Cardeal Raymundo Damasceno presidiu a celebração; Isabel Cristina, jovem mineira assassinada aos 20 anos, foi inscrita no livro de beatos da Igreja
Jéssica Marçal
Da Redação
A Igreja ganhou neste sábado, 10, uma nova beata: Isabel Cristina Mrad Campos. A jovem mineira teve seu processo de beatificação aberto em 2001. Após 21 anos de análise, foi beatificada hoje em cerimônia presidida pelo arcebispo emérito de Aparecida (SP), Cardeal Raymundo Damasceno, no Parque de Exposições Senador Bias Fortes, em Barbacena (MG), local de nascimento da beata.
No início da celebração, o cardeal destacou que Isabel testemunhou sua fé por meio da resistência ao mal, por meio do martírio. O rito de beatificação aconteceu logo após o Ato Penitencial. Apresentada a trajetória de vida da jovem, o Cardeal Damasceno leu a carta com a qual o Papa Francisco insere Isabel Cristina no livro dos beatos. Foi revelada, então, a imagem da beata.
O irmão de Isabel, Paulo Roberto Mrad Campos, foi quem entrou com as relíquias da beata na celebração.
“Não tenhais medo”: o testemunho de Isabel
Na homilia, a ênfase do cardeal foi para as palavras de Jesus aos apóstolos no Evangelho lido na celebração: “Não tenhais medo”. No trecho, Jesus advertia os apóstolos para que não tivessem medo daqueles que pudessem matar o corpo, mas não a alma. Palavras que mostram o cuidado de Deus pelo ser humano. “Se nos declaramos a favor de Jesus, Ele se declara a nosso favor diante do Pai, por isso nada temos a temer”.
Segundo o Cardeal Damasceno, essa foi a atitude de Isabel Cristina durante seu brutal assassinato em 1º de setembro de 1982. A jovem, com sua coragem, não temeu aquele que poderia matar seu corpo, mas não sua alma. “Isabel não teve medo e se tornou mártir. Não morreu em vão”, pontuou o cardeal.
O arcebispo emérito de Aparecida disse ainda que são muitos os que, nos tempos atuais, não se deixam vencer pela força da morte. São pessoas que, no dia a dia, se desdobram para levar luz, consolo aos que sofrem e vida aos que morrem sem esperança.
Mensagem às famílias
As palavras de Jesus ressoam também nas famílias, onde se orienta para o bem, ressaltou o cardeal. Ele observou que, desde pequena, a nova beata aprendeu, em família, os valores do Evangelho, que fizeram com que sua morte se tornasse testemunho.
“Olhemos para a beata Isabel, jovem, estudante, tinha sonhos, tinha amigos, gostava de música, Deus não nos tira nada, ao contrário”, destacou.
O cardeal também pontuou a realidade do martírio, o testemunho que vai até a morte. “Todos os dias passamos pela grande tribulação, lavamos e alvejamos a nossa veste no sangue do cordeiro e somos convidados a darmos testemunhos da nossa fé nas mais variadas circunstâncias da vida”
O martírio de Isabel é um apelo também a Deus para que as mulheres sejam respeitadas em sua dignidade, que cessem a exploração e os crimes sexuais contra as mulheres, acrescentou o cardeal.
Palavras do arcebispo
Ao final da celebração, o arcebispo de Mariana (MG), Dom Airton José dos Santos, agradeceu a Dom Damasceno por acolher o convite de representar o Papa nesta celebração. Ele saudou também bispos, arcebispos, padres, religiosos e fiéis presentes e o arcebispo de Juiz de Fora, Dom Gil Antônio Moreia. Foi em Juiz de Fora que aconteceu o martírio da beata. “Caro irmão Dom Gil, entre nossas Igrejas particulares – Mariana e Juiz de Fora – existe agora um legame espiritual que jamais será rompido”.
O arcebispo também disse algumas palavras sobre a vida da beata, “jovem leiga que viveu seu Batismo, sua Crisma e seu encontro com Cristo na simplicidade e na certeza da fé”.
“Que a beata Isabel Cristina Mrad Campos, hoje declarada pela Igreja bem-aventurada, interceda por todos os fiéis leigos para que lá onde Deus os colocou sejam testemunhas convincentes do amor e da graça que Ele concede a todos que O buscam”.
Sobre a nova beata
Isabel Cristina Mrad Campos nasceu em 29 de julho de 1962 em Barbacena. Foi uma jovem mineira como tantas outras. Tinha uma vida de oração e sonhava ser pediatra para ajudar crianças carentes. Era sensível, sobretudo com os mais pobres, idosos e crianças, vindo de uma família que era vicentina.
Em 1982, Isabel mudou-se para Juiz de Fora para frequentar um curso pré-vestibular, pois queria fazer medicina. Em setembro do mesmo ano, aos 20 anos de idade, foi atacada por um homem que foi montar um guarda-roupa no apartamento para onde ela havia se mudado com seu irmão. O homem tentou violentá-la e, como ela resistiu, ele a matou a facadas, um crime cruel que teve grande repercussão.
O processo de beatificação de Isabel Cristina foi aberto em 26 de janeiro de 2001, pelo então arcebispo de Mariana, Dom Luciano Mendes de Almeida. A fase diocesana terminou em 2009, com o traslado dos restos mortais da Serva de Deus para o Santuário de Nossa Senhora da Piedade, onde se encontra até o momento.
Em 27 de outubro de 2020, o Papa Francisco reconheceu o martírio da jovem Isabel Cristina. Na época, devido à pandemia, não foi possível marcar a data da beatificação, que depois foi agendada para este 10 de dezembro de 2022.