emérito de Corocoro, Bolívia, Dom Toribio Ticona Porco e Padre Aquilino Bocos Merino, dos missionários claretianos.
Segundo o arcebispo emérito de Salvador, a preocupação do Papa no momento da nomeação é para com todas as dioceses do mundo. “Como Pai Espiritual e Sucessor de Pedro, ele quer demonstrar esse amor para cada Igreja Particular, escolhendo algumas para compor o Colégio Cardinalício”. Sobre os escolhidos, Dom Majella afirma que, sem dúvida, pesa sobre eles uma responsabilidade ainda maior junto à Igreja em todo o mundo.
Com a criação, os cardeais poderão ser designados para algumas funções nas diversas Congregações e comissões em Roma, além de receberem uma Igreja em Roma, onde serão bispos, porém sem uma função estabelecida. Entre os nomeados, Dom Luis Ladaria Ferrer, jesuíta espanhol, já ocupa, desde 2017, o cargo de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, enquanto outros dois, Dom Angelo De Donatis e Dom Giovanni Angelo Becciu já desempenham funções próximas ao Santo Padre, sendo o primeiro vigário do Papa para a Diocese de Roma e o segundo, substituto da Secretaria de Estado.
Sobre a cerimônia de criação dos novos cardeais, Dom Majella afirma estar mais simplificada. “O essencial é sempre o mesmo”, comenta. “No meu cardinalato teve a cerimonia litúrgica da entrega do solidéu e barrete, sem celebração eucarística, no sábado. No domingo a celebração Eucarística e entrega do anel cardinalício, sinal da aliança e fidelidade a Deus”, recordou.
Paramentados sempre com vestes de cor predominantemente vermelha, chamada púrpura, a cardinalícia serve para lembrar o sangue de Cristo e dos mártires derramado em favor da fé, explicou Dom Majella. “Significa também que o Cardeal está pronto para executar com força, de modo a dar o seu sangue para o aumento da fé cristã. A cor púrpura é símbolo do poder dos Cardeais no Vaticano”, completou.
Serão criados cardeais na cerimônia de hoje: Sua Beatitude Louis Raphaël I Sako (Patriarca da Babilônia dos Caldeus), Dom Luis Ladaria (Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé), Dom Angelo De Donatis (Vigário Geral de Roma), Dom Giovanni Angelo Becciu (Substituto para Assuntos Gerais da Secretaria de Estado e Delegado Especial da Soberana Ordem Militar de Malta), Dom Konrad Krajewski (Esmoleiro Apostólico), Dom Joseph Coutts (Arcebispo de Karachi – Paquistão), Dom António dos Santos Marto (Bispo Leiria-Fátima – Portugal), Dom Pedro Barreto (Arcebispo de Huancayo – Peru), Dom Desiré Tsarahazana (Arcebispo de Toamasina – Madagascar), Dom Giuseppe Petrocchi (Arcebispo de L’Aquila – Itália), e Dom Thomas Aquinas Manyo (Arcebispo de Osaka – Japão). Além deles, os três cardeais com mais de 80 anos já citados anteriormente.
Lembranças da criação
Parte de um total de 22 cardeais-arcebispos já existentes no Brasil, Dom Geraldo Majella, que é cardeal há 17 anos, recordou a época em que ele foi nomeado como tal. “Tive a graça de ser nomeado cardeal pelo Santo João Paulo II, com quem tive também a graça de trabalhar por oito anos e meio na Congregação para Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Foi um tempo muito rico para minha vida de bispo. Tive a oportunidade de ter contato com bispos do mundo inteiro. Pude conhecer as mais diversas realidades. Povo sofrido, mas cheio de fé, bispos preocupados com as dificuldades do seu povo”, fez memória.
O arcebispo emérito de Salvador recordou também os momentos vividos durante sua criação como cardeal. “Me lembro das cerimônias cheias de emoção na Praça São Pedro, os amigos que foram de perto e de longe, gente de várias partes do Brasil e da Itália. Meu retorno a Salvador, o aeroporto cheio do meu povo me recepcionando. São marcas de carinho e amor ao pastor que não se apaga do meu coração. Várias recepções feitas por várias entidades, celebrações, enfim, são marcas profundas que permanecem para sempre. Meu eterno carinho e devoção a São João Paulo II”.
Perfil episcopal dos cardeais da Igreja no Brasil
Atualmente, a Igreja no Brasil apresenta um total de dez cardeais, quatro eleitores e seis não eleitores no caso de um conclave (escolha do novo Papa). Entre os cardeais não eleitores está o Cardeal Cláudio Aury Affonso Hummes, arcebispo emérito de São Paulo (SP) e Prefeito Emérito da Congregação para o Clero da Cúria Romana, que foi criado cardeal em 2001 pelo Papa João Paulo II; Cardeal Eusébio Oscar Scheid, arcebispo emérito de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ), criado cardeal em 2003 também por São João Paulo II; Cardeal Geraldo Majella Agnelo; Cardeal José Freire Falcão, arcebispo emérito de Brasília (DF) e criado cardeal em 1988 pelo Papa João Paulo II; Cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida (SP) e criado cardeal em 2010 pelo Papa Bento XVI; e Cardeal Serafim Fernandes de Araujo, arcebispo emérito de Belo Horizonte (MG), criado cardeal em 1998 também por São João Paulo II.
São considerados eleitores o Cardeal João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília (DF) e Prefeito da Congregação dos Institutos de Vida Consagrada e Sociedade de Vida Apostólica, criado cardeal em 2012 pelo Papa Emérito Bento XVI; Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São paulo (SP), criado cardeal em 2007 também pelo Papa Emérito Bento XVI; Cardeal Orani João Tempesta, arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ), criado cardeal em 2017 pelo Papa Francisco; e Cardeal Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília (DF), criado cardeal em 2016 pelo Papa Francisco.
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