Rosto da Ressurreição #06 — A Ressurreição pela educação

“Acredito em um mundo novo e isso só é possível se sonharmos juntos”, ressalta Davi, personagem de hoje da série Rosto da Ressurreição

Ronnaldh Oliveira,
Da redação

O advogado e pesquisador Davi Dias Arantes / Foto: Arquivo Pessoal

No penúltimo dia do quadro “Rosto da Ressurreição”, trazemos a história de um jovem de 22 anos. Davi Dias Arantes é estudante do último semestre de Direito e há pouco tempo recebeu a notícia que foi aprovado no Exame da Ordem. Natural de São José dos Campos, embora resida e trabalhe em Lorena, cidades que ficam no Vale do Paraíba, estado de São Paulo. É pesquisador e atua nas áreas sobre desigualdades sociais e sofrimento psíquico. Além disso, também trabalha como educador social. Destaca-se por prestar voluntariado no projeto Marie Curie Vestibulares, preparando jovens e adultos com vulnerabilidades para o mundo universitário.

Ligado ao social, o jovem desenvolve grupos de diálogos em diversas escolas municipais e estaduais da cidade, mas é na universidade que contribui na formação de diversas pessoas que, ao longo do itinerário formativo, dão-se conta que por meio da educação podem ter uma vida mais digna. Serem mais sujeitos de direitos e deveres na sociedade em que habitam.

Arantes em seu trabalho vocacional com pré-vestibulandos / Foto: Arquivo Pessoal

As motivações

“Todos eles possuem uma grande potência dentro de si. Há uma imensidão de dons e talentos que podem ser desenvolvidos se bem cultivados. No meu serviço, ainda que sinta ser um trabalho de formiguinha, busco levar a diferença. Se em uma aula eu fizer um aluno pensar criticamente sobre sua vida, sua realidade e pensar em perspectivas de um futuro melhor, isso já fez valer a pena todo o trabalho. Acredito em um mundo novo e isso só é possível se sonharmos juntos”, ressalta Davi.

Os desafios

Arantes aponta que são dois os maiores desafios encontrados: “O primeiro é sem sombra de dúvidas, criar conexão, integrar-se de forma sincera na realidade desses jovens, falar a língua deles. Vencendo essa realidade, nos deparamos com o segundo: a partir da realidade deles, perceber algum sentido em continuar estudando, trabalhando, buscar algo, pensar seu futuro. Ajudá-los a não desistir dos seus sonhos. As dificuldades são imensas, as vulnerabilidades inerentes, mas a vontade de vencer pela dignidade precisa ser maior”, afirma.

O advogado e pesquisador sabe que sozinho não vai muito longe. “Fazemos tudo em equipe. Sabemos que há uma comunidade que podemos contar. Tudo isso me sustenta e certamente é o que me ajuda a retirar as pedras do caminho”, analisa.

O jovem ressalta que nunca pensou em desistir da ação vocacional que realiza. “Muitas vezes a aula, a atividade que planejamos não sai como queríamos, os educandos agem de forma diferente da idealizada por nós mesmos, mas isso faz parte, não me desmotiva, pelo contrário, me faz perceber que o que faço é necessário e fazendo isso que me sinto bem”.

Arantes leciona filosofia e sociologia nos cursinhos para pré-vestibulandos. “Quando no final de uma aula vem algum aluno me fazer uma pergunta, dizer que esteve procurando sobre vestibular x ou y, isso é uma ressureição, é uma esperança que (re)nasceu naquela pessoa”, adverte.

O educador social acredita ainda que quando alguém enxerga sua realidade em determinada reflexão, quando alguém entende que pode ser agente da mudança de sua realidade, e que essa mudança se faz com solidariedade, isso é ressureição.

Um testemunho

“Uma aluna muita querida, que prefiro não identificar, me chamou depois de uma aula e contou um pouco sobre sua história. Mais velha que eu, ela havia passado parte da vida encarcerada em um presídio e decidiu voltar aos estudos e tentar ingressar em uma faculdade. Só por isso meu trabalho já possuiria importância ímpar, mas quando ela me agradeceu pelas aulas e me disse que eu a ajudava a pensar sobre a vida que tinha e a vida que tem, isso me marcou, meu serviço estava ajudando na libertação, em vários sentidos, de alguém. Não por mérito meu, mas aí está uma ressureição”, conta Arantes.

Davi afirma ainda que não acredita numa utopia idealista, mas numa utopia concreta. “Nosso dever é acreditar, é crer na utopia, que é aquilo que hoje não é possível, mas amanhã será, não nos deixemos vencer pelo desânimo, ainda há vida, e vida em abundância a germinar. Não desistir jamais e abraçar a educação como meio concreto de efetivação e mudança da sociedade. Isso é ressurreição”, finaliza.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo