Novo documento

Academia para a Vida reflete sobre os idosos no pós-pandemia

Documento da Pontifícia Academia para a Vida foi divulgado nesta terça-feira, 9

Da redação, com Vatican News

/ Foto: Daniel Mafra – Canção Nova

“A velhice: o nosso futuro. A condição dos idosos depois da pandemia.” Este é o título do documento da Pontifícia Academia para a Vida (PAV). O texto foi publicado, nesta terça-feira, 9, em consonância com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano.

O documento propõe uma reflexão sobre os ensinamentos a serem extraídos da pandemia da Covid-19. As consequências e o futuro pós crise sanitária foram apresentados pela Academia para a Vida.

Repensar o modelo de desenvolvimento

O Organismo chama a atenção para o fato de todos enfrentarem a pandemia, porém em desigualdade. “Estamos todos à mercê da mesma tempestade, mas num certo sentido, também se pode dizer que estamos remando em barcos diferentes”, pode-se ler no texto. “Os mais frágeis estão afundando todos os dias”.

É indispensável repensar o modelo de desenvolvimento de todo o planeta, afirma a Academia para a Vida.  O documento retoma a reflexão iniciada com a Nota de 30 de março de 2020 (Pandemia e Fraternidade Universal).

 A Nota de 22 de julho de 2020 (A Humana Communitas na Era da Pandemia) também foi lembrada. Assim como o documento conjunto com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Vacina para todos. Vinte itens para um mundo mais justo e saudável) de 28 de dezembro de 2020.

A intenção deste novo texto é propor o caminho da Igreja a um mundo transformado pela Covid-19. Além de impelir mulheres e homens na busca de sentido e esperança para suas vidas.

A Covid-19 e os idosos

Uma proporção considerável de mortes pela Covid-19 ocorreu nas instituições para idosos. Os lugares que deveriam proteger a “parte mais frágil da sociedade” foram os mais atingidos pela pandemia.

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“O que aconteceu durante a Covid-19 impede de descartar a questão com uma busca por bodes expiatórios, por culpados individuais. Por outro lado, é necessário que se levante um coro em defesa dos excelentes resultados daqueles que evitaram o contágio nos asilos. Precisamos de uma nova visão, de um novo paradigma que permita à sociedade cuidar dos idosos”, defende a Academia para a Vida.

Em 2050, dois bilhões de pessoas com mais de 60 anos

O documento da PAV evidencia que, do ponto de vista estatístico e sociológico, a expectativa de vida é mais longa. Esta grande transformação demográfica representa um desafio cultural, antropológico e econômico.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, em 2050, haverá dois bilhões de pessoas com mais de 60 anos no mundo.  Uma a cada cinco pessoas será idosa. “É essencial tornar nossas cidades lugares inclusivos e acolhedores para os idosos”, aponta o Organismo.

Ser idoso é um presente de Deus

Na  sociedade, prevalece muitas vezes a ideia da velhice como uma idade infeliz. Ela é entendida apenas como a idade da assistência, da necessidade e das despesas médicas, observa a Academia.

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“Ser idoso é um presente de Deus e um enorme recurso. É uma conquista a ser salvaguardada com cuidado, mesmo quando a doença se torna incapacitante e surge a necessidade de cuidados integrados e de alta qualidade. É inegável que a pandemia reforçou (…) a consciência de que a riqueza dos anos é um tesouro a ser valorizado e protegido”, ressalta o documento.

Um novo modelo para os vulneráveis

Quanto à assistência, a PAV indica um novo modelo para os mais frágeis. Uma intervenção articulada em diferentes níveis é o pedido da Academia para a Vida. “Sem cesuras traumáticas, não adequadas à fragilidade do envelhecimento”, especifica o documento.

O Organismo observa que “as casas de repouso devem se requalificar num contínuo sócio-sanitário. Ou seja, oferecer alguns de seus serviços diretamente nos domicílios dos idosos. (…) A assistência social e sanitária integrada e o cuidado domiciliar continuam sendo o pivô de um novo e moderno paradigma”.

Em substância, a PAV deseja uma rede mais ampla de solidariedade. “Não necessariamente e exclusivamente baseada em vínculos de sangue, mas articulada de acordo com as pertenças, amizades, sentimentos comuns, generosidade recíproca na resposta às necessidades dos outros”.

O encontro entre gerações

Quanto ao confronto com os jovens, o documento evoca um “encontro” para tornar a sociedade mais solidaria. Muitas vezes o Papa Francisco exortou os jovens a ficarem perto de seus avós, afirma a Academia.

“O homem que envelhece não se aproxima do fim, mas do mistério da eternidade. Para entender isto ele precisa se aproximar de Deus e viver na relação com Ele. Cuidar da espiritualidade dos idosos, de sua necessidade de intimidade com Cristo e de partilha da fé é uma tarefa de caridade na Igreja”.

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O documento deixa claro que somente graças aos idosos, os jovens podem redescobrir suas raízes. Também somente graças aos jovens que os idosos recuperam a capacidade de sonhar, defende a PAV.

A fragilidade como magistério

O testemunho que os idosos podem dar através de sua fragilidade também é precioso. “Ele pode ser lido como um magistério, um ensinamento de vida”, observa o Organismo. 

A Academia para a Vida esclarece que “a velhice também deve ser entendida como a idade propícia do abandono a Deus. À medida que o corpo enfraquece, a vitalidade psíquica, a memória e a mente diminuem. A dependência da pessoa humana de Deus parece cada vez mais evidente.”

A mudança cultural

Por fim, o documento manifesta um apelo. “Toda a sociedade civil, a Igreja e as diversas tradições religiosas, o mundo da cultura, da escola, do voluntariado, do espetáculo, da economia e das comunicações sociais devem sentir a responsabilidade de sugerir e apoiar medidas novas e incisivas, para que seja possível acompanhar e cuidar dos idosos em contextos familiares, em suas próprias casas e, em todo caso, em ambientes domésticos que mais se assemelham a uma casa do que a um hospital. Esta é uma mudança cultural a ser implementada.” 

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