ORIENTE MÉDIO

Para Parolin, intervenção do Ocidente na Ucrânia é 'assustadora'

O cardeal compartilhou preocupações sobre a escalada do conflito na Europa e no Oriente Médio, em que ‘o único caminho a seguir é por meio de um cessar-fogo’

Cardeal Pietro Parolin / Foto: Matteo Minnella A3 Contrasto via Reuters

Da redação, com Vatican News

Temor pelo surgimento de cenários preocupantes no coração do Velho Continente: foi o que o cardeal secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, expressou aos jornalistas à margem da cerimônia de premiação, na tarde desta terça-feira, 27, no Instituto Maria Bambina, em Roma, do concurso “Economia e sociedade” promovido pela Fundação Centesimus Annus — pro Pontifice.

Escalada na Ucrânia é assustadora

Embora uma intervenção militar direta do Ocidente na Ucrânia esteja sendo cogitada, o cardeal diz que tal coisa “é assustadora” porque “provocaria aquela escalada que sempre tentamos evitar desde o início. É de fato, não direi apocalíptico porque talvez seja uma palavra exagerada neste momento, mas certamente é temível, temível”. Perguntado por um repórter sobre como tal proposta (a apresentada pela França) poderia ser justificada, Parolin diz que ela provavelmente decorre do fato de que “há dois anos essa guerra vem acontecendo sem nenhuma perspectiva de solução, nem de solução militar, porque no terreno as forças permanecem mais ou menos nas mesmas posições e não há perspectiva de uma solução negociada”. Ele acrescenta que “o ideal seria realmente encontrar uma maneira de os dois lados conversarem, dialogarem. Acredito que, se você conversar, encontrará uma solução. Vários tipos de soluções foram propostos”, observa, “o importante é que haja vontade de realizá-las”.

Oriente Médio, o único caminho é um cessar-fogo

Com relação ao conflito israelense-palestino, o secretário de Estado confirma que não houve avanços nos contatos diplomáticos com Israel. “Tomamos nota do que o embaixador disse”, admite, enfatizando que “o que gostaríamos é que um diálogo pudesse ser iniciado além das polêmicas que, talvez, de certa forma, também sejam justificadas pela paixão que essa guerra gerou em ambos os lados. Obviamente, nessas questões, precisamos pensar com um pouco mais de calma, com a cabeça fria”, argumenta. O que nos interessa é que se encontre um caminho para a libertação dos reféns, em primeiro lugar, para a assistência humanitária, que continua sendo muito pesada. Portanto, o único caminho é o de um cessar-fogo”, reafirma.

Apelo à fraternidade

De fato, foi no apelo à fraternidade que o cardeal Parolin se concentrou em seu discurso após a cerimônia de premiação da obra do professor chileno Montero Orphanopoulos, Vulnerabilidad. Hacia una ética más humana. “A consciência de nossa vulnerabilidade nos abre à experiência da alteridade”, disse Parolin, “que nos dispõe ao dom da fraternidade e ao encontro com Deus. Ao nos aproximarmos de nossos irmãos, nós nos redescobrimos, redescobrimos nossa humanidade mais autêntica”. Também citou, no início de seu discurso, o que está escrito no Antigo Testamento sobre o que é uma das principais tarefas do rei de Israel: defender os direitos dos mais vulneráveis na sociedade, como o pobre, o órfão, a viúva e o estrangeiro.

Necessidade de uma cultura do cuidado

“A vulnerabilidade não é apenas um limite ontológico”, destacou ele, “mas também nossa abertura ao infinito, nossa necessidade de amor e salvação e nossa profunda necessidade de estar com os outros. Nesse sentido, a ética da vulnerabilidade valoriza a sensibilidade e a ternura, para alcançar uma verdadeira maturidade espiritual na qual até mesmo as misérias da alma são acolhidas com coragem e compaixão”. O que conta é confortar os marginalizados, diz o cardeal, ao mesmo tempo em que se tem consciência de nossa fragilidade e limitações. Hoje, no entanto, observa, que o “sistema tecnocrático, no qual os investimentos em tecnologia influenciam as escolhas políticas, favorece a eficiência e a cultura do descarte”. E se detém na busca do lucro a qualquer custo, que, em sua opinião, “está na raiz da especulação financeira, do comércio de armas, da poluição ambiental e, consequentemente, das injustiças sociais que levam à desigualdade e à marginalização”.

A Inteligência Artificial pode ampliar as desigualdades

“No mundo contemporâneo dominado pela tecnologia, estamos expostos ao risco de nos tornarmos consumidores inconscientemente apáticos e acríticos”. As possíveis influências da inteligência artificial na vida são outro aspecto das considerações de Parolin, que expressa uma preocupação: “a inteligência artificial poderia ampliar as desigualdades existentes, perpetuando vieses presentes nos dados atuais usados para treinar algoritmos. Isso poderia levar a decisões injustas ou discriminatórias em áreas como emprego, sistemas de financiamento, saúde, educação, justiça, imigração e relações internacionais”.

Reduzir a dívida dos países pobres

O auspício é mudar as estruturas econômicas “que ainda geram pobreza, exclusão e dependência”, favorecendo um tipo de solidariedade internacional capaz de erradicar uma das raízes mais profundas e antigas do imperialismo financeiro, o controle das dívidas dos Estados. A dívida deve ser investida em programas sociais, educacionais e de saúde. A visão é aquela compartilhada muitas vezes pelo Papa Francisco: ter a coragem de superar a lógica da exploração e criar novos modelos de desenvolvimento nos quais os pobres sejam parte integrante do tecido social.

A vulnerabilidade como oportunidade

O trabalho vencedor do concurso Economia e Sociedade se encaixa bem nesse quadro de considerações, oferecendo um paradigma para enfrentar os problemas morais em todo o mundo, como lembrou o cardeal Marx em seu discurso introdutório de laudatio. O cardeal alemão enfatizou precisamente a importância do tema da vulnerabilidade para o Papa Francisco, que insiste tanto em uma atitude de abertura para o mundo, de abertura para o outro. O trabalho de Orphanopoulos é descrito como notável e interdisciplinar, considerando o uso da ideia de vulnerabilidade na psicologia, sociologia, filosofia, bioética, estudos bíblicos e também no Magistério da Igreja pós-conciliar.

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