Anualmente, por ocasião do Natal, o secretário de Estado visita o hospital pediátrico vaticano para levar a bênção de Francisco aos pequenos pacientes
Da redação, com Vatican News
“Em sua opinião, tudo isso tem sentido?”, sussurra Concetta, uma mãe, com a máscara no rosto, ao aproximar-se do Cardeal Pietro Parolin. Nenhum pai o mãe jamais faria esta pergunta ao ver seu filho passar o Natal fora de casa, sem as luzes, o presépio e a ceia de Natal, mas ligado a um tubo em uma enfermaria.
“Por que minha filha sofre tanto?” disse também ao Cardeal a mãe de Sophie, acometida por uma doença neurológica rara, desde o nascimento. Não havia polêmica ou raiva na pergunta da mulher, vinda a Roma do sul da Itália, para cuidar de sua filha internada. A questão que ela levantava era apenas uma consequência da busca sincera de sentido à história da filha, que sofre há anos.
Diante de tantas questões como estas, o Cardeal Secretário de Estado responde, em voz baixa: “Não conseguimos entender a dor de um inocente, que não pode ser justificada pela razão. Estas coisas não acontecem por acaso. Tudo tem um sentido. Sabemos que há Alguém maior do que nós”.
Uma contribuição para a paz
O encontro que o Cardeal manteve com aquela jovem senhora foi um dos tantos momentos íntimos e espontâneos, durante a sua visita de quase três horas ao Hospital pediátrico “Menino Jesus” [Bambino Gesù, em tradução literal] . Assim, o Secretário de Estado levou, segundo uma antiga tradição, os votos de Natal do Papa aos pequenos pacientes, mas também aos médicos, enfermeiros e todos os funcionários, aos quais disse: “Vocês são colaboradores do Papa”. Com estas palavras, o Cardeal quis dar grande destaque ao trabalho que fazem pelas crianças internadas, que não acaba dentro dos muros do hospital, mas é uma contribuição, pequena, mas concreta, para a construção da paz global.
“Hoje todos nós estamos preocupados pelo que está acontecendo no mundo. Não vemos perspectivas para acabar com a guerra na Ucrânia, que dura quase um ano, mas também para tantos outros conflitos no mundo. A situação é insustentável”, disse Parolin.
Aqui, alguém poderia perguntar: “O que eu posso fazer para mudar esta situação?” E o Cardeal afirma: “Acho que podemos fazer o nosso dever, com fidelidade e generosidade. Somente assim cada um de nós poderá dar a sua pequena, mas importante contribuição, para a construção de um mundo melhor”.
Visita às crianças internadas
O Cardeal Secretário de Estado constatou, na prática, que esta “pequena, mas grande contribuição”, é dada com tanta dedicação, durante a visita, que fez ao Setor de Doenças Metabólicas. O Cardeal Pietro Parolin estava acompanhado pela Presidente do Hospital, Mariella Enoc, o diretor médico, Massimiliano Raponi, e o chefe de Sala, professor Carlo Dionisi Vici.
Passando pelos quartos, iluminados com enfeites de Natal e um presépio de madeira no corredor, o Cardeal Parolin encontrou algumas pequenas pacientes: Cecilia, Sofien, Dariana Victoria, Yassmin e Sophie, sobre a qual falamos acima.
A mãe de uma das pequenas pacientes, Concetta, assim se expressou: “Dizem que essas crianças são como Jesus, que sofre na cruz. Não sei se é verdade, mas isso me consola…”, diz a jovem mulher, explicando que, após o Natal, no dia 28, vai se unir a outro filho, de 11 anos, e ao seu marido, que também precisa de cuidados especializados. Por isso, pergunta: “O que fazer, nestes casos, rezar”? E o Cardeal Parolin responde: “Sim! Devemos confiar no Senhor”. Depois de passar o tempo todo com a mão no ombro da criança adormecida, O Cardeal colocou, ao lado do seu travesseiro, um cartão de Natal, dizendo: “Este é do Papa”.
“Velhas amizades”
Continuando a sua visita, o Cardeal deteve-se diante de outra cama, onde estava Yassmin, com sua mãe, vestida de xador, que vinham de longe. A menina, nascida na Itália, ficou doente nos primeiros dias de vida. Correndo o risco de vida, foi submetida à diálise. Após um ano e 3 meses, foi submetida a um transplante de fígado. Ela quase não consegue falar, mas faz terapias por toda semana. Por isso, ela considera o hospital como “um velho amigo”.
Outra sua velha conhecida é também Dariana Victoria, cuja história foi uma das mais comoventes da visitada do Cardeal Parolin: a menina, com menos de 5 anos, é acometida por uma doença degenerativa, a Síndrome de Pearson, além de sofrer de diabetes. Um travesseiro, em forma de unicórnio, oculta sua traqueotomia. Segundo os médicos, ela se alimenta por um tubo. Com seus pais e irmãos, Victoria veio da Venezuela para fazer um tratamento específico. “Venezuela!” exclamou Parolin, que conhece bem, pois ali foi Núncio Apostólico por alguns anos. E abrindo os braços, disse: “Os venezuelanos têm um grande coração…”.
Acompanhamento até em idade adulta
Estes breves encontros e trocas de ideias ajudam para demonstrar, aos pequenos pacientes e suas mães, a solidariedade do Papa, expressa pela visita do Cardeal Secretário de Estado. Muitas mães, ao lado do leito de seus filhos, já estão acostumadas, mas não resignadas: a mãe de Sofien, ítalo-marroquino, que entrou no hospital vaticano, pela primeira vez, logo após o nascimento. Agora, aos 14 anos, teve que ser internado de novo. Aos 18 anos, entrará par o “mundo da medicina adulta”, porém, para casos como o seu, não há estruturas apropriadas. Por isso, os médicos dizem: “Precisamos de medicina de transição, com sistemas públicos”.
Assistência 24 horas por dia
O trabalho no hospital do Vaticano é constante: tratamentos, medicamentos, dietas, transplantes, exames de recém-nascidos e assistência “24 horas por dia”, afirma chefe de Sala, Prof. Carlo Dionisi Vici: “Temos a possibilidade de intervir e mudar a história da doença, contando com a colaboração de estagiários de outros Institutos, porque trabalhamos dia e noite, domingos e feriados… Essas doenças são objeto de descompensações e desequilíbrios. Mas, nossa equipe médica está sempre de plantão”. O Cardeal Parolin aperta a mão de alguns deles e lhes pergunta sobre os seus turnos e suas experiências nas diversas repartições.
Curar, mas, sobretudo, cuidar
O doutor Carlo Dionisi Vici, explica ainda: “Algumas crianças não se recuperam completamente, mas ficam curadas”. O Cardeal repetiu esta frase, logo depois, aos conversar, em conexão “streaming”, com os médicos e os funcionários do hospital, que estavam no Pavilhão Salviati, nome da família que fundou o hospital “Menino Jesus”, confiando-o aos cuidados do Vaticano. De fato, disse-lhes: “É preciso fazer de tudo para cuidar bem dos pacientes, mas, sobretudo, curá-los, prestando-lhes contínua assistência”.
É o que fazem os médicos do hospital “Menino Jesus”, há mais de 150 anos, segundo a Presidente Mariella Enoc: “Este hospital é para crianças com doenças particulares. Precisamos conhecê-lo, não pelos seus números ou balanços, que são positivos, mas pela sua missão e humanidade com as crianças pacientes. Muitas vezes, preocupamo-nos com necessidades, que parecem ser secundárias, porém, mudam a vida de uma família”.
Colaboradores do Papa
O Cardeal Pietro Parolin recordou: “Não se esqueçam que vocês são sempre colaboradores do Papa. Aqui, vocês praticam a caridade do Papa entre os enfermos, sobretudo, com os mais necessitados”. E o Cardeal pergunta: “Qual o sentido da dor das crianças, dos sofrimentos de um inocente?” E responde: “Esta é uma pergunta que a humanidade faz desde sempre, mas não somos capazes de dar uma resposta concreta… Este continua sendo um grande mistério da vida humana. Porém, o que podemos, é ficar ao lado dos que mais necessitam, cuidando deles, como fez o Bom Samaritano da parábola evangélica. Nesta missão, vocês devem se sentir verdadeiros colaboradores do Papa. E, visto que também há Alguém acima do Papa, então vocês são colaboradores do Senhor, ao cuidar e assistir aos mais necessitados”.
Uma fama universal
Ao término da sua visita ao hospital do Vaticano, o Cardeal Secretário de Estado expressou seu profundo agradecimento a todos os funcionários, pelo seu excelente trabalho que prestam, cuja fama ultrapassou as fronteiras de Roma: “O Hospital “Bambino Gesù” (“Menino Jesus”) é realmente universal. Posso confirmar isso porque, durante minhas viagens pelo mundo, até aos lugares mais remotos, ouço sempre alguma referência a esta instituição, em relação às pessoas que trabalham aqui, por levarem a sério a sua missão, dando o melhor de si”.