Salvador (BA)

Vitória da Encarnação: fase arquidiocesana de beatificação chega ao fim

Com o fim da fase arquidiocesana da causa de beatificação da Serva de Deus Vitória da Encarnação, processo seguirá para ser analisado no Vaticano

Da redação, com Arquidiocese de Salvador

Quadro da Madre Vitória da Encarnação /Foto: Sara Gomes – Arquidiocese de Salvador

A fase arquidiocesana da causa de beatificação da Serva de Deus Vitória da Encarnação chegará ao fim nesta quarta-feira, 25. O processo foi aberto em novembro de 2019 e retomado em abril deste ano. A apresentação da conclusão desta fase acontece, às 10h, no Convento do Desterro, em Salvador (BA). O local foi onde viveu e morreu a religiosa com fama de santidade.

A sessão solene será presidida pelo arcebispo de São Salvador da Bahia, Cardeal Sergio da Rocha, e pelo postulador da causa, frei Jociel Gomes, além de membros da Comissão Histórica e de fiéis que acompanham os relatos de graças e milagres alcançados por intercessão da Serva de Deus.

Ao ser concluída esta fase, o purpurado enviará para o Dicastério Vaticano para a causa dos Santos toda a documentação levantada a respeito da Madre Vitória da Encarnação, além dos testemunhos e dos relatos coletados e analisados pelo Tribunal constituído justamente com esta finalidade. Este Tribunal é formado pelo postulador da causa da Serva de Deus, frei Jociel Gomes; pelo delegado episcopal, cônego Alberto Montealegre; pelo promotor de Justiça, padre Laudimar Oliveira da Silva; pelo notário e pela notária adjunta, Dom Sebastião Rolim e Irmã Violeta, respectivamente.

Após a Sessão Solene que marcará a Arquidiocese de São Salvador da Bahia, Dom Sérgio presidirá uma Missa.

Cardeal Sergio da Rocha diante do quadro da Serva de Deus Vitória da Encarnação /Foto: Sara Gomes – Arquidiocese de Salvador

Caminho até o convento

Vitória da Encarnação nasceu em Salvador, em 6 de março de 1661, sendo batizada no mesmo ano na antiga Sé da Bahia. Filha de Bartolomeu Nabo Correia e Luísa Bixarxe, ela teve um irmão e três irmãs. Em 1677, quando foi fundado o Convento Santa Clara do Desterro, sendo o seu pai muito devoto, quis que sua filha entrasse para a vida religiosa. Porém, a menina, então com 16 anos de idade, havia se tornado avessa à religião, chegando a dizer ao seu pai que preferia que lhe cortassem à cabeça do que ser levada para o convento.

Passaram-se alguns anos e Vitória começou a ter frequentes sonhos com a Mãe de Deus e seu Divino Filho. Neles, a Virgem lhe apresentava o Menino e chamava-a para a vida consagrada. Em outros momentos, via o Menino Jesus a colher flores no caminho para o convento e a chamava para lá. Tais sonhos se repetiram inúmeras vezes, porém, Vitória não quis seguir o que a Virgem e o Menino pediam.

Numa noite do ano de 1686, quando Vitória estava com 25 anos de idade, teve um sonho, no qual se via nos porões sujos e cheios de lodo de uma grande embarcação que navegava em alto mar. Viu neste sonho que estava acompanhada de pessoas impiedosas, que caminhavam para a perdição, enquanto que na parte de cima da embarcação haviam muitos religiosos contentes, pois caminhavam para a salvação. Seu Anjo da Guarda então lhe explicava que os navegantes da parte superior eram os que faziam a vontade de Deus e estavam salvos, enquanto que os que estavam nos porões, assim como ela, eram os que caminhavam para a perdição.

Ao acordar deste sonho, pensou em sua vida e tomou a firme decisão de consagrar-se totalmente a Deus e passar a vida fazendo Sua vontade. Naquele mesmo ano, em 29 de setembro, dia de São Miguel Arcanjo, Vitória foi acolhida no noviciado das clarissas do Convento do Desterro da Bahia e, juntamente com ela, foi acolhida também a sua irmã, Maria da Conceição. Recebeu neste dia o nome religioso de Vitória da Encarnação. Conforme seu desejo, fez profissão solene em 21 de outubro de 1687. Mostrou-se grande em suas virtudes.

Santidade

Desapegada de tudo o que é mundano, quis fazer-se a menor de todas e aquela que servia a todas. Dotada de imensa caridade para com os mais desvalidos, desejou viver como uma escrava a adotou para si o estilo de vida das servas que viviam no mosteiro.

Fazia suas refeições sentada no chão, como era costume entre os escravos da época; corria para fazer os trabalhos que ninguém queria, e, por querer ser a menor de todas, foi diversas vezes ridicularizada e agredida pelas próprias escravas a quem ela tanto quis se fazer igual.

Cuidava daquelas que adoeciam, levando-as para sua própria cela e de lá só saiam quando completamente curadas. Viveu inteiramente dedicada aos pobres, doentes e desamparados que procuravam o mosteiro em busca de socorro.

Quando exercia o cargo de porteira, grande quantidade de pessoas dirigia-se à portaria para pedir-lhe algum auxílio. Atendeu a todos quantos podia, e, mesmo de dentro da clausura, recomendava aos parentes que cuidassem daqueles pobres e doentes de quem vinha a saber que estavam necessitados. Doou em vida tudo o que possuía aos pobres, inclusive a cama na qual dormia, passando então a dormir no chão sobre uma esteira de palha.

Transfiguração e morte

Dotada de dons místicos, se transfigurava quando fazia a via-sacra, todas as sextas-feiras do ano. Tinha tanto desejo de imitar ao Divino Esposo em seus sofrimentos, que se castigava com cilícios e disciplinas duríssimas, chegando a converter os pecadores que passavam pela via próxima ao convento e que ouviam o barulho daquelas chibatadas. Fazia rigorosos jejuns e, quando comia algo que lhe agradava o paladar, misturava cinzas à comida para estragar o sabor.

Madre Vitória faleceu numa sexta-feira, às 15 horas, em 19 de julho de 1715. No momento de sua morte, as religiosas disseram ter sentido uma maravilhosa fragrância de rosas a inundar as dependências do mosteiro. Ao se espalhar a notícia de sua morte, uma grande multidão se aglomerou diante do convento. Logo toda a cidade ficou a saber, pois diziam ter morrido a “santa da Bahia”. Muitos levavam lenços, medalhas, terços e outros objetos e pediam que as religiosas os tocassem no corpo da “santa”. Esses objetos eram guardados por essas pessoas e eram tidos como verdadeiras relíquias. Inúmeros foram os milagres narrados pelos devotos logo após a sua morte.

Sendo crescente o número desses supostos milagres, o então arcebispo da Bahia tratou de interrogar as religiosas do Desterro sobre a vida que teve a Madre Vitória. Em 1720, apenas cinco anos após a sua morte, Dom Sebastião Monteiro da Vide publicou, em Roma, a biografia da “santa da Bahia” com o título “História da Vida e Morte da Madre Sóror Victória da Encarnação”.

Os restos mortais da Madre Vitória da Encarnação encontram-se na Igreja do Convento Santa Clara do Desterro, em Salvador, e estão depositados acima de uma das portas que ligam o coro de baixo à nave do templo.

Abertura do processo

Em 7 de julho de 2019, a Congregação para a causa dos Santos emitiu o decreto “Nihil Obstat”, autorizando a abertura da causa de beatificação da Madre Vitória, que passou a ser chamada, a partir de então, de Serva de Deus Vitória da Encarnação.

Em 19 de novembro do mesmo ano, o então arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, presidiu a cerimônia de abertura do processo de beatificação e canonização da religiosa, apresentando as comissões que trabalhariam no processo, bem como o postulador da causa.

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