Ações recentes da Igreja

Religiosa reforça importância do cuidado e carinho com os idosos

Irmã Lúcia Rodrigues, coordenadora geral da Pastoral da Pessoa Idosa, comenta as recentes iniciativas da Igreja em prol dos idosos 

Thiago Coutinho
Da redação

Dia Mundial dos Avós e dos Idosos será celebrado no quarto domingo de julho / Foto: congerdesign por Pixabay

Em janeiro, o Papa Francisco anunciou que a Igreja celebrará uma data especial dedicada aos idosos: o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos. A celebração será a partir deste ano no quarto domingo de julho. A data é próxima à memória litúrgica dos Santos Joaquim e Ana, avós de Jesus Cristo.

Em um ano em que uma pandemia deixou o mundo de joelhos e tornou os idosos as maiores vítimas, a data instituída pelo Santo Padre não poderia ganhar menos destaque.

“No Brasil, o Dia dos Avós é comemorado há muito tempo no dia 26 de julho, festa de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus. A novidade agora é que o Papa Francisco instituiu a Jornada Mundial dos Avós e dos Idosos a ser comemorada sempre no 4º domingo de julho, data esta que será sempre próxima ao dia 26, portanto, dia dos avós de Jesus”, explica a Irmã Lúcia Rodrigues, coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa.

A Igreja e o cuidado com os idosos

A Pastoral do Idoso é relativamente nova no Brasil — foi criada em 2004. E neste tempo de pandemia, a Igreja tem reforçado junto aos fiéis a importância do carinho e solidariedade com aqueles que um dia cuidaram dos mais jovens.

Além desse trabalho pastoral e da data instituída pelo Papa, a Igreja teve recentemente outro ponto de atenção voltado aos idosos. A Pontifícia Academia para a Vida recentemente divulgou o documento “A velhice: o nosso futuro. A condição dos idosos depois da pandemia” . O texto propõe uma reflexão acerca do zelo para com essas pessoas, especialmente neste tempo.

“O documento trata de forma muito particular a questão da institucionalização das pessoas idosas. Ao abordar o assunto da pandemia pela Covid-19, lamenta que a grande maioria das mortes de pessoas idosas ocorreram dentro das ILPIs — as Instituições de Longa Permanência para Idosos, mais conhecidos aqui no Brasil como asilos. Neste sentido, o documento insiste em dizer que o ambiente mais propício para as pessoas idosas é o ambiente familiar”, pondera Irmã Lúcia.

No Brasil, a institucionalização das pessoas idosas não é tão comum como na Europa, ressalta irmã Lúcia. A Europa é o continente em que as mortes dos idosos em Instituições de Longa Permanência foi muito mais sentida.

“Aqui no Brasil, por termos pouquíssimas pessoas idosas vivendo em ILPIs (menos de 1%), conforme apontou um estudo do IPEA em 2008, não foi percebida essa diferença de mortes das pessoas idosas, pela covid-19, se comparadas às que estavam nos seus ambientes familiares com as institucionalizadas. O documento citado propõe a cultura do cuidado das pessoas idosas nos seus ambientes familiares, considerando que ali estariam muito mais protegidas”, esclarece a Irmã.

Descaso com os idosos

Dados do Disque 100, serviço mantido pelo Governo Federal para denúncias anônimas de maus-tratos, apontam que houve 3 mil denúncias referentes a idosos em março de 2020. Em abril, este número subiu para 8 mil e, em maio, para quase 17 mil.

Mas por que essa violência exacerbada contra pessoas tão frágeis? Para Irmã Lúcia, existem algumas explicações. “As causas podem ser muitas. Vamos tentar apontar algumas: a supervalorização do belo, do perfeito, em se tratando do físico, do corpo. Assim, enquanto jovem, produtivo, forte, sadio, bonito, tem a aprovação e a admiração da sociedade. Mas quando começam a aparecer os sinais de declínio, deixa-se de lado a pessoa. É o que o Papa Francisco chama de cultura do descarte”, analisa.

Outro fator que aponta para este descaso contra o idoso é a desigualdade social. “Em muitas famílias a precariedade é tanta, que a pessoa idosa fica em segundo plano”, lamenta Irmã Lúcia. “Colocando na escala de prioridades, aluguel, água, luz, gás, comida… como dar conta de atender as necessidades básicas das pessoas idosas, mesmo que seja uma medicação indispensável? Por isso há que se ter um olhar misericordioso para com as famílias, especialmente essas que vivem em situação de miserabilidade”, clama a religiosa.

Para Irmã Lúcia, as razões para este desrespeito ao idoso são inúmeras. “O individualismo, o desrespeito, a desconsideração com a história de vida dos mais velhos, a falta de tempo para dar atenção. E a lista pode se estender muito”, assevera.

Trabalho voluntário

Há 16 anos, a Pastoral da Pessoa Idosa desenvolve um trabalho voluntário em que acompanha pessoas idosas por meio de trabalho voluntários . Conhecidos como Líderes comunitários, eles passam por um processo de capacitação para poder exercer este trabalho.

Esses voluntários realizam visitas em domicílio a pessoas idosas, especialmente aquelas que vivem sob situação de mais vulnerabilidade.

“A importância desse trabalho voluntário está na oportunidade de se criar um ambiente mais humanizado, mais solidário, mais acolhedor. A proposta é levar vida, dignidade e esperança. É a presença da Igreja junto às famílias, levando a ternura de Deus e os afetos da Igreja. A Pastoral da Pessoa Idosa responde seguramente ao apelo do Papa Francisco: ser uma Igreja em saída”, finaliza Irmã Lúcia.

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