No dia em que a Igreja celebra todos aqueles que alcançaram o céu, entenda como a relação de amizade com os santos pode trazer benefícios à vida espiritual
Gabriel Fontana
Da Redação
“Ser santo é refletir a graça de Deus em nós, vivendo na verdade do Evangelho, defendendo a justiça e anunciando a Divina Misericórdia”. Assim o padre Cleiton Evaristo, de Baependi (MG), terra da Beata Nhá Chica, define a santidade, comemorada de uma forma muito especial nesta quarta-feira, 1º de novembro.
Neste dia, a Igreja celebra a Solenidade de Todos os Santos, uma festa que comemora as pessoas que, durante suas vidas, se empenharam na busca pela santidade e obtiveram êxito. São celebrados tanto os santos que alcançaram a honra dos altares quanto aqueles “santos anônimos”, sendo todos eles modelo de vida para os cristãos.
Isso porque há uma vocação universal à santidade que é válida para todas as pessoas. Esse chamado foi expresso por Jesus quando declarou “sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (cf. Mt 5, 48).
“A Santa Igreja instituiu esta festa em devoção a Todos os Santos para chamar a todos os fiéis a seguir Jesus, buscando inspiração no exemplo desses santos. Somos chamados à santidade, pelo batismo todo fiel católico deve viver em santidade”, explica o sacerdote.
Origem da festa
Ele conta ainda que esta festa surgiu quando o Papa Bonifácio IV dedicou o templo pagão romano a Nossa Senhora dos Mártires no início do século VII, colocando ali inúmeras relíquias. Posteriormente, o Papa Gregório IV mudou a data da comemoração, inicialmente celebrada em 13 de maio, para o dia 1º de novembro, com o objetivo de melhor acolher a grande multidão de fiéis que peregrinava ao local (o mês de novembro era mais propício para oferecer alimentos para os peregrinos).
Atualmente, a Igreja no Brasil transfere esta solenidade para o domingo próximo para a maior participação dos fiéis. Neste ano, a data da celebração será o dia 5 de novembro. Contudo, independentemente da data, a Igreja preserva esta tradição que celebra também a comunhão dos santos e a ligação deles com os humanos que ainda estão na terra.
“Todos nós, que estamos na terra, quanto aqueles que já estão no céu, fazemos parte de um só corpo: o Corpo Místico de Cristo. Todos os santos, que já estão na glória de Deus, querem que nós também alcancemos a vitória e o bem supremo, que é a vida eterna na presença maravilhosa de Deus”, expressa o padre Cleiton.
A intercessão dos santos
Neste contexto, o sacerdote comenta que se pede a intercessão dos santos com a convicção de esta ser apenas uma passagem por este mundo, em direção à vida eterna. “Somos a Igreja peregrina, rumo ao Céu, recebendo de fato a oração daqueles que estão na Igreja Celeste”, pontua.
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A partir disso, os fiéis são exortados a estabelecer um vínculo cada vez mais íntimo, chegando inclusive à amizade, com os santos. “A oração dos santos aumenta nossa esperança em alcançar as alturas do Céu. Dessa forma buscamos mais as coisas do alto, as coisas eternas”, diz o padre Cleiton, recordando a Constituição Dogmática Lumen Gentium, proclamada no contexto do Concílio Vaticano II:
“Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós junto ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por seguinte, pela fraterna solicitude deles, a nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (49).
“Amigos do céu”
A jovem Bruna Marinho, moradora de Cachoeira Paulista (SP), há anos mantém o costume de recorrer frequentemente aos santos, seus “amigos no céu”. Contudo, essa presença não se limita apenas aos momentos de necessidades: o convite da devota de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Beata Nhá Chica é para que elas e os outros santos no céu caminhem com ela todos os dias.
“Meus santos de devoção me acompanham no cotidiano, mantendo viva a certeza do amor de Deus por mim”, partilha, indicando ainda que essa presença constante traz exemplos e ensinamentos aplicados às situações do dia a dia. “Tenho a confiança de que os santos, juntamente com Nossa Senhora, intercedem a Deus em meu favor”, afirma.
Bruna sublinha ainda que “os santos viveram à frente de seu tempo, sendo capazes de viver aquilo para o qual Deus os chamou com total dedicação”. Para ela, “olhá-los como inspiração é a escola que Deus nos permite frequentar para que, assim, também possamos ser santos! Com certeza, pegar os ensinamentos dos nossos santos de devoção e aplicá-los na vida nos ajuda a viver a santidade no dia a dia”.
Santos, exemplos de vida
O reitor do Santuário Frei Galvão, localizado em Guaratinguetá (SP), Frei Diego Melo, também destaca a importância dos santos enquanto exemplos para os homens. Responsável principalmente por difundir a devoção a Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, popularmente conhecido como Frei Galvão, ele reconhece a importância de seu trabalho justamente na relação que as pessoas desenvolvem com os santos, inclusive com o primeiro brasileiro canonizado.
“Os santos são intercessores nossos junto de Deus, e Frei Galvão também intercede pelo seu povo, uma mediação entre o fiel e Deus. Mas, para além disso, o santo é colocado como um modelo, um exemplo. Então, mais do que simplesmente pedir graças aos santos, nós olhamos para eles como referenciais, como modelos de vida, de santidade, de superação dos erros e dos próprios pecados”, cita o Frei Diego.
O franciscano relembra que, quando a Igreja canoniza alguém, é porque quer transformar aquela pessoa em um referencial. “Um modelo de santidade, de virtudes, de um bom ser humano, que viveu bem o seu batismo e, por isso, se destacou e alcançou a glória dos altares”, aponta o frei. Da mesma forma, são pessoas que, pelos méritos que obtiveram em vida, gozam da possibilidade de interceder junto a Deus pelos homens. “Lá do céu, nós pedimos a intercessão dos santos, mas olhamos para a vida deles aqui na terra e nos esforçamos para ser como eles foram”, pontua o reitor do santuário.