No dia em que se comemora o Dia dos Avós, psicólogas falam sobre a sadia convivência entre gerações e qual é a melhor forma de educar as crianças para essa relação
Huanna Cruz
Da Redação
A escolha de 26 de julho para celebrar o Dia dos Avós está relacionada ao dia dos santos Ana e Joaquim, avós de Jesus. Como homenagem a eles, o Papa Paulo VI institui a data, ainda no século XX. Uma ocasião para celebrar aqueles que, dotados de grande experiência de vida, constituem fonte de sabedoria para toda a sociedade, como já disse em várias ocasiões o Papa Francisco.
Segundo a psicóloga Rafaela Rodrigues, a principal relevância entre as relações das gerações é o aprendizado, aquilo que contribui para a formação do intelecto de cada pessoa humana. Essa convivência entre as gerações produz em cada um a capacidade de ter mais flexibilidade, empatia e compreensão com a história, com a cultura, com a época, com toda a geração ali envolvida.
A também psicóloga Karina Maria da Luz avalia que cada geração é dotada de características e tendências próprias que auxiliam a distinguir uma da outra. É de conhecimento geral que a interação social com pessoas de diferentes gerações estimula o desenvolvimento de habilidades físicas, cognitivas e socioemocionais.
Para Karina, quando a Psicologia avalia o impacto dessa relação, destaca-se o desenvolvimento da tão falada empatia – capacidade de se colocar no lugar do outro.
Assim que nasce, o bebê é apresentado ao mundo e, aos poucos, aprende a identificar informações através de seus sentidos. Informações sobre seu ambiente e tudo que há nele; essa apresentação é sempre feita por alguém mais velho, que já possui uma bagagem de experiências que lhe possibilita ensinar (outra geração).
“O desafio em sermos humanos é convivermos com aquilo que somos e com aquilo que nos forma, ou seja, é impossível pensarmos em uma vida real sem convivermos com pessoas de diferentes realidades, idades, hábitos, vidas, situadas, cada uma delas, em tempo e espaço diferentes. Aprendizado social, histórias de vida, histórias familiares, contextos sociais, história transmitida através das experiências, vida social, são apenas algumas das coisas que vamos vivenciando ao longo do tempo”, afirma a psicóloga Elaine Ribeiro dos Santos.
Karina ressalta que aprender a observar o ambiente e identificar informações permite entender melhor os fatos e reagir menos impulsivamente a eles. Dessa forma, o ser humano começa a ser mais empático, julgar menos e auxiliar cada vez mais tudo e todos em seu espaço social.
Convivência dos netos com os avós
Nesse sentido, a psicóloga Karina ressalta como a convivência entre avós e netos, por exemplo, beneficia ambos os lados. “Para os avós, apontamos como uma segunda chance de paternidade e maternidade, corrigindo ou buscando fazer melhor, possuindo mais experiência e, quem sabe, até mais paciência e amor no cuidado e afeto.”
A psicóloga Elaine acrescenta que é importante destacar a relação de cumplicidade existente entre avós e netos, sendo uma das heranças mais bonitas existentes em uma família. “É no relacionamento com os avós que temos contato direto com nossa história e vamos reconhecendo em nós cada jeito de ser, formas de expor e até mesmo falar, costumes alimentares, hábitos de vida. Por isso, que possamos refletir sobre como é bom conviver com nossos idosos! Os avós trazem história, memória e experiências.”
Karina afirma que a maturidade presenteia as pessoas com a consciência de alguns detalhes inerentes à existência. Um desses detalhes muito importante é a finitude. Para um avô, poder passar seus conhecimentos sobre a vida para seus netos traz mais brilho e sentido em seu existir, criando um compromisso diferente com a finitude.
Benefício para os avós, mas também para as crianças. Segundo Karina, especialistas apontam que a convivência dos netos com seus avós propicia um desenvolvimento de melhor qualidade para a criança, especialmente por receber princípios e valores necessários para a construção de caráter. “A presença dos avós também tem a função de ampliar o grupo de apoio que ajudará seus netos no pleno desenvolvimento”, ressalta.
Testemunho de avós
Albérico Lopes de Santana Filho, 63 anos, de Cachoeira Paulista, tem cinco netos. “O primeiro é Giovani Sávio, ele tem 15 anos. Cuidei dele quando era pequenino, levando para passear e fazendo dormir no carrinho. O segundo é Rafael Francisco, ele tem 9 anos, levava ele para o parquinho para brincar. A terceira é a Ana Clara, a primeira neta da família, o nome dela fui eu que dei para os pais e eles aceitaram. O quarto é João Lucas, meu amigão especial; e a quinta neta é a Lúcia Maria, nossa caçula. Eu gosto de ensinar que o respeito precisa estar acima de tudo, e aprendo junto com eles também. Ser avô para mim é renovar a minha paternidade, é um dom de Deus.”
Elione da Silva Lira, 64 anos, de Gravatá (PE), têm duas netas, uma de 17 anos e outra de 10 anos. “Amo muito as minhas netas! O que eu posso fazer por elas, eu faço. Sou muito presente na vida delas. Eu busco ensinar a fé, a buscar a Igreja, a andar no caminho do bem. Ser avó é a coisa mais rica do mundo, ser avó é um presente de Deus, é amor em dobro. Eu amo ser avó!”
Maria Conceição Bemvides Zacaria, 63 anos, e Dorival Gabriel Zacaria, 69 anos, são de Curitiba (PR). “Nós temos três netos: Arthur de 8 anos, um anjinho que está do lado de Deus, e o Benício que vai chegar em dezembro. Temos uma convivência muito boa, apesar da distância, pois nós moramos em Curitiba e eles em Maringá, mas estamos sempre em contato, procuramos sempre estar presente na vida deles”.
“Aprendo com os meus netos que ser criança é o amor mais lindo que Deus pôs na terra, a inocência que nos passa, a inteligência deles, que é fora do comum; e eu ensino para eles é que o amor de Deus é a maior virtude que nós temos nesse mundo. Ser avó é o melhor presente de Deus que a gente recebe. Deus nos abençoa quando Ele nos dá os filhos, mas Ele nos completa com o presente de ser avó”, ressalta Maria Conceição.
Educar as crianças para o respeito com os mais velhos
Segundo a psicóloga Elaine, é importante que os pais possam observar qual sua postura frente aos idosos e como eles, antes das crianças, consideram os mais velhos, como tratam seus pais, por exemplo. Segundo ela, é a partir do seu relacionamento com os idosos que a criança também pode espelhar seus comportamentos.
“Ensinar o respeito aos mais velhos, é a base para vivenciar melhor e valorizá-los na educação dos filhos”, enfatiza Elaine.
Para a psicóloga Rafaela, a importância de educar as crianças para o respeito e consideração com os mais velhos é entender o que é o respeito com a sua própria história. A criança, ao ser gerada, ao ter a sua idade, ela precisa entender que veio de uma geração, da geração dos seus pais, da geração dos seus avós. “Então, quando a gente educa uma criança para considerar os mais velhos, a gente está educando ela a respeitar a sua própria raiz”.